Um comentário despretensioso do conterrâneo Gilson Kumamoto,
nas redes sociais, se referindo ao Pastoril, me deu inspiração para escrever
sobre o Natal, mais especificamente sobre o Natal da Princesa das décadas de
1960/70. Naquele tempo, tudo girava em torno da Igreja. As festividades de
final de ano se confundiam com a Festa da Padroeira. Já em meados de dezembro a
Rua Grande se enchia de barracas (toscas conformações feitas com madeira e
palhas de coco) que funcionavam como bares onde eram servidas, além de bebidas,
as comidas típicas da região.
No entorno da Igreja Matriz, comandado pelo vigário e
organizado pelas associações religiosas, montava-se a quermesse onde aconteciam
os leilões que eram “chamados”, de cima de um palco, por Parajara Duarte, o
mesmo palco em que acontecia o Pastoril, quando se digladiavam os partidários
do cordão azul e do cordão encarnado. Também se instalava o que mais se parecia
com um parque de diversões com canoas e o juju de “seu” Manezim Cristóvão, além
do “jogo do mocó” patrocinado por frei Alberto.
Como tudo em Princesa era contido de política, o Pastoril - dança
realizada por moçoilas da sociedade em que desenvolviam jornadas com cantos
alusivos ao Natal -, tinha como torcedores do cordão Azul os partidários dos
“Pereira” e, o cordão Encarnado - sob o comando de João Mandú - era louvado
pelos “Diniz”. No Pastoril, os ramalhetes das pastorinhas eram oferecidos aos
ricos comerciantes que contribuíam com dinheiro para a Igreja. Já nos leilões,
a disputa era acirrada: quando algum dos nominandistas
oferecia um lance numa galinha assada, um pereirista cobria o valor, e vice-versa.
Era tudo muito divertido, mas antes do profano, havia a festa
sacra. O novenário iniciava no dia 23, culminando com a coroação da Padroeira
no dia 31 de dezembro. No dia 1º de janeiro acontecia a Missa Solene e a
Procissão com a imagem de Nossa Senhora do Bom Conselho. Os homens de bens
carregavam o andor da Santa, no que eram acompanhados – em filas – pelas associações:
“Filhas de Maria”; “Franciscanos”; “Zeladoras do Sagrado Coração de Jesus”,
dentre outras. No novenário, cada noite tinha um patrocinador, sempre
representante das classes mais abastadas, o que proporcionava contribuições
avultadas para a Igreja. Era assim o Natal de antigamente.
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