quinta-feira, 10 de março de 2022

LER PARA CONHECER A NOSSA HISTÓRIA

HISTÓRIA DE TAVARES EM VERSOS E PROSAS

O livro de José Rodrigues de Almeida, vulgo “José Laurindo”, intitulado: HISTÓRIA DE TAVARES EM VERSOS E PROSAS é, na verdade, uma brochura. Contido de 102 páginas manuscritas e rico em ilustrações (também manuais) foi lançado em 28 de julho de 1983, impresso em oficina doméstica, o que resultou num trabalho tosco, porém organizado e rico em detalhes sobre a fundação do município de Tavares, trazendo ainda por cima, em seu bojo várias informações sobre história, festas regionais, religiosidade, política, lutas (como as da Guerra de Princesa, enfim sobre vários aspectos da vida socioeconômica do velho município de Princesa.

Semianalfabeto, o autor, em que pese às vezes apresentar uma escrita ininteligível, põe no papel – com impressionante capacidade narrativa – comentários fantásticos acerca da história de Tavares sem esquecer de colocar o leitor ao par do que acontecia à época descrita correlacionando tudo. Por se tratar de um iletrado, é inversamente proporcional à magistralidade da ideia posta no papel com o esforço em materializá-la. Tudo feito denotando prodigiosa memória, inteligência e conhecimento histórico.

A forma como ele escreve faz lembrar a grafia do português arcaico – do tempo de Camões. Alterna sua narrativa ora em prosa, ora em verso sem obedecer a nenhuma ordem cronológica ou métrica, porém, não foge ao tema tampouco à realidade dos fatos. Em se comparando com os escritos oficiais sobre a história da fundação da cidade de Tavares, tudo bate, tudo combina com a realidade. O livro é tosco, mas eivado de detalhes que enriquecem o texto com informações as mais diversas sobre o início da povoação que deu origem ao município de Tavares. Zé Laurindo fala sobre tudo. Sem obedecer a nenhuma metodologia, em sua grafia tosca, Laurindo põe no papel sua rica dissertação, um verdadeiro contributo à historiografia tavarense.

O tema principal da obra é a fundação de Tavares. Inicia contando a história em versos, o que reproduziremos, ipsis litteris, algumas estrofes em sua grafia original:

Tinha um grande Juazeiro

Aque aonde e a cidade

Quando o padre vinha

Por aque ele passava

Na sombra do Juazeiro

Era aonde discansava

 

Esse grande Juazeiro

Que era muito copado

Sireunia os vaqueiro

Que lutava com o gado

Ale discansava

Dibacho do seu folhado

 

Era o padre Tavares

Bem velhinho e cansado

No ceu carinho de roda

Por dois cavalo puchado

Discansava no Juazeiro

Que chegava aperiado

 

Nos versos acima, Zé Laurindo se refere ao padre Francisco Tavares Arcoverde, fundador da cidade de Tavares. Fala, no decorrer do livro, sobre a criação da feira-livre, da primeira missa e da construção da Capela que é hoje a Igreja Matriz da paróquia de São Miguel, e como e porque esse santo se tornou o protetor perpétuo daquela cidade; acrescentando que tudo ali foi criado em torno desse juazeiro. Mais adiante, Laurindo, numa demonstração de estar antenado com os acontecimentos políticos da época, discorre em detalhes sobre a Guerra de Princesa, sobre o assassinato do presidente João Pessoa e, vai mais adiante, quando escreve até sobre a escravatura, o fim do Império e a Proclamação da República e também sobre a instituição do Estado Novo por Getúlio Vargas em 1937.

 

Em termos de conhecimento, o escrito é um primor. Recomendo a obra aos interessados pela historiografia de Princesa, mas lamento não poder informá-los como adquiri-la. O exemplar que tenho às mãos me foi cedido por especial gentileza do sobrinho do autor, o empresário José Casusa de Almeida. Não tenho informações sobre as datas do nascimento nem do falecimento de José Rodrigues de Almeida, tampouco sobre detalhes de sua existência. Sei apenas se tratar de um matuto muito sabido que, com esse livro, muito contribuiu para o conhecimento da história da terra onde nasceu.







 

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