HISTÓRIA DE TAVARES EM
VERSOS E PROSAS
O livro de José Rodrigues de Almeida, vulgo “José Laurindo”,
intitulado: HISTÓRIA DE TAVARES EM VERSOS
E PROSAS é, na verdade, uma brochura. Contido de 102 páginas manuscritas e rico
em ilustrações (também manuais) foi lançado em 28 de julho de 1983, impresso em
oficina doméstica, o que resultou num trabalho tosco, porém organizado e rico
em detalhes sobre a fundação do município de Tavares, trazendo ainda por cima,
em seu bojo várias informações sobre história, festas regionais, religiosidade,
política, lutas (como as da Guerra de Princesa, enfim sobre vários aspectos da
vida socioeconômica do velho município de Princesa.
Semianalfabeto, o autor, em que pese às vezes apresentar uma
escrita ininteligível, põe no papel – com impressionante capacidade narrativa –
comentários fantásticos acerca da história de Tavares sem esquecer de colocar o
leitor ao par do que acontecia à época descrita correlacionando tudo. Por se
tratar de um iletrado, é inversamente proporcional à magistralidade da ideia
posta no papel com o esforço em materializá-la. Tudo feito denotando prodigiosa
memória, inteligência e conhecimento histórico.
A forma como ele escreve faz lembrar a grafia do português
arcaico – do tempo de Camões. Alterna sua narrativa ora em prosa, ora em verso
sem obedecer a nenhuma ordem cronológica ou métrica, porém, não foge ao tema
tampouco à realidade dos fatos. Em se comparando com os escritos oficiais sobre
a história da fundação da cidade de Tavares, tudo bate, tudo combina com a
realidade. O livro é tosco, mas eivado de detalhes que enriquecem o texto com
informações as mais diversas sobre o início da povoação que deu origem ao
município de Tavares. Zé Laurindo fala sobre tudo. Sem obedecer a nenhuma
metodologia, em sua grafia tosca, Laurindo põe no papel sua rica dissertação,
um verdadeiro contributo à historiografia tavarense.
O tema principal da obra é a fundação de Tavares. Inicia
contando a história em versos, o que reproduziremos, ipsis litteris, algumas estrofes em sua grafia original:
Tinha um
grande Juazeiro
Aque aonde e
a cidade
Quando o
padre vinha
Por aque ele
passava
Na sombra do
Juazeiro
Era aonde discansava
Esse grande
Juazeiro
Que era
muito copado
Sireunia os
vaqueiro
Que lutava
com o gado
Ale discansava
Dibacho do
seu folhado
Era o padre
Tavares
Bem velhinho
e cansado
No ceu
carinho de roda
Por dois
cavalo puchado
Discansava
no Juazeiro
Que chegava
aperiado
Nos versos acima, Zé
Laurindo se refere ao padre Francisco Tavares Arcoverde, fundador da cidade de
Tavares. Fala, no decorrer do livro, sobre a criação da feira-livre, da
primeira missa e da construção da Capela que é hoje a Igreja Matriz da paróquia
de São Miguel, e como e porque esse santo se tornou o protetor perpétuo daquela
cidade; acrescentando que tudo ali foi criado em torno desse juazeiro. Mais
adiante, Laurindo, numa demonstração de estar antenado com os acontecimentos
políticos da época, discorre em detalhes sobre a Guerra de Princesa, sobre o
assassinato do presidente João Pessoa e, vai mais adiante, quando escreve até
sobre a escravatura, o fim do Império e a Proclamação da República e também
sobre a instituição do Estado Novo por Getúlio Vargas em 1937.
Em termos de conhecimento,
o escrito é um primor. Recomendo a obra aos interessados pela historiografia de
Princesa, mas lamento não poder informá-los como adquiri-la. O exemplar que
tenho às mãos me foi cedido por especial gentileza do sobrinho do autor, o
empresário José Casusa de Almeida. Não tenho informações sobre as datas do
nascimento nem do falecimento de José Rodrigues de Almeida, tampouco sobre
detalhes de sua existência. Sei apenas se tratar de um matuto muito sabido que,
com esse livro, muito contribuiu para o conhecimento da história da terra onde
nasceu.
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