Ontem, a CPI da Pandemia ouviu o depoimento da médica
infectologista e epidemiologista, doutora Luana Araújo. Talvez tenham sido as
declarações mais sensatas já colhidas naquela Comissão Parlamentar de
Inquérito. A médica, convocada pela CPI para dar explicações sobre a sua
“desnomeação” para o cargo de Secretária Especial de Combate à Covid-19 (do Ministério
da Saúde), não soube explicar o motivo de sua preterição, informando apenas que
a notícia lhe foi dada com muito pesar, pelo ministro Marcelo Queiroga. O que
depreendemos disso, é que seu nome foi vetado pelo presidente da República por
questões ideológico-sanitárias. Ninguém mais o podia fazer, senão Bolsonaro.
Defensora da Ciência, Luana é ferrenhamente contrária ao tratamento precoce da
Covid-19. Motivo bastante para a quererem longe desse governo negacionista.
Poço de competência
Elogiada por quase todos os senadores que a inquiriram, Luana
Araújo, dona de um currículo invejável e de uma verve perfeita, deu uma aula de
conhecimento sobre o mal que assola o país. Diferente da médica e “cientista”,
Nise Yamaguchi (depoente do dia anterior que se mostrou completamente
despreparada para as funções a que se propõe), Luana Araújo deixou patente o
fato de que, competência não combina com o governo do capitão. Triste com o
veto de que foi vítima, a infectologista (única da equipe até então), informou
que já estava engajada em ações sobre vacinação, testagem e pesquisas sobre a
variante indiana do Coronavírus. Elogiou o ministro Queiroga, o que atesta que
sua “desnomeação” foi decidida à revelia deste. Isso atesta também, fragilidade
e falta de poder de decisão do titular da Pasta da Saúde que, sem autonomia e,
apegadíssimo ao cargo, não manda em nada. Porque não pede também o boné e vai-se
embora?
Colocações inteligentes
Em seu depoimento linheiro, tranquilo, verdadeiro e
civilizado, ao lado do pai advogado, a doutora Luana parametrizou as mortes por
Covid-19 no Brasil, com exemplos que são estarrecedores. Caracterizando os
óbitos como uma verdadeira hecatombe, a epidemiologista disse que, se fôssemos
parar para homenagear os mortos, com um minuto de silêncio para cada um deles,
gastaríamos 320 dias para tanto e que, para que morresse tanta gente num
desastre aéreo, seria necessário que 12 aviões lotados despencassem lá de cima,
nesse mesmo período de tempo em que dura a Pandemia. Por fim, numa tirada
inteligente, a preterida infectologista pontuou, sobre a polarização
Pandemia/Política, com a máxima: “De que
borda da terra plana a gente vai pular?”. Esses recados
bem dados, foram suficientes para entendermos toda a situação que envolveu o
defenestramento da competência em benefício do negacionismo.
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