sábado, 10 de julho de 2021

VIRA-LATISMO VERNACULAR

Já dizia o dramaturgo e escritor brasileiro, Nélson Rodrigues, que o brasileiro sofre de uma síndrome de inferioridade a que ele chamou de complexo de vira-latas. Isso se evidencia agora quando assistimos às sessões da CPI da Covid-19. Basta observarmos os termos usados pelos depoentes e senadores para constatar a nossa pequenez diante de modismos pedantes, criados por aqueles que se envergonham de ser brasileiros e se deleitam com esses neologismos estrangeirados.

São várias as substituições de termos em língua portuguesa por expressões em inglês, o que se faz, além de desnecessário e incompreensível, por demais pedante. Fala-se (como se todos os que assistem à televisão pudessem entender), em “lockdown”; “off label”; “complain”; “invoice”; “complaince”; “impeachment”; checklist”, dentre outros vários estrangeirismos, com a maior naturalidade. E, a maioria, mesmo sem compreender, se cala como se fora analfabetismo questionar isso.

Esse pedantismo besta, travestido de aculturação vernacular, nos envergonha a todos. Qual a necessidade disso? Porque não falarmos em português castiço? Em países verdadeiramente civilizados seria isso risível. Na França, por exemplo, existe uma lei que proíbe a exibição de letreiros públicos e de documentos oficiais que não sejam totalmente grafados na língua francesa. Lá, estrangeirismos no exercício da comunicação, é ilegal.

De nada adianta a desculpa de que os termos em inglês são mais sucintos, aglutinados, intraduzíveis ou menos extensos. No idioma alemão, por exemplo, existem várias palavras com uma infinidade de caracteres e, nem por isso, são substituídas por palavras estrangeiras mais breves. Em nenhum desses países a que nos referimos (Inglaterra, França, Alemanha, etc.), encontramos termos em português substituindo palavras de seus idiomas. Além da aculturação, com isso, nos deixamos colonizar de novo.

É claro que as línguas são vivas e passíveis de modificações por evolução natural.O português falado no Brasil diferencia um pouco do que é pronunciado em Portugal e tem palavras aqui que lá não existem. Isso, fruto do enriquecimento da nossa língua, graças à contribuição dos idiomas árabe, francês, inglês, etc., além do socorro dos dialetos africanos e das línguas indígenas, mas tudo isso foi aportuguesado, se transformando assim de fácil compreensão e com definição nos vários dicionários da língua portuguesa.

O que não podemos admitir é a adoção de termos em inglês (ou em qualquer outra língua), que a maioria dos mortais não saiba do que se trata e que, sob pena de se passar por analfabeto, essa maioria os adota sem entender seus significados e muito menos se fazer entender. O nosso vira-latismo se exacerba quando damos a impressão de termos vergonha de falar a nossa língua num exibicionismo ignaro e num amostramento ridículo e desnecessário. Vade-retro!

Glossário: lockdown = isolamento total

Off label = algo sem comprovação de validade

Complain = reclamação

Invoice = fatura

Complaince = conformidade

Impeachment = impedimento, afastamento

Checklist = lista de cheques

 



 

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