Já dizia o dramaturgo e escritor brasileiro, Nélson
Rodrigues, que o brasileiro sofre de uma síndrome de inferioridade a que ele
chamou de complexo de vira-latas. Isso se evidencia agora quando assistimos às
sessões da CPI da Covid-19. Basta observarmos os termos usados pelos depoentes
e senadores para constatar a nossa pequenez diante de modismos pedantes,
criados por aqueles que se envergonham de ser brasileiros e se deleitam com
esses neologismos estrangeirados.
São várias as substituições de termos em língua portuguesa
por expressões em inglês, o que se faz, além de desnecessário e incompreensível,
por demais pedante. Fala-se (como se todos os que assistem à televisão pudessem
entender), em “lockdown”; “off label”; “complain”; “invoice”; “complaince”;
“impeachment”; checklist”, dentre outros vários estrangeirismos, com a maior
naturalidade. E, a maioria, mesmo sem compreender, se cala como se fora
analfabetismo questionar isso.
Esse pedantismo besta, travestido de aculturação vernacular,
nos envergonha a todos. Qual a necessidade disso? Porque não falarmos em
português castiço? Em países verdadeiramente civilizados seria isso risível. Na
França, por exemplo, existe uma lei que proíbe a exibição de letreiros públicos
e de documentos oficiais que não sejam totalmente grafados na língua francesa.
Lá, estrangeirismos no exercício da comunicação, é ilegal.
De nada adianta a desculpa de que os termos em inglês são
mais sucintos, aglutinados, intraduzíveis ou menos extensos. No idioma alemão,
por exemplo, existem várias palavras com uma infinidade de caracteres e, nem
por isso, são substituídas por palavras estrangeiras mais breves. Em nenhum
desses países a que nos referimos (Inglaterra, França, Alemanha, etc.),
encontramos termos em português substituindo palavras de seus idiomas. Além da
aculturação, com isso, nos deixamos colonizar de novo.
É claro que as línguas são vivas e passíveis de modificações
por evolução natural.O português falado no Brasil diferencia um pouco do que é
pronunciado em Portugal e tem palavras aqui que lá não existem. Isso, fruto do
enriquecimento da nossa língua, graças à contribuição dos idiomas árabe,
francês, inglês, etc., além do socorro dos dialetos africanos e das línguas
indígenas, mas tudo isso foi aportuguesado, se transformando assim de fácil
compreensão e com definição nos vários dicionários da língua portuguesa.
O que não podemos admitir é a adoção de termos em inglês (ou
em qualquer outra língua), que a maioria dos mortais não saiba do que se trata
e que, sob pena de se passar por analfabeto, essa maioria os adota sem entender
seus significados e muito menos se fazer entender. O nosso vira-latismo se
exacerba quando damos a impressão de termos vergonha de falar a nossa língua
num exibicionismo ignaro e num amostramento ridículo e desnecessário.
Vade-retro!
Glossário: lockdown
= isolamento total
Off label = algo sem comprovação de validade
Complain = reclamação
Invoice = fatura
Complaince = conformidade
Impeachment = impedimento, afastamento
Checklist = lista de cheques
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