quinta-feira, 14 de outubro de 2021

LER PARA CONHECER A NOSSA HISTÓRIA

HISTÓRIAS DE CANGACEIROS E CORONÉIS

HONÓRIO DE MEDEIROS

 

Este livro, com 285 páginas, lançado pela Editora Sebo Vermelho – Natal/RN – 2015, de autoria do potiguar Honório de Medeiros, conta histórias sobre o Cangaço e sobre os principais coronéis do Nordeste. Como não poderia deixar de ser, em que pese a obra versar, principalmente, sobre fatos ocorridos no estado do Rio Grande do Norte, há referências a Princesa e ao coronel José Pereira Lima. A mais importante referência nesse campo, trata do ataque do bando de Lampião à cidade paraibana de Sousa.

 

Segundo Honório de Medeiros, o assalto a Sousa, ocorrido em 27 de julho de 1924, foi planejado por Chico Pereira, filho do coronel João Pereira, assassinado por cangaceiros. Usando sua amizade com um bodegueiro sousense chamado Chico Lopes, Chico Pereira começou a arquitetar a violenta empresa. Na página 90 do livro, encontramos:

 

“No Jacu, Chico Lopes detalhou todo o acontecido. A família do “Coronel” assassinado perguntou-lhe o que ia fazer, tendo Chico Lopes respondido que ia até Princesa conversar com Lampião. Chico Lopes tinha um irmão que fazia parte do bando de Lampião já há alguns anos. Acertado tudo com Chico Lopes e Chico Pereira, Lampião enviou dezessete homens para Nazarezinho, além de Antônio e Levino Ferreira, seus irmãos, Meia-Noite e Sabino Gore. A eles se uniu Chico Pereira e seus homens”.

 

É sabido por todos que Lampião tinha, como seu principal coito, a casa de Marcolino Florentino Diniz, o consagrado “Caboclo Marcolino” na música de Luiz Gonzaga. No povoado de Patos, pertencente a Princesa, mais exatamente na casa de Marcolino, o “Rei do Cangaço”, se homiziava com frequência. O contato de Chico Lopes com Lampião ocorreu no início do mês de julho de 1924, ocasião em que o cangaceiro se recuperava de grave ferimento sofrido num pé. Era na casa de Marcolino que Lampião recebia as frequentes visitas do médico princesense, doutor Severiano Diniz, para tratar do seu ferimento.  

 

Impossibilitado de participar do assalto à cidade de Sousa, Lampião mandou parte de seu bando, sob o comando de seus irmãos, Antônio e Levino (este último foi morto na ocasião do ataque à cidade paraibana) e ficou aguardando o desenrolar dos fatos em franca recuperação e se divertindo em jogos de baralho, festas dançantes e se refestelando com as finas iguarias proporcionadas por Marcolino, seu amigo e anfitrião.

 

No retorno dos cangaceiros, em que se constatou a baixa de cinco homens, Lampião exigiu sua parte no butim resultado dos roubos e saques na cidade invadida. Recuperado, seguiu perambulando pelos sertões, mas deixou, nas mãos de Marcolino, sob sua guarda, 40 contos de réis. Foi esse o pomo da discórdia de Lampião com o coronel José Pereira de Princesa que, se não com ele simpatizava, fazia vista grossa à sua amizade e conluio com o sobrinho-cunhado.

 

Mais tarde, de volta ao povoado de Patos, o cangaceiro pediu de volta o dinheiro ao amigo e coiteiro, Marcolino. Este – segundo depoimentos de muitos que com ele conviveram -, alegou que havia entregado o dinheiro para ser guardado pelo tio e cunhado, o coronel José Pereira de Princesa. Lampião mandou um mensageiro, em busca do coronel, para que mandasse a importância e este, surpreso com o pedido, respondeu que não tinha dinheiro algum e que, se Lampião fosse homem, fosse buscar o dinheiro em Princesa. Surgiu daí a querela que prosperou depois da entrevista concedida por Lampião, em março de 1926, em Juazeiro do padre Cícero. Depois disso, o coronel José Pereira passou a perseguir Lampião e proibir que este se escondesse em suas propriedades, chegando a se indispor, definitivamente, com o sobrinho Marcolino. Essa história tem várias versões, porém, a mais plausível é esta, pois, é verdade que a partir desse evento, nunca mais José Pereira, Lampião e Marcolino, foram os mesmos entre si.

 

Honório de Medeiros nasceu em Mossoró e ali sempre viveu. Formado em Ciências Jurídicas pela UFRN – Universidade Federal do Rio Grande do Norte, além de professor, exerceu vários cargos na administração pública, tanto municipal quanto estadual. Escreveu vários livros, alguns sobre o Cangaço e, outros, sobre tratados do Direito. Integra o Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte e o Instituto Cultural do Oeste Potiguar e é membro da Sociedade Brasileira de Estudos do Cangaço. Atualmente reside em Natal/RN.


 


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