HISTÓRIAS DE CANGACEIROS E CORONÉIS
HONÓRIO DE MEDEIROS
Este livro, com 285
páginas, lançado pela Editora Sebo Vermelho – Natal/RN – 2015, de autoria do
potiguar Honório de Medeiros, conta histórias sobre o Cangaço e sobre os
principais coronéis do Nordeste. Como não poderia deixar de ser, em que pese a
obra versar, principalmente, sobre fatos ocorridos no estado do Rio Grande do
Norte, há referências a Princesa e ao coronel José Pereira Lima. A mais
importante referência nesse campo, trata do ataque do bando de Lampião à cidade
paraibana de Sousa.
Segundo Honório de
Medeiros, o assalto a Sousa, ocorrido em 27 de julho de 1924, foi planejado por
Chico Pereira, filho do coronel João Pereira, assassinado por cangaceiros.
Usando sua amizade com um bodegueiro sousense chamado Chico Lopes, Chico
Pereira começou a arquitetar a violenta empresa. Na página 90 do livro,
encontramos:
“No Jacu, Chico Lopes detalhou todo o
acontecido. A família do “Coronel” assassinado perguntou-lhe o que ia fazer,
tendo Chico Lopes respondido que ia até Princesa conversar com Lampião. Chico
Lopes tinha um irmão que fazia parte do bando de Lampião já há alguns anos.
Acertado tudo com Chico Lopes e Chico Pereira, Lampião enviou dezessete homens
para Nazarezinho, além de Antônio e Levino Ferreira, seus irmãos, Meia-Noite e
Sabino Gore. A eles se uniu Chico Pereira e seus homens”.
É sabido por todos que
Lampião tinha, como seu principal coito, a casa de Marcolino Florentino Diniz,
o consagrado “Caboclo Marcolino” na música de Luiz Gonzaga. No povoado de
Patos, pertencente a Princesa, mais exatamente na casa de Marcolino, o “Rei do
Cangaço”, se homiziava com frequência. O contato de Chico Lopes com Lampião
ocorreu no início do mês de julho de 1924, ocasião em que o cangaceiro se
recuperava de grave ferimento sofrido num pé. Era na casa de Marcolino que
Lampião recebia as frequentes visitas do médico princesense, doutor Severiano
Diniz, para tratar do seu ferimento.
Impossibilitado de
participar do assalto à cidade de Sousa, Lampião mandou parte de seu bando, sob
o comando de seus irmãos, Antônio e Levino (este último foi morto na ocasião do
ataque à cidade paraibana) e ficou aguardando o desenrolar dos fatos em franca
recuperação e se divertindo em jogos de baralho, festas dançantes e se
refestelando com as finas iguarias proporcionadas por Marcolino, seu amigo e
anfitrião.
No retorno dos
cangaceiros, em que se constatou a baixa de cinco homens, Lampião exigiu sua
parte no butim resultado dos roubos e saques na cidade invadida. Recuperado,
seguiu perambulando pelos sertões, mas deixou, nas mãos de Marcolino, sob sua
guarda, 40 contos de réis. Foi esse o pomo da discórdia de Lampião com o coronel
José Pereira de Princesa que, se não com ele simpatizava, fazia vista grossa à
sua amizade e conluio com o sobrinho-cunhado.
Mais tarde, de volta
ao povoado de Patos, o cangaceiro pediu de volta o dinheiro ao amigo e
coiteiro, Marcolino. Este – segundo depoimentos de muitos que com ele
conviveram -, alegou que havia entregado o dinheiro para ser guardado pelo tio
e cunhado, o coronel José Pereira de Princesa. Lampião mandou um mensageiro, em
busca do coronel, para que mandasse a importância e este, surpreso com o
pedido, respondeu que não tinha dinheiro algum e que, se Lampião fosse homem,
fosse buscar o dinheiro em Princesa. Surgiu daí a querela que prosperou depois
da entrevista concedida por Lampião, em março de 1926, em Juazeiro do padre
Cícero. Depois disso, o coronel José Pereira passou a perseguir Lampião e
proibir que este se escondesse em suas propriedades, chegando a se indispor,
definitivamente, com o sobrinho Marcolino. Essa história tem várias versões,
porém, a mais plausível é esta, pois, é verdade que a partir desse evento,
nunca mais José Pereira, Lampião e Marcolino, foram os mesmos entre si.
Honório de Medeiros
nasceu em Mossoró e ali sempre viveu. Formado em Ciências Jurídicas pela UFRN –
Universidade Federal do Rio Grande do Norte, além de professor, exerceu vários
cargos na administração pública, tanto municipal quanto estadual. Escreveu
vários livros, alguns sobre o Cangaço e, outros, sobre tratados do Direito.
Integra o Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte e o Instituto
Cultural do Oeste Potiguar e é membro da Sociedade Brasileira de Estudos do Cangaço.
Atualmente reside em Natal/RN.
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