segunda-feira, 23 de maio de 2022

JOSÉ ANTAS DA COSTA

JOSÉ ANTAS DA COSTA, mais conhecido por Zé Costa, nasceu em Princesa, mais exatamente no Sítio “Escorregada”, às margens do riacho Gravatá em 11 de julho de 1904. Era filho de Joaquim Alves da Costa e de dona Ana Duarte. Seus pais eram agricultores e criadores de pequenos rebanhos de ovinos e caprinos e de algumas reses. Zé Costa somente veio a ser alfabetizado já adolescente. Casou-se com a professora Júlia Fernandes Costa, com quem adotou três filhas: Nelúzia; Luzimar e Sandra Valentina. Desde criança, demonstrou tendência para a música.

Ainda pequeno, ganhou de seu padrinho uma gaita de boca (realejo) que vivia a tocar incessantemente. Mais tarde, foi presenteado pelo pai com uma pequena sanfona. Já havia executado esse instrumento na Escola de Música do maestro Joaquim Leandro, existente na cidade e demonstrava grande facilidade em seu manuseio. Interessante observar que, desde cedo, Zé Costa se apresentava tocando não somente forrós ou baiões (músicas próprias para aquele instrumento), mas também, boleros, valsas, etc.

Conta-se que, quando da “Guerra de Princesa”, em 1930, o nosso biografado fez parte de uma das colunas dos chamados “Libertadores de Princesa”, participando ativamente das lutas ocorridas naquela rebelião. Logo depois da Guerra de 30, Zé Costa saiu de Princesa para se livrar das perseguições políticas dos novos mandantes e da polícia paraibana.

O Maestro

De volta à terra, depois de arrefecidos os ânimos e as agruras da Guerra, Zé Costa, que durante o exílio, residindo e estudando nas cidades de Cajazeiras; Patos; Sousa e Piancó, se tornou especialista em teoria e prática musical, profissionalizou-se, e se tornou um ás na execução do acordeom. Para melhor desempenho, adquiriu uma sanfona de última geração, o que de mais moderno existia. Com esse instrumento ele se destacou como um executor de primeiríssima qualidade, quando adotou a prática de tocar músicas eruditas, clássicas. Executava a Nona Sinfonia de Beethoven com maestria. Logo se tornou professor de música e ganhou o mundo. A essa altura, já havia se tornado Maestro e uma referência no dedilhar da sanfona.

Segundo o pesquisador, Laurindo Antônio de Medeiros Neto: “Seu retorno surpreendeu a todos não só pela agilidade e técnica como tocava choro, forró, baião, marchinhas, valsa, tangos, mas, também, por ter aprendido teoria (tocava por partituras), era professor, maestro regente de banda e tocava em rádios. Não cantava, era músico devoto apenas ao instrumento. Compositor de praticamente todo seu repertório. Tinha até carteira de músico profissional pelo Sindicato dos Músicos Profissionais do Ceará”. Ainda segundo informações do pesquisador acima consignado, o maestro Zé Costa chegou a se apresentar em grandes cidades, a exemplo do Rio de janeiro (ainda Capital Federal); Brasília e Fortaleza. Fez apresentações também na Rádio Globo do Rio de Janeiro e, nessas ocasiões fazia referências às suas origens princesenses.

“CANHOTO DA PARAÍBA” EM PARCERIA COM ZÉ COSTA: DOIS PRINCESENSES VIRTUOSES DA MÚSICA

O sanfoneiro erudito

Depois de passar por Fortaleza e pelo Rio de Janeiro, Zé Costa foi para São Paulo, e lá, ficou conhecido como o sanfoneiro nordestino que não tocava só forró, pois, como vimos antes, usava o acordeom como um instrumento eclético e não restrito às tradições nordestinas de música. Fez-se conhecido na capital paulista quando compôs e executou sua obra prima: Choro de Minha Terra. Era um acordeonista diferente, porque erudito.

Extraído do livro do escritor princesense Paulo Mariano: “Princesa, Antes e Depois de 30”, temos: “José Costa nasceu no sítio Escorregada, localizado no município de Princesa. Aprendeu música e dedicou-se ao acordeom. Bom músico, lia, escrevia partituras musicais e compunha. Foi professor de música nas cidades de Patos e Sousa, na Paraíba. Segundo seus admiradores, não foi sanfoneiro de forró; ele ficou entre a canção popular e a música erudita, ‘Choro de Minha Terra’ é a música de sua autoria mais conhecida”.

Zé Costa fez parcerias com os dois grandes músicos de Princesenses: Francisco Soares de Araújo, o “Canhoto da Paraíba”, e o saxofonista Manoel Marrocos. Ainda da lavra de Laurindo Antônio: “De nossa parte, registramos interessante a afirmação feita pelo violonista pernambucano, Henrique Annes, após uma memorável apresentação no Teatro Guarani (sic), na cidade de Triunfo/PE, em janeiro de 2013. Após o concerto, dirigi-me a ele parabenizando-o e informando que era princesense... ele interrompeu, e disse: ‘Princesa era a terra de Canhoto (sic), era muito famoso; mas pra ser justo é preciso dizer que o grande músico de Princesa não era o Chico, era o Zé Costa. Excelente acordeonista! Depois sim, Chico veio pra Recife, desenvolveu-se mais e fez muito sucesso! ’”.

Saudades de Princesa

Em 1968, para matar saudades, José Costa veio visitar sua terra natal. Muito amigo do artesão Joaquim Gomes, com quem sempre se comunicava, promoveu, na casa deste um sarau do qual participaram vários princesenses, dentre eles, Paulo Mariano; Manoel Tocador; Manoel Marrocos; Chico Costa e outros amantes da boa música. Retornou a São Paulo onde se converteu à fé protestante. Evangélico, passou a executar suas músicas somente nos cultos religiosos. Acometido do mal diabetes, com o agravamento da doença, veio a falecer, em 1976, aos 72 anos de idade, o nosso biografado, sanfoneiro princesense de grandioso talento, “músico de acordes e melodias modernas”, compositor de dezenas, há quem diga que até de centenas de músicas, compartilhadas com colegas.

Infelizmente, nunca se preocupou com questões de direitos autorais, queria mesmo era tocar e ver o povo dançar. Dada a situação de anônimo para a maioria dos princesenses, se reveste de grande importância este resgate histórico da vida profissional de um filho da terra, que bem representou Princesa através de sua virtuosa arte. Atendendo propositura do então vereador Rialtoan Araújo, a Câmara Municipal de Princesa aprovou um Projeto de Decreto Legislativo dando o nome à Praça e ao Passeio do entorno do “Açude Ibiapina”, de “Praça Sanfoneiro Zé Costa”. Em face de tudo o que representou para a cultura da nossa terra, está o nosso grande acordeonista José Antas da Costa a merecer ser inscrito na galeria dos princesenses ilustres.

·         Este trabalho teve a necessária e essencial colaboração do pesquisador princesense Laurindo Antônio de Medeiros Neto, através de trabalho de sua autoria sobre o nosso biografado.







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