De todas as
secreções produzidas pelo corpo humano, existe uma menos favorecida com relação
às demais: a catota. O muco nasal,
quando ressequido, serve de divertimento para todos. A expressão “limpar o
salão”, disseminada pelo mundo todo é um exercício comum a todas as classes
sociais. As outras secreções – primas-irmãs da catota - têm quase todas, formas
já consolidadas de serem higienizadas. A catota não! Senão vejamos: a remela
pode ser removida com um lenço, guardanapo ou até com os dedos, publicamente,
sem causar nenhum constrangimento a quem o faz; a cera dos ouvidos pode ser
removida, normalmente, com um simples cotonete; o suor se enxuga até com a
barra da camisa; a baba ou o cuspe, escorridos da boca, podem ser removidos ou
limpadados com as costas das mãos sem nenhum problema. As demais secreções,
algumas recônditas, não causam problemas por serem espontâneas, portanto,
previsíveis. Porém, a catota, não! Há um preconceito muito forte com a meleca,
pois, ridiculariza-se quem a remove publicamente. Quem não se lembra do técnico
da seleção de futebol da Alemanha, na Copa de 2018, na Rússia, removendo
catotas durante um jogo? Isso foi notícia e imagem solta para o mundo todo. O
problema é que não tem jeito. A danada da meleca existe e, quando ressequida, tem
de ser retirada mesmo é com os dedos. Até nisso ela é discriminada, pois,
inventaram tudo: cotonete para retirar a cera dos ouvidos; escova para a
limpeza dos dentes e da boca; lenços para remover remelas, limpar a boca e
enxugar o suor, porém, para a catota, restou o dedo. Uma das poucas vantagens
da catota é que ela é solidária, pois, quando removida, é sempre conduzida para
debaixo das cadeiras, dos bancos dos carros, das mesas, etc. E, quando ali aporta,
quase sempre se encontra com uma colega já ressequida pelo tempo. Tenho certeza
de que essa coincidência já foi por quase todos experimentada. Até no meio
infantil a catota causa problemas uma vez que as crianças, ao retirá-las, via
de regra, as conduzem à boca e, talvez por conta daquele salgado sabor, se
refestelam com a deliciosa meleca. Somente numa situação a catota foi elevada à
condição superior, foi quando compararam o ridículo bigodinho de Adolf Hitler a
uma catota, mesmo assim o sofrido muco nasal continua em baixa pelo fato de
ser, aquele bigode, pertencente ao monstro que tentou fazer uma limpeza macabra
no “salão” dos judeus quando decidiu exterminar toda aquela raça. Sofro pela
catota que, mesmo esquecida, jamais vai deixar de existir e, por conta da discriminação
sofrida, vai estar sempre fazendo vergonha a nós.
ESCRITO POR DOMINGOS SÁVIO MAXIMIANO ROBERTO EM 24 DE MAIO DE
2019.
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