ODE

sexta-feira, 26 de julho de 2019

PRINCESA NA HISTÓRIA



Cadáver  do presidente João Pessoa no balcão de uma farmácia no Recife.

     Hoje, completam-se 89 anos da morte do presidente João Pessoa Cavalcanti de Albuquerque. O assassinato do então governador da Paraíba ocorreu em Recife, no dia 26 de julho de 1930. Naquela ocasião, a Paraíba estava conflagrada numa guerra doméstica, provocada por motivos políticos, econômicos e de interesses vários, o que envolvia, diretamente, a cidade de Princesa. Na verdade, o conflito era: Paraíba X Princesa. Diante da recusa do coronel José Pereira Lima (dentre outros motivos) em apoiar a chapa formada pela Aliança Liberal que concorreria às eleições de 1º de março daquele ano de 1930, João Pessoa - com o pretexto de garantir as eleições -, mandou as topas da polícia paraibana ocupar a região polarizada por Princesa, começando por Teixeira. Ali, diante da resistência da família Dantas, houve tiroteio e prisões, o que indispôs, definitivamente, aquela família com o presidente João Pessoa. Mais adiante, se não por determinação do presidente, mas, com sua anuência, a mesma polícia invadiu o escritório de advocacia de João Duarte Dantas na capital do Estado, quando, expôs ao público, tanto sua correspondência como fotos íntimas, além de promover ataques àquele advogado e à sua família, através do órgão oficial de imprensa do Estado, “A União”. Diante dessa desfeita, João Dantas saiu da Paraíba, indo morar – como um refugiado -, em Olinda/PE. Em sua obrigatória saída não conseguiu levar consigo seus pertences porque saiu às pressas, mas levou no íntimo, incontido ódio pelo presidente João Pessoa. Este, enquanto os paraibanos se digladiavam em fratricida luta, resolveu, de forma afrontosa, viajar ao Recife sob o motivo de visitar um amigo que estava enfermo. O fez mesmo desaconselhado por seus principais auxiliares, sem nenhum aparato de segurança. Além da temeridade que seria sua presença na capital pernambucana – onde se encontravam “exilados” os paraibanos seus desafetos políticos -, mandou noticiar no jornal “A União” a sua ida àquela cidade. Sabedor, através da imprensa, da visita de seu inimigo ao território que escolhera para viver longe dele, João Dantas considerou tal atitude, uma afronta acintosa daquele a quem tanto odiava. Armou-se de um revólver e saiu à procura de João Pessoa, percorrendo toda a área central da capital pernambucana. Ao chegar à Rua “Direita”, avistou o veículo oficial do governo paraibano e deduziu que, por ali estava o presidente. Chegando à calçada da Confeitaria “Glória”, avistou o seu desafeto sentado a uma mesa na companhia de alguns amigos. Adentrou ao recinto e, antes que alguém suspeitasse de algum perigo iminente, postou-se diante do presidente da Paraíba e disse: “João Pessoa, eu sou João Dantas!”. Dito isto, deflagrou três disparos, quase à queima-roupa contra o seu alvo. Dois dos tiros atingiram João Pessoa que tombou morto naquele local. Dantas, na tentativa de fugir, foi alvejado - pelo motorista do presidente -, com um tiro de raspão na cabeça que lhe jogou ao chão. Desacordado, foi preso e conduzido à Casa de Detenção naquela capital. Morto João Pessoa, a notícia espalhou-se rápido, chegando a Princesa no início da noite daquele dia fatídico. Conhecedor da tragédia, o coronel José Pereira convocou, em sua casa, uma reunião com seus amigos, apoiadores e correligionários. Antes do início de sua fala, alguns amigos, entusiasmados diziam eufóricos: “João Pessoa morreu! Ganhamos a Guerra!”. Escutando isso, o coronel Zé Pereira disse: “Senhores, a Guerra acabou e, nós a perdemos.”. Naquele momento, poucos entenderam o que disse o coronel. Porém, Zé Pereira, intuitivo e muito inteligente, sabia que aquele fato seria o estopim da revolução que estava em gestação e que, com a sua eclosão, Princesa seria duramente castigada pela sua rebeldia. Foi o que aconteceu: Princesa foi ocupada pelo exército, o coronel fugiu e a cidade entrou em declínio por um longo tempo. Nesta data, temos apenas que relembrar a história, pois, não há nada a comemorar.


(ESCRITO POR DOMINGOS SÁVIO MAXIMIANO ROBERTO, EM 26 DE JULHO DE 2019).

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