ODE

quinta-feira, 10 de outubro de 2019

O HOTEL DE “DONA SINHÁ”





Dona Sebastiana Ferreira dos Santos, mais conhecida como dona “Sinhá”, casada com o rico comerciante e membro da Guarda Nacional, Capitão Severino Maximiano dos Santos, mãe de Carminha e avó de Armênio, Marlene e Luisinha, era uma mulher alta, branca é bonita. Ao ficar viúva em meados dos anos 30, instalou em Princesa aquela que foi a primeira hospedaria da cidade. Logo que começou a funcionar, aquele estabelecimento passou a ser conhecido como “Hotel de Dona Sinhá”. Outros locais que comercializavam alimentação existiam – a exemplo dos “hotéis” de Amália, Isabel (“Zabé”) e Safinfa -, porém, oferecer dormida somente a hospedaria de dona Sinhá. Ali passaram a se hospedar os figurões que vinham exercer funções de juízes, promotores ou delegados de polícia. Também se alojavam no novo hotel, correspondentes bancários, caixeiros-viajantes, soldados de polícia, dentre outros “estrangeiros”. A hospedaria abrigava também dois rapazes-velhos que tinham, por aluguel, quartos cativos naquele hotel, que eram: Neco Lima e João “Maciano” Maximiano.

A casa

A hospedaria estava instalada em duas casas geminadas. A principal era grande e espaçosa, composta de uma sala de frente; um longo e declivado “corredor”; uma sala de jantar, outra de copa e uma grande cozinha. Os banheiros, em número de dois, ficavam no fundo do quintal ao lado de uma grande cisterna. Os quartos eram três na casa principal, localizados ao lado do longo corredor (que serviam a dona Sinhá e a seus familiares) e outros quatro existiam na casa adjacente que possuía uma única sala. Os móveis eram modestos, porém, confortáveis. Na verdade, aquele estabelecimento de passagem, equivalia aos hotéis cinco estrelas de hoje. Ao adentrar ao hotel, o hóspede ou visitante, era tomado por forte cheiro de pimenta temperada o que funcionava como forte estimulante do apetite. A culinária era variada e saborosa. Dona Sinhá, em sua exacerbada vaidade, vivia sempre bem vestida, com o rosto adornado por maquilagem à base de pó de arroz, batom e compridos brincos de ouro. Era a própria dona do hotel quem confeccionava as comidas e, durante a labuta gastronômica, alternava as mexidas nas panelas e os abanos na lenha do fogão, com alguns goles de aguardente que a deixavam bastante animada. Nessa lide, contava dona Sinhá, com a ajuda diária de Maria de “Mané Tocador” que, enquanto esta labutava na cozinha do hotel, Mané tocava sua sanfona na Casa de Jogo do genro de dona Sinhá, Severino Barbosa, que ficava no final do beco do hotel. Além dos cuidados com a alimentação e a pousada de seus hóspedes, dona Sinhá provia também seu hotel de mimos como: jornais do Recife e licores de café e de hortelã que regavam as conversas noturnas. Um dos hóspedes mais ilustre daquela casa foi o doutor Archimedes Souto Maior que ali morou durante todo o período em que exerceu as funções de Juiz de Direito da Comarca de Princesa. O local era tão aprazível e respeitoso que até os frades Carmelitas frequentavam as noites daquela casa de hospedagem, onde se debatiam temas como: política, literatura, religião, dentre outros.

O fim

O “Hotel de Dona Sinhá” funcionou durante longos 40 anos. Com o tempo, os efeitos do consumo contumaz de bebida alcoólica tornou dona Sinhá quase paralítica. Nos últimos anos de sua vida, quase não conseguia andar (o que fazia como se estivesse “engomando”). Cansada pelo peso dos anos e com debilitada saúde, a velha desativou o hotel e viveu o resto de sua longa vida em cima de uma cama. Dona Sinhá faleceu, aos 97 anos de idade, no dia 07 de setembro de 1987.


(Escrito por Domingos Sávio Maximiano Roberto, em 10 de outubro de 2019).

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