ODE

quarta-feira, 13 de novembro de 2019

PERFIS DE PRINCESENSES ILUSTRES





CORONEL ZÉ PEREIRA


JOSÉ PEREIRA LIMA, mais conhecido como Coronel Zé Pereira, filho do também coronel Marcolino Pereira Lima e de dona Águida Maria de Andrade Lima, nasceu na então Vila de Princêza, em 04 de dezembro de 1884. Casou-se com uma sobrinha, dona Alexandrina Pereira Diniz (filha de sua irmã Maria Augusta de Andrade Pereira e do coronel Marçal Florentino Diniz) com quem teve dez filhos, porém, por motivos óbvios de consanguinidade, somente dois vingaram: Luiza e Aloysio. Exatamente hoje se completam setenta anos de seu falecimento (13/11/1949) e, no próximo mês de dezembro, 135 anos de seu nascimento. É sem dúvida, o Coronel Zé Pereira, o filho mais ilustre desta Terra, não somente pela revolução que causou quando de seu rompimento com o governo do Estado, mas, mais ainda pelas gestões que promoveu junto aos governantes com o intuito de organizar o desenvolvimento e fazer progredir o burgo princesense. Sobre sua infância e juventude, sabe-se muito pouco. Registros sobre esses períodos de sua vida são apenas pontuais. Quanto à sua personalidade é por todos sabido, que Zé Pereira era um homem pacato, educado, bem humorado e muito generoso. Malgrado ser considerado o coronel mais importante dos sertões nordestinos, segundo muitos dos que lhe conheceram, afirmam que não portava armas tampouco participou diretamente das lutas e escaramuças por ocasião da rebeldia de 30. Colhi somente uma voz dissonante quanto a isso que foi o grande amigo e admirador do Coronel José Pereira, o “sileiro” Joaquim Gomes que, além de realçar seu famoso sestro de que, quando preocupado não se furtava de coçar o nariz de forma constante e também que Zé Pereira nunca se apartava do uso de uma pistola mauzer, que levava à cinta. Com 08 anos de idade, o futuro Coronel foi matriculado na escola particular do professor José Luiz Figueiredo Lima, um dos pioneiros do ensino primário em Princesa. Em 1897, juntamente com seus irmãos, Manoel e Antônio, foi estudar no seminário e Colégio Diocesano da Parahyba, na capital do Estado, onde fez os cursos secundário e preparatório, o que concluiu em 1902. Dando continuidade aos estudos, em 1903 prestou vestibular na vetusta Faculdade de Direito do Recife no que foi aprovado, ingressando em seguida no curso de Ciências Jurídicas. Estudante aplicado investiu em sua carreira educacional até ter que interrompê-la para retornar a Princesa com a missão de substituir o pai, coronel Marcolino - no comando da política de Princesa -, que falecera em 1905. Mesmo não sendo o filho mais velho de Marcolino Pereira Lima, Zé Pereira tomou a frente e apresentou-se como o único dos herdeiros a interessar-se em dar continuidade à liderança paterna. Nesse intento, enfrentou resistências de alguns conterrâneos seus parentes, a exemplo do coronel Marçal Florentino Diniz (que viria a ser seu sogro); do major Florentino Rodrigues Diniz e do coronel Vicente Carneiro (pai do tribuno Alcides Vieira Carneiro). Diante disso, não esmoreceu. Partiu para a capital do Estado e lá se apresentou frente ao presidente, monsenhor Walfredo Leal, para comunicar seu intuito de substituir o pai na condução da política e da administração princesenses. Encontrou obstáculo por parte do governante, principalmente pelo fato de contar apenas 21 anos de idade. Persistiu em seu afã, conseguindo convencer às autoridades superiores de que tinha talhe, coragem e determinação para enfrentar aquela empreitada política e administrativa. Voltou a Princesa e começou a por em prática o seu jeito de governar. Apaziguou os ânimos de seus adversários e impôs-se como líder inconteste de todos os princesenses, o que perdurou por longos 25 anos.

O Líder

Instalado no poder, José Pereira Lima começou a articular-se junto aos seus pretensos adversários e, com a habilidade que lhe era peculiar quando no trato com as pessoas, conseguiu contornar as insatisfações e, aos poucos, foi-se consolidando como líder de todos. Para isso, usou das ferramentas do trabalho compartilhado e de sua capacidade de conciliar, pois, homem de visão que era, enxergava longe. Logo no começo de sua administração, entendeu que Princesa deveria ser diferenciada e começou a fazer gestões junto às autoridades estaduais - sem esquecer o setor privado -, para carrear recursos, obras e benefícios outros para sua comuna sertaneja. Em 1916, após a grande vitória eleitoral de Epitácio Pessoa na Paraíba, José Pereira Lima foi eleito deputado estadual, cargo que ocuparia por quatro legislaturas consecutivas, sendo interrompido, o último mandato, por motivos que veremos adiante. Viajava constantemente, tanto para a capital de seu Estado como para a capital pernambucana, onde encetou relacionamentos com pessoas importantes (a exemplo dos irmãos “Pessoa de Queiroz”) e que poderiam trazer algum benefício ao seu intento de desenvolver sua terra. Letrado que era, passou a frequentar as redações dos jornais, tanto na Parahyba como no Recife, tornando-se correspondente noticioso e, mais tarde, membro do corpo editorial de alguns jornais de seu Estado. Não perdia oportunidades de conseguir - através de sua capacidade buscativa -, benefícios para Princesa. Através de gestões do Coronel junto aos governantes paraibanos, Princesa foi emancipada do termo de Piancó transformando-se em cidade em 18 de novembro de 1921. Mesmo sem nunca haver sido prefeito da cidade foi Zé Pereira, o maior incentivador do seu crescimento e de sua urbanização quando orientava aos prefeitos por ele indicados para providenciarem melhoramentos como os que foram realizados ainda no início do século passado: calçamento da rua principal com pedras-rachão, construção de calçadas, arborização, etc. Incentivou a construção de prédios com estilos arquitetônicos inspirados nos que existiam nas capitais paraibana e pernambucana - com frontispícios esculpidos com ornamentos e encimados de pinhas e estátuas de porcelana, vindos de Portugal -, para abrigarem casas comerciais e residências das famílias mais importantes. Adquiriu, às suas expensas, em 1925 um motor (locomóvel) para gerar energia elétrica; nesse mesmo período granjeou para Princesa a instalação de agências de correspondentes bancários e agências revendedoras de automóveis. Em 1921, Zé Pereira trouxe para Princesa o sistema CW – FONIA, o que criou meios para a telegrafia na nova cidade. Amigo íntimo do então presidente da República, Epitácio Pessoa (1919/1922), que dizia ser o Coronel José Pereira: “O protótipo do devotamento e da lealdade”, conseguiu recursos para a abertura de estradas com o fito de interligar o município aos seus distritos e ao estado de Pernambuco, e para a construção de dois açudes no município de Princesa: Macapá (“Açude Novo”) e Cedro.

Agricultura, Educação e Cultura

Para o armazenamento da produção de grãos, em prevenção aos efeitos das constantes estiagens (secas), o Coronel conquistou do Governo do Estado, em 1924, a construção de um grande Silo em alvenaria, que ainda hoje existe em Princesa. Sem esquecer-se da educação, obteve junto ao então presidente do Estado da Paraíba, Solon Barbosa de Lucena - quando de sua visita a Princesa em setembro de 1923, ocasião em que foi aqui instalado, por cinco dias, o governo do Estado -, a autorização para a construção do Grupo Escolar “Gama e Melo” que foi inaugurado em 1926, já no governo do presidente e seu amigo João Suassuna. Além de tudo isso, deu prioridade à cultura do algodão que se transformou na mola mestra para o desenvolvimento da cidade e de toda a região do entorno. Para tanto, mandou construir o prédio da antiga SANBRA para funcionar como usina de descaroçamento e beneficiamento do algodão (produto chamado “Ouro Branco”), pois, na Paraíba – que era o estado maior produtor de algodão do Brasil -, era Princesa o segundo município maior produtor e Zé Pereira, dono desse monopólio. Fez-se rico e, a partir de meados da década de 1920, já era considerado o coronel mais importante da Paraíba e um dos maiores do Nordeste brasileiro. Além das atividades algodoeiras, José Pereira possuía muitas propriedades rurais onde cultivava cana de açúcar, milho, feijão, mandioca e demais culturas de subsistência, sendo também grande criador de gados e ovelhas. Foi comerciante quando em sociedade com seu sogro, o major Marçal Florentino, abriu uma grande loja onde negociava vários produtos, desde tecidos a utensílios domésticos, sapatos, chapéus, etc. No campo da educação, o líder princesense dotou as escolas de Princesa de todas as condições necessárias para seu funcionamento, tendo como carro-chefe, a escola do professor Adriano Feitosa. Criou na cidade uma Biblioteca (que em 1930 foi totalmente queimada a mando dos adversários políticos do Coronel). No início da década de 1920 mandou construir um prédio (na atual Praça “Epitácio Pessoa”) para abrigar o Teatro e uma sala de Cinema. Ainda em 1915, Zé Pereira mandou comprar instrumentos musicais franceses, nas praças do Recife e do Rio de Janeiro e criou a Banda de Música “Filarmônica José Pereira Lima”.

O Rompimento

Enquanto cuidava do desenvolvimento de sua comuna, Zé Pereira não se esquecia da política, que era a sua paixão. Amigo de Epitácio Pessoa gozava de extremo prestígio político com o presidente da República. Esse prestígio chegou ao ponto alto quando o presidente Epitácio convidou o coronel José Pereira, na qualidade de representante oficial da Paraiba, para recepcionar o rei Alberto I da Bélgica em visita à então capital Federal, Rio de Janeiro, por ocasião das comemorações do 1º Centenário da Independência do Brasil. A amizade com Epitácio consolidou-se pelo grande apoio dispensado pelo Coronel durante a campanha eleitoral de 1915, quando o amigo foi eleito senador da República. Nessa empreitada, Zé Pereira liderou e organizou a campanha do futuro presidente da República em todo o sertão paraibano promovendo grande vitória nas urnas. Porém, essa amizade se esfacelaria por motivos políticos independentes de suas vontades. No início do ano de 1928 começaram as confabulações políticas para a escolha do sucessor do então presidente da Paraíba, João Suassuna. Este tinha a preferência pelo nome do deputado Júlio Lira para sucedê-lo e indicaria José Pereira como primeiro vice-presidente. No entanto, consultado sobre essa composição, o chefe Epitácio declinou da indicação alegando que já tinha decidido por outro nome: o do seu sobrinho João Pessoa Cavalcanti de Albuquerque. Essa decisão causou mal-estar nos próceres do Partido na Paraíba, porém, a decisão de Epitácio era inquestionável. De goela-abaixo, foi acatado o nome de João Pessoa e todos marcharam juntos em prol de sua eleição. Eleito, o sobrinho de Epitácio tomou posse em outubro de 1928 e logo no início de seu governo demonstrou que vinha determinado a modificar tudo, principalmente, desmontar a máquina de poder que dava sustentação aos Coronéis. De chofre, determinou o desarmamento dessas lideranças regionais e majorou as taxas de cobranças de impostos sobre o que eles produziam, tornando assim proibitivo o comércio dos produtos paraibanos com o vizinho estado de Pernambuco; demitiu amigos e familiares dos coronéis, dentre outras medidas que desgostaram grandemente os aliados de primeira hora do ex-presidente Epitácio Pessoa. Com Zé Pereira o problema se apresentava mais grave, pois, um dos primeiros que o novo presidente demitiu foi o irmão do Coronel, Manoel Carlos de Andrade Lima, da Mesa de Rendas de Princesa. Essa animosidade de João Pessoa com relação a Zé Pereira era antiga, fruto de um entrevero havido entre um cunhado  do Coronel e o pai do presidente na cidade de Monteiro. Mesmo antes de tomar posse, o novo presidente havia dito ainda no Rio de Janeiro que, assumindo o governo da Paraíba faria uma limpeza: “De uma vassourada”, acrescentando que as primeiras famílias a serem enquadradas nessa nova ordem, seriam os “Pereira” de Princesa; os “Dantas” de Teixeira e os “Santa Cruz” de Monteiro. O clima não era bom e foi piorando. Escolhido como candidato para compor a chapa majoritária, encabeçada por Getúlio Vargas, na qual concorreria como candidato a vice-presidente da República nas eleições presidenciais de 1º de março daquele ano de 1930, João Pessoa mudou de Partido, rompendo com o presidente da República, Washington Luiz, no que foi acompanhado por todos os correligionários e amigos de Epitácio Pessoa. Porém, quando da escolha dos candidatos a deputados federais e senadores, para as eleições daquele mesmo ano, o presidente Pessoa, sob o pretexto de promover uma renovação da bancada, extirpou da chapa os nomes de todos os candidatos à reeleição para deputados federais, inclusive o do ex-presidente João Suassuna (amigo íntimo do Coronel), deixando somente o nome de seu primo Carlos Pessoa. Isso causou grande revolta no seio das lideranças preteridas, sendo o motivo principal e provocador do rompimento político de José Pereira com João Pessoa. Em fevereiro de 1930, o presidente paraibano, no afã de angariar o definitivo apoio do maior líder político do sertão - mesmo desconfiado de que seria vã essa tentativa -, visitou Princesa. Foi recepcionado com grande festa popular, quando a cidade engalanou-se toda de vermelho (a cor da Aliança Liberal) para recepcionar João Pessoa e sua comitiva; ocasião em que foram realizados jantares, danças, discursos de saudação, etc. Após as festividades de recepção os dois líderes se reuniram reservadamente. Instado por Zé Pereira para que recompusesse a chapa no sentido de permitir que, pelo menos Suassuna - na qualidade de ex-presidente -, pudesse dela participar, o presidente João Pessoa deu calado por resposta. No dia seguinte ao retorno do presidente à capital paraibana, após consultar amigos e participar de uma reunião na cidade vizinha de Triunfo/PE - ocasião em que estiveram presentes também os irmãos, José e Francisco Pessoa de Queiroz -, todos decidiram pelo rompimento político com o presidente João Pessoa. Diante disso, o Coronel determinou ao chefe dos Correios, Richomer Barros, que redigisse um telegrama comunicando o seu afastamento e o de seus amigos, das hostes políticas comandadas pelo presidente paraibano. Liberal que era Zé Pereira passou a ser perrepista e a emprestar apoio à chapa concorrente à presidência da República, composta por Júlio Prestes para presidente e Vital Soares para vice, em oposição à composição Liberal formada por Getúlio Vargas e João Pessoa.

A Guerra

José Pereira Lima era amigo dos empresários pernambucanos do ramo de tecelagem e imprensa, os irmãos “Pessoa de Queiroz” (Francisco, José e João). De um deles era compadre e gozava de grande prestígio com todos. Os “Pessoa de Queiroz” que eram primos em primeiro grau do presidente da Paraíba estavam também rompidos com o presidente por motivos de ciúmes políticos (resquícios ainda da indicação de João Pessoa, por Epitácio Pessoa, para o cargo de presidente da Paraíba em detrimento das pretensões de um dos sobrinhos do Recife) e, principalmente, pela questão tributária quando João Pessoa tornou quase impossível os negócios entre os paraibanos e as empresas dos primos de Pernambuco. Ávidos em vingarem-se do primo presidente, os irmãos “Pessoa de Queiroz” viviam na espreita de uma oportunidade. Essa quadra chegou quando, às vésperas das eleições de 1º de março de 1930, João Pessoa mandou - sob o falso pretexto de garantir as eleições na região polarizada por Princesa -, um pelotão da polícia militar, comandado pelo tenente Ascendino Feitosa, que invadiu a cidade de Teixeira fazendo prisioneiras umas tias do advogado João Duarte Dantas e que dali sairia em demanda do burgo comandado por Zé Pereira com a missão de ocupá-lo. Em socorro a esse ataque, o coronel mandou alguns homens de sua confiança àquela cidade para libertar seus amigos da sanha da polícia paraibana. Foi aí que começou a “Guerra de Princesa”. Esse conflito durou quase cinco meses quando a polícia da Paraíba tentou ocupar Princesa e nunca conseguiu, graças às providências tomadas pelo Coronel que, com a ajuda financeira de seus amigos do Recife e as vistas grossas do Governo Central, manteve a cidade guarnecida por mais de mil homens enquanto outros tantos se dispersavam em batalhas combatendo a polícia nos arredores do município princesense. No dia 09 de junho de 1930, José Pereira Lima expediu o Decreto Nº 01, que determinou o desligamento de Princesa do estado da Paraíba, transformando o município em “Território Livre de Princesa”, passando a obedecer a ordens apenas do Governo Federal. Após ameaças de bombardeio por parte do governo estadual, sob o comando de José Américo de Almeida, Princesa resistiu e a Guerra só acabou quando do assassinato do presidente João Pessoa, em 26 de julho de 1930, na Confeitaria “Glória” na capital pernambucana. Com isso, Princesa foi ocupada pelo Exército com o fito de dar garantias a José Pereira e aos seus comandados que, mesmo depondo as armas continuavam em Princesa a observar as movimentações que, com a morte de João Pessoa, se tornaram crescentes no sentido de viabilizar a eclosão da chamada “Revolução de 30”, o que veio a acontecer em 03 de outubro daquele ano. Vitorioso o movimento revolucionário, o Coronel teve sua prisão decretada pelos chefes da Revolução tendo que fugir de Princesa. Perambulou por longos seis anos pelos sertões nordestinos se escondendo da polícia, só retornando a Princesa após o Decreto de anistia, expedido pelo então presidente Getúlio Vargas em 1936.

O Fim

Anistiado, José Pereira Lima voltou à sua terra em grande estilo. Foi recepcionado com grande festa quando adentrou à cidade desfilando em carro aberto, acompanhado de grande multidão que o saudava. Novamente livre, o Coronel passou a dividir sua residência entre a fazenda Abóboras; a cidade de Serra Talhada e Princesa. Não ficou alheio à política, porém, passou a cuidar mais de seus interesses particulares. No início do mês de outubro de 1949, resolveu viajar ao Rio de Janeiro para cuidar de problemas atinentes à causa judicial que movera contra a empresa norte-americana Standard Oil. De volta desse périplo na então Capital Federal, onde se encontrou com várias personalidades de relevo da política e da cultura nacionais, a exemplo do escritor José Lins do Rego; do jornalista e empresário da Comunicação, Assis Chateaubriand, dentre outros, resolveu vir direto para Princesa. Em sua viagem de retorno, após desembarcar no aeroporto do Recife, tomou um carro e seguiu sertão adentro em busca de sua terra natal. Chegando à cidade pernambucana de Arcoverde, fez uma parada para descansar, ocasião em que visitou alguns amigos. Após almoçar na casa de um desses, sentiu-se mal e foi medicado por um deles, que era farmacêutico. Persistindo o mal-estar, com fortes dores abdominais, seu filho, o jovem médico Aloysio Pereira Lima, que o acompanhava nessa viagem, resolveu levá-lo de volta ao Recife. O estado de saúde do Coronel se apresentava tão grave, que essa viagem de retorno à capital pernambucana, teve de ser feita através de um avião emprestado por um amigo. Chegando ao Recife, Zé Pereira foi conduzido direto para um hospital. Ali, teve diagnosticada uma gravíssima crise de apendicite aguda. Pela importância do paciente, os médicos hesitaram em operá-lo imediatamente e, enquanto divagavam sobre a situação, ministravam os remédios que achavam necessários e discutiam sobre os riscos oferecidos por uma cirurgia de urgência. Essa indecisão foi fatal. O apêndice do coronel estrangulou, a cavidade abdominal foi infectada e o senhor de apenas 65 anos de idade teve morte por infecção generalizada. Isso ocorreu no dia 13 de novembro de 1949. Morto o antológico Coronel, seu corpo foi sepultado na cidade do Recife, sendo mais tarde, trasladados seus restos mortais para Princesa. É essa a sucinta história do coronel José Pereira Lima de Princesa, o homem que pode ser considerado o “pai” da municipalidade princesense, uma vez que, não fora ele, seria Princesa mais uma cidade no contexto da composição geográfica paraibana. Porém, por conta do empreendedorismo, da visão de mundo e da coragem do Coronel José Pereira Lima, é a nossa terra, hoje, nas palavras do juiz aposentado doutor Valdério de Siqueira Vasconcelos: “O Chão mais histórico da Paraíba!”. Ademais, é notório que Zé Pereira se confunde com Princesa. Até a inspiração da música cantada e decantada pelo “Rei do Baião”, Luiz Gonzaga foi composta inspirada pela “Guerra de Princesa”: “Êita, pau Pereira quem em Princesa já roncou; Êita Paraíba, Mulher Macho, sim sinhô””. Abrindo qualquer enciclopédia, vai estar lá o verbete que se refere a Princesa, contando sua história e o que ela representa no cenário paraibano e muitas vezes reconhecida também nacionalmente. Por tudo o que aqui expusemos e muito mais - o que não caberia neste pequeno Perfil Biográfico -, está o Coronel José Pereira Lima a merecer lugar de destaque no panteão dos filhos ilustres de Princesa.

Curiosidades e Incógnitas da vida do Coronel

1.      Faz-se estranho que, sobre um homem da importância do Coronel José Pereira Lima exista pouquíssimos registros sobre sua infância, adolescência e juventude. Costumo dizer (sem querer mitificar ou mistificar o homem) que a primeira fase da vida do Coronel se compara com o mistério da vida de Jesus Cristo até os 30 anos, quando não existem referências sobre Aquela importante personalidade da história. Com Zé Pereira não é diferente, pois, só se sabe dele quando ingressou na escola, aos 08 anos de idade; quando foi para o Seminário na então Parahyba (João Pessoa); quando iniciou o curso de Ciências Jurídicas na Faculdade de Direito do Recife; e quando voltou a Princesa, aos 21 anos de idade, em 1905. Nenhuma fotografia o retrata quando criança, adolescente ou jovem, tampouco registros sobre suas atividades nesse período de sua vida.
2.      Sobre o retorno do Coronel, do Recife, quando abandonou o curso de Direito sob o até hoje pressuposto de que seria para substituir o pai morto, no comando da política princesense; há divergências sobre esse fato. O escritor e historiador princesense, Paulo Mariano, relata em seu livro de memórias: “Meu tempo, meu lugar – Quase memórias”, que o verdadeiro motivo do abandono da Faculdade e prematura vinda para Princesa, foi o fato de o então estudante José Pereira haver participado de uma briga entre jovens, ocorrida na casa da prostituta Laura Passos, na capital pernambucana, e devido à repercussão na época – caso de polícia -, teve que abandonar os estudos e refugiar-se em Princesa, o que coincidiu com o falecimento do pai.
3.       Sobre o afastamento de Nominando Diniz com relação ao Coronel Zé Pereira, não foi um fato puramente político ou movido por oportunismo do primeiro. “Seu” Mano (como Nominando era conhecido), desde 1926 já não nutria muito apreço pelo Coronel. Essa indisposição se deu motivada pelo fato de um acontecimento violento envolvendo seu pai, Zeca Diniz e seu amigo Rozendo Cordeiro quando estes participaram de um tiroteio de fim de feira na rua de Princesa, e Zé Pereira mandou a polícia intimá-los para prestarem depoimentos sob a suspeita de que, o autor dos disparos teria sido Zeca Diniz. Esse episódio constituiu-se num divisor d´’aguas em relação aos dois políticos princesenses. Lembro-me de relatos de dona Inês Diniz (filha de Nominando, portanto, neta de Zeca Diniz) quando se lembrava de uma visita do Coronel Zé Pereira à casa de seu pai e, na ocasião, censurou Nominando pela prosperidade que se denunciava pelos móveis que compunham sua residência. Daí constatar-se que o convite de José Américo de Almeida para que “seu” Mano assumisse a prefeitura de Princesa em outubro de 1930 foi algo que se poderia prever.
4.      Com relação a Lampião, o “Rei do Cangaço”, a situação é mais delicada. Até hoje, os familiares de José Pereira juram de pés juntos que o Coronel sempre foi inimigo de Lampião, que nunca teve contato algum com o famigerado cangaceiro e que, pelo contrário, sempre o perseguiu. Porém, alguns historiadores dizem o contrário e, o próprio Lampião, em entrevista concedida ao médico cearense, doutor Octacílio Macêdo, em Juazeiro do Norte, em 1926, afirmou o seguinte: “(...) De todos meus protetores, só um traiu-me miseravelmente. Foi o coronel José Pereira Lima, chefe político de Princesa. É um homem perverso, falso e desonesto, a quem durante anos servi, prestando os mais vantajosos favores de nossa profissão.”. Em que pese a família de Zé Pereira negar peremptoriamente que seu ascendente famoso possa ter sido coiteiro de Lampião merece, essa parte da biografia do Coronel, ser mais acuradamente estudada e analisada.
5.      Em 1947, o princesense Alcides Vieira Carneiro, que já havia sido deputado federal, candidatou-se a governador do estado da Paraíba, concorrendo com o intelectual Oswaldo Trigueiro de Albuquerque Mello. Alcides, grande tribuno e intelectual refinado, além de filho de Princesa, era também afilhado, amigo e correligionário do Coronel José Pereira. Estranhamente, sua candidatura ao governo do Estado, pelo PSB, não recebeu o apoio completo do Coronel, que se ausentou da campanha eleitoral, mantendo-se durante quase todo o período eleitoral, em sua fazenda Abóboras ou em sua residência em Serra Talhada. Em que pese o comando da administração municipal estar nas mãos de um correligionário do Coronel (Manuel Florentino de Medeiros), desamparado, Alcides foi derrotado em Princesa.
6.      Por último, realçamos aqui algo folclórico. Quando jovem eu escutava nas conversas sobre política, que o Coronel José Pereira Lima havia sido morto, envenenado pela Maçonaria, por motivos que ninguém explicava. Outras conversas davam conta de que o ilustre princesense havia sido assassinado por uma trama urdida pela empresa norte americana Standard Oil pela derrota sofrida por esta na Justiça em ação movida por Zé Pereira. Com o tempo, constatei que tudo isso não passava de conversa fiada. O Coronel morreu mesmo foi vítima de apendicite aguda.



(Escrito por Domingos Sávio Maximiano Roberto, em 13 de novembro de 2019 – 70º (SEPTUAGÉSIMO) Aniversário da morte do coronel José Pereira Lima).

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