ODE

sábado, 22 de fevereiro de 2020

O ROMPIMENTO DO CORONEL ZÉ PEREIRA COM O PRESIDENTE JOÃO PESSOA






Em 22 de fevereiro de 1930, portanto há exatos 90 anos atrás, o deputado José Pereira Lima, mais conhecido como coronel Zé Pereira, rompeu politicamente com o presidente da Paraíba, João Pessoa Cavalcanti de Albuquerque. Há apenas dois dias, havia estado em Princesa, o presidente paraibano, em visita de cortesia ao coronel o que denotava estar tudo bem. Mas não, as dissenções e os conflitos de interesses já existiam. O primeiro fato que pôs o coronel e o futuro presidente do Estado em campos antagônicos, remonta ao início da década de 1920 quando o médico Bandeira Filho, casado com uma prima de João Pessoa Cavalcanti, foi assassinado no Recife por outro primo do futuro presidente, Epitácio Pessoa Sobrinho (Epitacinho) sob suspeita de que a esposa deste o estava traindo com o médico assassinado. Após esse trágico episódio, a família “Pessoa” separou-se em dois ramos antagônicos: o de Umbuzeiro/PB e o de Recife. O chamado ramo de Umbuzeiro aglomerava os “Pessoa Cavalcanti” e, o da capital pernambucana, os “Pessoa de Queiroz”. Desse episódio nasceu a primeira queixa do futuro presidente com relação ao coronel Zé Pereira pelo motivo de que este, na qualidade de amigo e compadre de João Pessoa de Queiroz, haver dado guarida ao assassino do médico que era irmão de seu compadre. Epitacinho veio para Princesa, onde residiu até seu julgamento pela Justiça e, durante esse período, residiu na cidade, num palacete que mandou construir e, após sua liberdade voltou ao Recife e presenteou o imóvel a Luizinha que era filha do coronel José Pereira. Os “Pessoa Cavalcanti” jamais perdoaram o coronel pelo homízio concedido ao primo assassino.

Mais motivos

Outro fato que serviu como caldo de cultura para o rompimento foi quando João Pessoa foi eleito presidente da Paraíba e já na sua posse, perguntou, em palácio, ao coronel Zé Pereira se este mantinha cangaceiros homiziados em Princesa, ao que Pereira respondeu rispidamente: “Os cangaceiros que existem em Princesa são os eleitores de seu tio Epitácio”. Já não se bicavam. O coronel tinha também conhecimento de um comentário proferido por João Pessoa quando, já eleito presidente do Estado, ainda no Rio de Janeiro, dissera: “Na Paraíba está tudo podre. Assumindo, resolverei tudo de uma vassourada! Os primeiros que enquadrarei serão os Dantas de Teixeira, os Santa Cruz de Monteiro e Zé Pereira de Princesa!”. Como se não bastasse, o presidente, já empossado, determinou o fim da comercialização do que era produzido no sertão do Estado com as empresas do estado de Pernambuco, numa afronta direta aos seus primos e amigos de Zé Pereira, os “Pessoa de Queiroz”. Além disso, majorou todos os impostos, instituiu cancelas nas divisas da Paraiba com Pernambuco e determinou que toda a comercialização deveria ser feita através do porto de Cabedelo. Ainda insatisfeito com a perseguição a seus desafetos, o novo presidente demitiu vários funcionários públicos, inclusive um dos irmãos de Zé Pereira, que era chefe da ”Mesa de Rendas” (Coletoria) do Estado na cidade de Princesa. Diante desse quadro, o que já se constituía um pote cheio de mágoas veio a formação da chapa que disputaria as vagas para a Câmara Federal e para o Senado. A prática até então era a recondução dos deputados à reeleição. João Pessoa, num acinte a seus próprios correligionários resolveu “renovar” a chapa que disputaria aquelas eleições que ocorreriam no dia 1º de março, pleito em que ele próprio concorria à vaga de vice-presidente da República na chapa encabeçada por Getúlio Vargas. Porém o que mais indignou o coronel foi a retirada do nome de seu amigo e ex-presidente do Estado, João Suassuna, da chapa que concorria à Câmara Federal.

A “Gota D’água”

Sob o pretexto de promover a renovação da chapa, o presidente João Pessoa retirou todos os nomes que já detinham mandatos, mantendo, portanto, o nome de seu primo Carlos Pessoa. Isso afetou sobremaneira os ânimos partidários. Muitos tentaram ainda demover o presidente dessa insensatez. Em vão, Pessoa manteve sua intenção e, à revelia da Comissão do Partido Republicano da Paraíba, em 17 de fevereiro daquele ano, assinou o chapa sozinho e da forma que quis. A essa altura, a intenção e os motivos para o rompimento já haviam amadurecido. É sabido que, na véspera da visita do presidente a Princesa, o coronel José Pereira havia se reunido, na vizinha cidade de Triunfo/PE, com o industrial João Pessoa de Queiroz e alguns correligionários e ali resolveram que, se o presidente não desistisse da imposição da chapa sem o nome de Suassuna, romperiam politicamente com ele, bandeando-se para emprestar apoio à chapa oficial do partido Republicano Paulista que defendia a composição, para a presidência e vice-presidência da República, os nomes de Getúlio Vargas e Vital Soares, respectivamente. Em face de tudo isso, o rompimento se fez realidade e, no dia 22 de fevereiro de 1930, o coronel, através do telegrafista Richomer Barros, expediu telegrama ao presidente da Paraíba informando seu desligamento do Partido. Desacreditado, João Pessoa solicitou confirmação, ao que Zé Pereira reafirmou o rompimento, acrescentando que estaria pronto e disposto a defender a cidade e seus amigos das retaliações que acreditava seriam promovidas por João Pessoa. Começou aí a Guerra de Princesa.


(ESCRITO POR DOMINGOS SÁVIO MAXIMIANO ROBERTO, EM 22 DE FEVEREIRO DE 2020).

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