No último dia 28 de fevereiro, o mais do que centenário
jornal estatal da Paraíba, A UNIÃO,
em comemoração aos 90 anos do início da Guerra de Princesa, publicou extensa
matéria - com chamada em primeira página -, sobre a eclosão daquele conflito
que foi o estopim da Revolução de 1930. Nada a estranhar quanto à importância
dada a essa importante data da historiografia paraibana. O fato reveste-se de
importância histórica maior quando sabemos que foi através daquela folha que o
então presidente (governador) João Pessoa Cavalcanti de Albuquerque empreendeu
forte propaganda midiática contra o coronel José Pereira Lima e seus aliados
durante aquele que foi o principal enfrentamento bélico já ocorrido em terras
paraibanas. O jornal oficial do Estado, a partir do início das escaramuças,
trazia, todos os dias, em suas páginas, artigos e notícias sobre a guerra, a
maioria a serviço de uma propaganda mentirosa sobre os acontecimentos no front sertanejo. Quando se sabe que a
única vitória importante da polícia paraibana contra os comandados por Zé
Pereira foi a primeira, ocorrida na vila de Teixeira (28/02/1930), A UNIÃO noticiava sempre que a polícia
vencia as batalhas e avançava ferozmente em busca de invadir e conquistar a
cidadela que era o “Território Livre de Princesa”, o que nunca aconteceu.
Enquanto isso, o coronel Zé Pereira, usava o JORNAL DO COMÉRCIO, pertencente aos seus amigos industriais do
Recife (Pessoa de Queiroz) para responder às ofensas e mentiras oficiais de
João Pessoa, e fazer as suas. Além da “guerra tributária” que antecedeu a
Guerra de Princesa, havia também a “guerra de notícias”.
O tempo conserta tudo
Em 1930 e nos imediatos anos que se seguiram, impossível
seria a menção do nome do coronel José Pereira Lima, João Duarte Dantas, João
Suassuna, João Pessoa de Queiroz e outros “joões”, no jornal A UNIÃO, que não fosse para atacar,
denegrir, caluniar, difamar, acusar etc. Passado o tempo, a coisa mudou
completamente. Não para atender orientação política específica, tampouco para
retratar-se de erro cometido. Hoje, andam juntas história e democracia e o
periódico que fez a caveira de um rebelde [Zé Pereira] que se defendia para não
ser humilhado por um governante [João Pessoa] ávido pelo poder total, que o
chamava - através das folhas daquele jornal -, de cangaceiro, sanguinário,
déspota, facínora, bandido de gravata, dentre outros epítetos, abre suas
páginas para homenageá-lo em comemoração aos 90 anos do inglório conflito para
ambos os lados. A borracha do tempo apaga tudo e a luz da democracia ilumina o
caminho da civilidade quando rememora sem traumas os fatos importantes que
ajudaram a construir a nossa história. Inserida nesse contexto como
protagonista mais importante daquele conflito, a nossa terra se envaidece de
haver sido o palco daquele importante momento da nossa história. Afinal, é
Princesa o chão mais histórico da Paraíba. O tempo é mesmo, o senhor da razão.
(ESCRITO POR DOMINGOS
SÁVIO MAXIMIANO ROBERTO, EM 13 DE MARÇO DE 2020).
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