O assassinato do americano negro, George Floyd -sufocado pelo joelho de um policial branco -, ocorrida aos olhos do mundo em Mineápolis, nos EUA, no último dia 25, vem causando grande repercussão ao redor do Planeta. Protestos se intensificam nos Estados Unidos e em alguns países da Europa, gerando polêmicas quanto ao comportamento das autoridades e à atuação da políciaamericana que, em algumas situações, continua agredindo os manifestantes. Insensível, o presidente Donald Trump, ameaça botar o Exército nas ruas para reprimir os protestos. Causa espanto que a maior democracia do mundo esteja agora encostada na parede e exposta naqualidade de promotora de tamanha violência racial, o que se constitui algo por demais primitivo quando se trata da violação de “Justiça e Liberdade”, os lemas mais caros da terra do “Tio Sam”. Na verdade, nos EUA, quando se trata de direitos individuais estes são garantidos e respeitados, porém, quando a coisa pende para o coletivo, principalmente no tocante à questão racial, eles ainda engatinham, numa demonstração de que, nesse item,aquela democracia se atravessa com água pelo mocotó. Bem disse o ex-presidente Barack Obama, sobre a questão racial em seu país: “O racismo é uma praga, é o pecado original da América”. No Brasil, o racismo é velado e às vezes, até bem humorado; nos Estados Unidos da América, o preconceito de cor é intrínseco e a ojeriza entre negros e brancos é escancarada. Para grande parte dos americanos brancos, os negros, que constituem algo em torno de 13% da população daquele país, são um corpo estranho em sua sociedade.
Nos Estado Unidos da América, com a abolição da escravatura, em 1º de janeiro de 1863 - promovida pelo então presidente Abraham Lincoln, o que provocou a Guerra de Secessão, quando se confrontaram o Norte abolicionista contra o Sul escravista -, os negros saíram das correntes mas o ódio e a segregação social continuaram e perduram até os tempos de hoje. Lá não houve mea culpa, nem perdão; somente a obrigação imposta pela lei. Nos EUA o preconceito é recíproco: brancos não se misturam com negros e vice-versa. Diferente do Brasil, que adotou a cultura do branqueamento da população (segundo Nélson Rodrigues: “Mãe preta, filho pardo, neto branco”), quando os negros não perdem a oportunidade de casarem-se com brancos, onde também os brancos sentem-se fortemente atraídos pelos de cor sem nenhuma restrição. Aqui, a democracia racial ocorreu naturalmente. É certo que no Brasil também ainda há muito preconceito, mas aqui ele [o preconceito] tem um cunho mais social do que de raça. Em nossas terras, negro letrado, famoso ou rico é bem aceito na sociedade sem problema algum, desde que identificado como tal. Observe que as personalidades negras que se destacam no esporte, na política, na religião, na arte, no campo dos negócios, etc., via de regra, contraem núpcias com pessoas brancas. Exemplos não faltam: Pelé, Neymar, apóstolo Waldemiro, deputado Damião Feliciano, dentre outros. Nos EUA, não. Ali, a maioria dos negros casam-secom negros e não é porque os brancos não os queiramdesposar, são os próprios negros que se resolvem assim. Exemplo acabado disso é o do ex-presidente Barack Obama, negro casado com a advogada negra, Michelle Obama. No Brasil, isso seria quase impensável.
Doença racial
Nada mais burro, mais obtuso do que o preconceito racial. Onde está escrito, dito ou comprovado que existe, no âmbito da raça humana, seres intelectual ou fisicamente superiores em relação aos demais? Na conclusão das pesquisas que estudaram o genoma humano, foi constatado que há muito mais identificação genética entre humanos da África Negra com os galegos dos países Nórdicos do que entre os próprios africanos ou entre os habitantes dos países do norte europeu. O racismo é uma doença que discrimina e obscurece verdades. O maior escritor brasileiro, Machado de Assis, era negro. O ex-ministro do nosso STF - Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa, é considerado um dos ocupantes daquela Corte que mais se destaca no campo da intelectualidade e do conhecimento jurídico. A supremacia e a influência da música americana no mundo, dá-se principalmente pela influência negra. Aonde está a diferença? Apenas no preconceito das origens. O negro veio pra cá não como escravo - ninguém nasce escravo -, mas como escravizado, elemento servil que depois de liberto dos grilhões não teve o condão de desfrutar damesma igualdade de oportunidades dispensada aos seus semelhantes brancos. Segundo previu o sociólogo brasileiro, Darcy Ribeiro, em suas palavras: A democracia racial no Brasil ocorrerá daqui a mil anos, quando teremos uma raça unicor, pois aqui, se há preconceito de cor, a miscigenação é democrática”. Mesmo constatando que há ainda muito preconceito racial no Brasil, podemos exultar, pois a nossa convivência racial é muito mais pacífica do que o que ocorre nos Estado Unidos. Já a convivência social, isso é outro problema e que muito nos aflige.
DSMR, EM 06 DE JUNHO DE 2020.
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