ODE

terça-feira, 11 de agosto de 2020

90 ANOS DA GUERRA DE PRINCESA – CRONOLOGIA DE UM CONFLITO - LUTO E VIOLÊNCIA NA CAPITAL PARAIBANA





Confirmada a tragédia ocorrida na Confeitaria Glória, no Recife, por volta das 19:00 horas, a capital paraibana foi tomada por uma onda de violentas manifestações de perplexidade e desespero. O povo saiu às ruas em verdadeiro clamor e por toda parte ecoavam gritos de protesto e dor:


- Mataram João Pessoa!

- Viva João Pessoa!

- Mataram nosso pai!

- Estamos desgraçados!

- Morte aos perrepistas!


A Cadeia Pública, praticamente desguarnecida, foiarrombada pelos próprios presos que, usando as ferramentas utilizadas em seus trabalhos forçados na construção de calçamentos, derrubaram portas e paredes e se dispersaram pelas ruas. Cerca de 200 presos evadiram e, misturados ao povo em violentos protestos, começaram a depredar e a incendiar propriedades dos adversários do presidente morto. O contingente policial estava quase todo no sertão, combatendo os rebeldes de Princesa e, os que estavam estacionados na Capital não eram suficientes paraconter os ânimos agitados da populaça desvairada. De toda parte ouviam-se explosões e tiros; as labaredas dos muitos incêndios lambiam o céu. O exército, protegia apenas as casas de residência dos perrepistas e as repartições públicas. Vários estabelecimentos comercias foram invadidos, saqueados e incendiados: Casa Vergara; Fábrica Colombo; Drogaria Pessoa; Moinho Vera Cruz; redação do Jornal “O Norte”; Farmácia das Mercês; Casa de Ferragens Severino Mesquita; Mercearia Dinorah; residência do senador José Gaudêncio; residência do doutor Júlio Lira; dentre outros. Depredações em menor escala, foram feitas também em Cabedelo; Santa Rita; Espírito Santo; Areia; Campina Grande e em outras cidades do Estado. A cidade de Parahyba estava entregue a vândalos, sem nenhuma guarnição. Somente no dia seguinte (27/08), com a chegada à capital - vindo de Piancó, onde coordenava a luta contra Princesa -, do Secretário de Segurança Pública, José Américo de Almeida, em comum acordo com o novo presidente, Álvaro de Carvalho, estabeleceu-se que o exército faria as vezes de polícia, sob o comando de José Américo, para dar segurança aos adversários de João Pessoa e botar ordem na cidade. No dia 28, com a violência já amainada, chegou à capital paraibana, vindo do Recife, o corpo do desditoso presidente. A partir daí, as manifestações abandonaram a violência e passaram ao clamor popular, à emoção e ao apelo revolucionário. Ao invés das lamentações pela morte do líder, os gritos eram diferentes:

- João Pessoa não morreu!

- Viva a revolução!   


Nesse dia de luto profundo, o comércio e as repartições públicas fecharam, o corpo de João Pessoa foi exposto em câmara ardente, para visitação pública, na Catedral de Nossa Senhora das Neves, o que aconteceu durante três longos dias. Segundo relata o escritor paraibano, José Joffily: “A partir do dia 27, a casa que não ostentasse uma bandeirola preta ficaria sob suspeita de perrepismo,isto é, de assassino de João Pessoa’”. No dia 1º de agosto, cerca de 75 mil pessoas acompanharam o cortejo fúnebre que se deslocou da Catedral para o porto de Cabedelo, conduzindo o corpo de João Pessoa que embarcaria para ser sepultado no Rio de Janeiro. Discursos se sucederam em homenagem ao líder. Da fala de Adhemar Vidal:


“O crime está consumado. O seu julgamento a história fará. Há de fazer com implacável severidade para condenação irrecorrível dos seus Átilas. Velaremos a obra de João Pessoa. Saberemos defendê-la. Seremos dignos dela”.


Como podemos observar do discurso de Vidal, quando o orador diz: “(...) para condenação de seus Átilas. ”, depreende-se que, naquele momento, a intenção era dar uma conotação política ao crime cometido por João Dantas, inclusive, insinuando a participação de adversários paraibanos, conduzidos pelas mãos do Governo Federal.  No percurso costeiro, da Parahyba até a Capital Federal, várias homenagens, contidas de discursos inflamados pregando a revolução, foram proferidos nas várias capitais de Estados onde atracou o “Rodrigues Alves”, vaso que transportou o esquife do agora, trunfo principal dos revolucionários. No Rio Grande do Sul, Lindolfo Collor discursava: “Presidente Washington Luís, o que fizeste com o presidente da Parahyba? ”. Era esse o clima, de completo locupletamento político com a tragédia paraibana.


Mudança da Bandeira e do nome da Capital


Na esteira dessa comoção, a população da capital, estimulada por alguns políticos que viam aí uma oportunidade sem par de manter uma mobilização constante, com o intuito de viabilizar o movimento revolucionário, passou a exigir a mudança do nome da Capital do Estado, de Parahyba para João Pessoa e também, criar uma nova Bandeira em homenagem ao presidente “mártir”. O presidente Álvaro de Carvalho não concordava, nem com a mudança do nome da Capital, tampouco com a criação de uma nova Bandeira, principalmente, neste caso, pelo modelo sugerido: uma flâmula em preto e branco, com a inscrição “NEGO”. Ânimos acirrados, sob o comando dos estudantes que, em passeatas exigiam essas mudanças, os deputados aliancistas, comandados por Generino Maciel, Argemiro de Figueiredo, Velozo Borges e Irineu Joffily, elaboraram um Projeto de Lei e o encaminharam à Assembleia Legislativa - que nessa época funcionava nas dependências do Theatro Santa Roza -, que passou a ser apreciado por aquela Casa de Leis. Nas sessões, as galerias se enchiam de jovens e estudantes que, aos gritos, exigiam dos deputados situacionistas rápida deliberação, enquanto vaiavam os que se opunham àquelas mudanças. Em uma das sessões, no dia 23 de agosto, o deputado Irineu Joffily fez um discurso em que denunciava a responsabilidade do Catete na Revolta de Princesa. Concluiu sua fala, dizendo o seguinte: 


(...) O que queremos é que o Governo Federal, pública e francamente condene o levante, efetive a ausência de auxílio aos trabuqueiros e não corte, como tem feito, toda possibilidade de a Paraíba se defender. Se assim fizer não poderá mais ressuscitar aos bravos que tombaram na luta, não dará mais à Paraíba e à Pátria a preciosa vida de João Pessoa, mas patenteará que o crime cessou e a justiça e a moral vão imperar”.


Essas invocações aumentavam ainda mais o ardor popular e foi nesse clima que, em 04 de setembro de 1930 - através da Lei nº 700 -, a Capital paraibana que já fora “Nossa Senhora das Neves”, “Filipéia” e, em 26 de dezembro de 1634, teve seu nome mudado para “Frederica” e, vinte e um anos depois voltou a ser “Filipéia” e que se chamava, então, Parahyba passou, no fulgor daquela emoção coletiva, a ser denominada de “João Pessoa”. Quanto à Bandeira, em seu extravagante e negativo modelo, em que pese o veto do presidente Álvaro de Carvalho, foi também aprovada pela Assembleia Legislativa. Mudanças que persistem até os dias de hoje.



DSMR, EM 11 DE AGOSTO DE 2020.

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