PRINCESA OCUPADA PELO
EXÉRCITO
No dia 11 de agosto de 1930, por volta do meio-dia, chegaram
a Princesa, sob o comando do capitão João Facó, via a fronteira com o estado de
Pernambuco, 0 19º e o 21º Batalhões de Caçadores do Exército Brasileiro. Além
do comandante, mais quatro oficiais superiores, os tenentes: Canela, Ericson, Túlio
Paes Leme e Monclaro Menna Barreto. Comandados por estes, mais seiscentos
soldados armados e equipados. Esse contingente vinha com orientação superior
para promover o desarmamento do coronel José Pereira Lima e pacificar a cidade
rebelada. Previamente comunicado da vinda das forças federais, Zé Pereira
providenciou esconder parte de seu arsenal de guerra. Cerca de trezentos fuzis
e várias caixas de munições foram postos em locais seguros (na década de 1980,
foram encontradas, escondidas nas paredes da casa de dona Toinha Carlos, várias
caixas recheadas de balas de fuzil). A ocupação foi um alívio para todos, tanto
para o Coronel como para o presidente Washington Luís e para o presidente
(governador) Álvaro de Carvalho. Exauridos pelo longo período em guerra, ambos
os lados estavam ansiosos pela paz. O coronel José Pereira recebeu a tropa do
exército com muita presteza. Providenciou casas de residência para os oficiais
(O capitão João Facó estabeleceu residência numa casa situada à Praça Epitácio
Pessoa) e acomodou a soldadesca no prédio de sua usina de algodão (antiga
SANBRA), no final da hoje chamada Avenida Presidente João Pessoa. No dia 19 de
agosto daquele ano, em visita de inspeção à cidade ocupada, o general Lavenère
Wanderley enviou ao presidente (governador) Álvaro de Carvalho, o seguinte
telegrama:
“Princesa 19 – Presidente Estado –
Participo a V. Exa. Que deputado José Pereira dissolveu suas forças e hoje
terminou entrega armamento e munição em poder das mesmas e existentes depósitos
nesta cidade pt. Atenciosas saudações. (a) General Wanderley”.
Em seu livro de memórias: Nas
Vésperas da Revolução, o presidente Álvaro de Carvalho escreveu: “(...) tive de transigir um pouco com os
poderes federais, que, tomando Princesa e desarmando José Pereira, tiravam-me,
sem que o pedisse, da situação insustentável em que me achava, livrando-me de
uma das pontas do dilema em que teria caído o meu nobre antecessor, se a arma
assassina não o houvera abatido: pedir intervenção ou ser vencido por
cangaceiros”. Ocupada, Princesa, tudo se fazia tranquilo. No dia 07 de
setembro, em comemoração ao Dia da Pátria, as tropas federais, sob o comando do
capitão Facó, desfilaram pelas principais ruas da cidade culminando, o evento,
numa concentração cívica na Praça Epitácio Pessoa, onde foram proferidos
discursos pelas várias autoridades. No dia 29 de setembro, a cidade de Princesa
foi surpreendida com a chegada de um contingente da Polícia Militar da Paraíba,
sob as ordens do Coronel Emerson Benjamin, composto de 350 praças. Esse
exagerado número de militares, manifestava a frustração do chefe do Estado
Maior da polícia paraibana durante a Guerra de Princesa, José Américo de
Almeida que, sediado em Piancó não conseguiu ocupar Princesa durante o
conflito, o fazendo agora, de forma ostensiva, depois de tudo pacificado. Um
verdadeiro exagero, pois, até o estouro da Revolução, Princesa abrigava quase
mil soldados do Exército e da Polícia paraibana. Enquanto os soldados das
forças federais se comportaram com civilidade e disciplina, os da Polícia,
promoviam toda sorte de desmandos e provocações, o culminou com o assassinato
de um dos Libertadores de Princesa, João Flor, pelo sargento Vicente Chaves. O
crime aconteceu na rua do baixo meretrício, ao que se sabe, sem motivo que o
justificasse. Sabedor desse atentado, o coronel José Pereira, que se encontrava
no Distrito de Tavares, assistindo aos serviços religiosos em homenagem a São
Miguel, padroeiro daquele lugar, voltou imediatamente a Princesa, reuniu os
oficiais do Exército e proferiu o seguinte discurso:
“(...) Tratei-os bem, como é dos meus
hábitos, senhores componentes das Forças Armadas Brasileiras, mas saibam que
não me submeterei à orientação destes destemidos lutadores da Polícia estadual
que aqui acabam de chegar, sem lhes oferecer uma reação que ainda posso ter, e
surpreendê-los, com o risco da minha própria vida, mas que ficarão resguardados
para todo o País e a qualquer preço os brios de um homem que não se entregou,
nem se entregará, à sanha de um governante despótico ou dos seus continuadores
oportunistas”.
Referia-se, nessa fala, o Coronel, ao desditoso presidente
João Pessoa e ao senhor José Américo de Almeida e, como vemos, contava, o
Coronel, com o total apoio dos comandantes das forças federais, aos quais
tratou com esmerada atenção e zelo, chegando mesmo a estabelecer amizade e até
compadrio. Em face desse assassinato desnecessário, o capitão João Facó,
determinou – com o intuito de proteger José Pereira e sua família -, a
interdição da “Rua Grande” (Coronel Marcolino Pereira), onde se situava a casa
de residência do Coronel. Passado esse incidente e, pacificada a cidade, essa
situação perdurou até a eclosão da Revolução. Com a vitória do movimento
revolucionário em todo o País, o que se deu em 03 de outubro de 1930, o líder
tenentista, Juarez Távora, expediu o seguinte telegrama para o capitão João
Facó, em Princesa:
“Capitão Facó – Princesa – Apelo prezado
colega de armas aderir imediatamente Revolução pois a mesma se acha vitoriosa
em todos Estados do Brasil como deve ser vosso conhecimento. Não hesiteis tomar
essa atitude. Logo após prenda José Pereira conduzindo o mesmo para Salvador me
comunicando que darei novas instruções. Atenciosamente, Juarez Távora”.
Amigo do Coronel e grato pela acolhida recebida, Facó e os
demais oficiais apresentaram o telegrama a José Pereira e este, sabedor das
perseguições de que seria vítima, deixou Princesa, em fuga para lugar incerto,
no dia 05 de outubro de 1930.
DSMR, EM 18 DE AGOSTO DE 2020.
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