ODE

quinta-feira, 27 de agosto de 2020

MULHERES QUE FIZERAM A DIFERENÇA



MARIA BONITA


Nascida Maria Gomes de Oliveira, apelidada de “Maria Déa” e consagrada para a história como “Maria Bonita”,essa mulher, que coincidentemente, nasceu no dia 08 de março de 1911 (Dia Internacional da Mulher), malgrado ser companheira do maior facínora do Cangaço Brasileiro, entrou para a história pela sua coragem e determinação,pelo amor ao homem que escolheu, e por ter sido a primeira mulher a fazer parte daquele segmento violento e criminoso, que assolou as terras nordestinas na primeira metade do século passado. Maria Bonita, que era filha de José Gomes de Oliveira e de dona Maria Joaquina da Conceição, casou-se, aos 15 anos de idade, com um sapateiro chamado José Miguel da Silva (Zé de Neném). Estéril, seu marido não gerou filhos. Nasceu, Maria, num povoado chamado “Malhada da Caiçara”, pertencente ao que é hoje o município de Paulo Afonso na Bahia. Nesta série de artigos que homenageiam mulheres que se destacaram em suas várias atividades, nada mais natural do que prestar essa homenagem a uma mulher diferente, que fez história na contramão do que era usual na época em que viveu, quando, de forma inusitada, juntou-se a Lampião, tomou nas mãos um fuzil e se transformou na primeira cangaceira das plagas nordestinas.


Amor platônico


Amigo da família de Maria Déa, Lampião sempre passava pelas terras onde ela morava. Certo dia, informado por um coiteiro de que a jovem senhora nutria grande admiração, simpatia e uma forte atração em relação a ele, o “Rei do Cangaço”, resolveu fazer uma visita à casa de Zé Gomes. Conversando de forma dissimulada, logo percebeu o interesse de Maria, que não tirava os olhos dele. Sem meias palavras, Lampião perguntou se ela queria partir com ele. Sem se fazer de rogada, Maria assentiu que sim e, a partir daí, tronou-se mulher e companheira de Virgulino Ferreira da Silva, o que perdurou até a morte dos dois. Quem contestaria essa união? Os pais ficaram orgulhosos de verem a filha nos braços do mais valente cangaceiro e, o marido abandonado – como não poderia ser diferente -, conformou-se com a situação. Essa união aconteceu no ano de 1930 e, Maria Bonita, aos 19 anos de idade, iniciou uma saga histórica como a primeira mulher a fazer parte de um bando de cangaceiros. Mesmo sem ser detentora de muita beleza - num afago bajulatório da cabroeira que acompanhava Lampião, com o intuito de agradar ao chefe-, a nova integrante do grupo foi logo cognominada de “Maria Bonita”. Até então, a presença de mulheres no bando, era proibida. Com a integração de Maria, alguns cangaceiros receberam, do chefe, a permissão para se fazerem acompanhar de esposas e amantes. Com Lampião, Maria Bonita teve uma filha (Expedita Ferreira Nunes) e mais três abortos. Não pôde criar a filha, que foi entregue a um casal de vaqueiros amigos de Lampião, que a criaram dizendo sempre ser ela filha do mais famoso casal de cangaceiros do Nordeste brasileiro. Durante os 09 anos em que viveu no Cangaço, Maria Bonita, nunca deixou de estar ao lado de seu homem, participando ativamente dos combates, mas também promovendo festinhas e momentos de oração.

 


O fim


No fatídico dia 28 de julho de 1938, quando uma Volante da polícia alagoana surpreendeu o bando de Lampião na grota de Angicos (município de Poço Redondo, no estado de Sergipe) e dizimou quase todos os cangaceiros ali arranchados, estava Maria Bonita ao lado do “Rei do Cangaço” e foi também chacinada, degolada e exposta, juntamente com o valente companheiro e demais cangaceiros mortos, nas escadarias da Igreja Matriz da cidade de Piranhas, no estado de Alagoas. Em que pese haver sido, Maria Bonita, a mulher do mais famoso cangaceiro do Brasil, é sem dúvida, reconhecida como uma mulher díspar das demais de sua época, destacada e,portanto, merecedora de estar inscrita nos anais da história do Brasil, pela sua coragem e pelo inusitado de haver sido diferente. 



DSMR, EM 27 DE AGOSTO DE 2020.

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