Há 116 anos, em 1904, portanto, um movimento igual ao que
vivenciamos hoje, mobilizou o Brasil. Era a preparação para a vacinação em
massa da população do Rio de Janeiro contra a epidemia da varíola. Naquela
época, o presidente da República, Rodrigues Alves, mandou para o Congresso
Nacional um Projeto de Lei que determinava a obrigatoriedade da vacinação de todos
os moradores da cidade do Rio de Janeiro. Isso causou grande revolta no seio da
população. Primeiro porque a maioria não acreditava nos efeitos benéficos do
remédio; segundo porque muitos decidiram usar a situação para se postarem
contrários à política do presidente. Além dos problemas políticos e da falta de
credibilidade quanto aos efeitos da vacina, havia também um questionamento que
se disseminava pelas ruas, sobre a esquisita inoculação de um líquido provindo
de pústulas de vacas doentes (vacina) e a falácia de que, quem tomasse a
vacina, adquiriria feições bovinas. O povo foi para as ruas em violentos
protestos, o que resultou no cancelamento da ordem vacinal e num saldo de 945
prisões, 461 deportados, 110 feridos e 30 mortos. Na verdade, no início da
campanha, a vacinação até estava sendo mais ou menos aceita, porém, com a
determinação de sua obrigatoriedade, formou-se esse tumulto. Lá adiante, porém,
em 1908, frente ao agravamento da epidemia, a população submeteu-se e permitiu
a vacinação, livremente, e de boa vontade. Contrariamente, ao que ocorre hoje,
com relação à vacina contra a COVID-19, a situação no momento tem uma conotação
diferente, quando a grande maioria dos brasileiros quer a vacina, enquanto o
Governo Federal faz corpo mole quanto ao seu implemento. Seja pelo alto custo
ou por entender da sua desnecessariedade, uma vez que, no entender do
presidente Bolsonaro, não carecemos de remédio algum para curar o que, para ele,
é uma “gripezinha” que já está no seu “finalzinho”. Sinal dos tempos.
DSMR, em 15 de dezembro de 2020.
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