Ao escutar o sermão impositivo do bispo de Patos, fui tocado
por uma lembrança que há muito me incomoda. Sempre achei esquisito e às vezes
imoral, que nas repartições públicas, nas casas comerciais e até nos cabarés,
seja prática comum a ostentação, numa parede central ou mesmo nas cabeceiras das
camas, de uma imagem do Cristo Crucificado. Observem que na Câmara dos
Deputados, local onde são urdidas as maiores falcatruas, está lá o Crucifixo;
nas agências bancárias, onde a usura campeia, está lá o Cristo a observar tudo.
Duvido que na nave central dos cabarés, onde se dança ou se escolhe a mulher
com quem se deitar, o quadro do Sagrado Coração de Jesus lá não esteja
dominando o ambiente. Quando assumi a presidência da Câmara Municipal de
Princesa, aboli essa prática naquela Casa, quando retirei das paredes todas as
imagens sacras, inclusive o retrato de um papa. Acho que o lugar apropriado
para homenagear santos é o templo, mesmo porque, em outros lugares, nem sempre
há o respeito devido.
Sensibilidade Natalina
Essa prática hipócrita tem sido, ao longo do tempo, ignorada
pelos chefes da Igreja Católica, como que temerosos de perder a freguesia.
Tomara que um dia, o bispo de Patos ascenda ao trono de São Pedro e, como Papa,
proíba isso e mais coisas que afrontam o sagrado, como o fez com as “missas de
posse”. Não bastasse o que Jesus
aguenta, em sua própria casa quando, crucificado, se vê obrigado a aturar a
hipocrisia que ali se pratica diariamente, tem de ser testemunha também das
malandragens leigas. Vai aqui pelo menos uma recomendação: já que não querem
retirá-lo das paredes, pelo menos o soltem, o retirem da cruz, deixem-no à
vontade. Garanto que se assim o fizerem, ele vai embora de quase todas essas
paredes. Que o sentimento do Natal dê sensibilidade aos hipócritas para que
tenham mais respeito com sua fé.
DSMR, em 24 de dezembro de 2020.
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