“A CAMPANHA DE PRINCESA”
JOÃO LELIS DE LUNA FREIRE
Trabalho literário de
relevante importância, o livro do paraibano, João Lelis de Luna Freire: “A
CAMPANHA DE PRINCESA”, lançado em 1944 e reeditado em 2000, trata da Guerra de
Princesa, ocorrida entre os meses de fevereiro a julho de 1930. Na verdade,
essa minuciosa obra se impõe de detalhes, mais especificamente, sobre o cerco
ao Distrito de Tavares. Informativa por si só de um episódio que teve
repercussão nacional e é tido como precursor da Revolução de 1930, o escrito, que
traz algumas informações históricas que localizam o leitor no tempo em que se
passa o evento bélico – em que pese a sofisticação da narrativa -, está mais
para um quase diário de guerra. Mesmo contido de alguns erros de datas, além de
algumas inverdades¹, o livro é
leitura indispensável para quem quer compreender a história de Princesa, da
Paraíba e, sobretudo, os primórdios do movimento revolucionário que derrubou a
República Velha.
O que é corriqueiro
acontecer quando a história é contada por quem dela participou, o escrito de
João Lelis peca pela falta de isenção quando da excessiva tendência em louvar o
presidente João Pessoa Cavalcanti de Albuquerque. Nada que se possa estranhar
em um jovem intelectual, à época articulista do órgão de imprensa oficial do
estado da Paraíba, A União que, voluntariamente,
adentrou pelo sertão paraibano com o intuito de noticiar as coisas daquele
conflito. Segundo o jornalista Kubitschek Pinheiro, encontraremos no livro: (...) a saga de um repórter de guerra e
todas as verdadeiras emoções vividas pelos homens em luta, na mais oportuna campanha
de Princesa, sem rastro de espírito
aventureiro”. Mostra de que o autor de “A CAMPANHA DE PRINCESA”, optou pelo
lado da polícia, é a insistência em descrever os lutadores de Princesa como
cangaceiros. Isso foi estabelecido pela propaganda do Governo do Estado, à
época, para tentar desmerecer os homens do coronel José Pereira Lima. É bem
verdade que, no seio da tropa princesense, existiam facínoras, mas é sabido que
a maioria dos lutadores de 1930, eram trabalhadores e homens de bem. Melhor
seria, haver nominado os estranhos na luta como voluntários ou mercenários. Excerto
do livro às páginas 40:
“Êsse ajuntamento de homens os mais
diversos, pela procedencia excusa e pela má conduta, a que não faltava a figura
do autentico cangaceiro, armas na mão e pronto à execução de ordens mais
temerárias, foi logo conhecido das autoridades do estado. Daí a urgência de medidas
que, por sua prestesa e eficiência, fizessem voltar a Paraíba à calma e à ordem,
que uma tal ameaça transformara em intranquilidade e receio”.
Exatamente o oposto do
também parcial autor do livro: “A Heróica
Resistência de Princesa” (resenha imediatamente anterior), José Gastão
Cardoso, que tece rasgados elogios a José Pereira Lima, assim João Lelis
descreve o Coronel de Princesa:
“Era civil por índole, por
convivência e por atitudes. Um político – proselitista e regougante de
vaidades, tecido dos defeitos e virtudes de sua gente, de sua época, do seu
meio. Egoista, como quase todo sertanêjo, centralizador e abafante, franco e
desconfiado, impetuoso e diplomata”.
Enquanto isso, sobre
João Pessoa Cavalcanti de Albuquerque, Lelis, sempre se refere a ele como “O
Grande Presidente”. Reforçando o caudal de informações diversas sobre a Guerra
– o que faz da publicação em tela, uma fonte espetacular do que aconteceu no
dia-a-dia do sítio de Tavares, o autor, a bem da informação isenta, oscila no
dizer das diversas e diferentes situações, enfrentadas pelos combatentes dos
dois lados. Vejamos o contido às páginas, 278 e 279:
“As colunas (Norte e Leste), que
formavam as linhas da vanguarda das tropas que combatiam em Princêsa, viviam
num grande isolamento, o que lhes acarretava um sofrimento permanente, cheio de
atrocidade e desalentos”. (...) O inimigo era mais poderoso em gente e balas.
Não o atrofiava a magrém dos bornais e o seu efetivo atingia a mais do duplo
das tropas legais. Além disso, não deixava ao adversário a iniciativa de
avançar sempre que lhe descobria intenções de investir sobre Princêsa,
fazendo-o gastar a munição que vinha, avaramente, acumulando nos períodos de
estacionamento. E isso era uma tortura”.
Nascido em Alagoa
Nova/PB, aos 04 de abril de 1909, foi casado com dona Maria de Lourdes Costa
Luna Freire, com quem teve os filhos: João, Jorge, Ronaldo, Roberto, Sérgio,
Fernanda e Alexandre. Com apenas 21 anos de idade, João Lelis de Luna Freire,
tornou-se repórter de guerra como testemunha presencial do maior conflito civil
já havido no estado da Paraíba. Jornalista, professor e advogado por formação;
membro da Academia Paraibana de Letras e sócio do Instituto Histórico e
Geográfico da Paraíba, foi também prefeito das cidades paraibanas de Taperoá e
Mamanguape e da comuna norteriograndense de Santa Cruz de Inharé e deputado
estadual pela Paraíba. Faleceu em 24 de julho de 1954. Nas palavras do
jornalista Osias Gomes: “Deixando sua
marca, a história de um humanista que ainda hoje se cultua”. Além dessa importante
obra em contributo à historiografia paraibana, Lelis escreveu mais três livros.
DSMR, em 02
de dezembro de 2020.
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