”1930 – ÁGUAS DA
REVOLUÇÃO”
JUREMIR MACHADO DA SILVA
O livro:1930 – Águas da
Revolução, do jornalista e escritor gaúcho, Juremir Machado da Silva,
editado em 2010 pela Editora Record, é um romance contido de 29 capítulos,
sendo o décimo, dedicado às ocorrências na Paraíba, sobre a Revolução de 1930.
Nessa parte do escrito, o autor inicia tratando da querela tributária entre o
presidente João Pessoa Cavalcanti de Albuquerque e seus primos do Recife, os
Pessoa de Queiroz. Realçando a briga, Juremir escreve, às páginas 98:
“Essa é a Paraíba de 1930: um
fervedouro de paixões, de intrigas, de interesses contrariados, de tendência
para atos violentos e de inimizades sem fim”.
Adiante, trata da visita do presidente da Paraíba a Princesa,
discorrendo sobre a festiva recepção promovida pelo coronel José Pereira Lima
e, ao contrário do escritor Ademar Vidal, que chama o coronel de
semianalfabeto, Juremir eleva Zé Pereira ao grau de doutor, referindo-se ao
mesmo como: “(...) o advogado, ‘coronel’
e várias vezes deputado José Pereira”. Sobre a visita, Juremir realça a
versão de que, logo de saída de Princesa, João Pessoa enviou por um ajudante, a
lista dos candidatos que formariam a chapa para concorrer aos cargos de
deputados e do terço do Senado, para conhecimento de José Pereira. Em seguida,
cita o debate entre os deputados gaúchos, Roberto Moreira e João Neves da
Fontoura, na Câmara Federal, sobre a versão mentirosa montada pelos
revolucionários. Na fala de João Neves da Fontoura:
“Entre João Pessoa e José Pereira não
houvera a mínima discrepância. Reinou entre ambos absoluta cordialidade. A 22,
João Pessoa regressou à capital. Mal ele partira, José Pereira enviou-lhe um
radiograma, insurgindo-se contra a referida chapa de deputados, que nas
vésperas aceitara sem objeções”.
De forma isenta, Machado descreve sobre o rompimento de Zé
Pereira com João Pessoa, citando os telegramas enviados, de parte a parte. Do
coronel Zé Pereira:
“(...) Por tudo isso, delibero adotar
a chapa nacional, concedendo liberdade aos meus amigos para usarem do direito
de voto consoante lhes ditar a opinião, comprometendo-me ainda a defendê-los,
se qualquer violência do governo atentar contra o direito de voto assegurado
pela Constituição”.
Em parágrafos seguintes, o escritor afirma que o rompimento
político foi“uma ruptura encomendada”;
isso referindo-se à influência dos Pessoa de Queiroz sobre o levante de
Princesa. Afirma também que a Paraíba foi o combustível para a eclosão da
Revolução de 1930, dizendo: “Não se faz
uma revolução sem acontecimentos inesperados, sem um tanto de acaso, sem
vaidades feridas, ideais hiperdimensionados, pessoas em ebulição, homens
estranhos, singulares, impressionantes e surpreendentes”. Com relação à
proclamação do Território Livre de Princesa, Juremir afirma que, com isso, “O Brasil terá sua pequena república
municipal”.
Às páginas 102 e 103, o autor discorre sobre a adesão de
Princesa aos próceres do Catete, corroborando a versão de que, quem disparou o
primeiro tiro foi João Pessoa através da polícia da Paraíba:
“(...) João Pessoa, encurralado por
seus inimigos conservadores, entrará na Aliança Liberal, levando seus oponentes
a fazer o oposto. Princesa, a cidade de José Pereira, encontrará um jeito de
ficar do lado do poder central, o que levará João Pessoa a desencadear a
repressão, atingindo a família Dantas, aliada de Pereira, de Suassuna e dos
principais adversários do governador. As diligências policiais encontrarão o
que não devem. O privado será tornado público. As revelações sobre os amores de
João Dantas e Anaíde Beiriz ou sobre os negócios escusos de Franklin Dantas
acordarão o chacal que, segundo Charles Darwin, sempre dorme em cada homem”.
Sugerindo haver sido, a Guerra de Princesa, o estopim dessa complexa trama, Machado consigna,
às páginas 104, discurso do deputado aliancista, João Neves da Fontoura,
proferido da tribuna da Câmara dos Deputados, realçando a participação do
presidente da República, Washington Luís, como patrocinador da Revolta:
“A intentona de Princesa é das que
nascem não só de um solo ensopado de sangue criminosamente vertido, como de um
pântano em que a lama das degradações constitui a matéria-prima da desordem. A
alegada justificativa do levante não passa de uma inverdade descabelada. Vou
destruí-la com o testemunho de seus próprios cúmplices como pelo depoimento
unânime dos membros da Comissão Executiva do Partido Republicano da Paraíba”.
Em seguida, Juremir reproduz telegrama comprometedor expedido
por José Pereira, ao subdelegado de Sant’Ana dos Garrotes, em 27 de fevereiro
de 1930, que corrobora o discurso do deputado João Neves:
“Haveremos de provocar a intervenção,
pois estou disposto a ocupar todos os municípios do sul do Estado; o mesmo fará,
no norte, outra força comandada por pessoa em evidência (...). Não se enganem,
porque a nossa causa está amparada pelos próceres da política nacional”.
Sobre o coronel José Pereira, Juremir afirma no final do
capítulo dedicado a Princesa: “José
Pereira perambulará por vários estados do Nordeste. Mudará de nome sempre que
preciso. Passará a chamar-se Honorato Cavalcanti ou Dionísio Pedro. Será
anistiado em 1934. Morrerá de apendicite aguda em 1949. Princesa chorará sua
morte”.
O trabalho literário do jornalista Juremir Machado, nos dá
ciência de que foi fruto de exaustiva pesquisa, uma vez que as várias citações,
envolvem extensa literatura sobre o assunto, principalmente sobre Princesa.
Indispensável, portanto, a leitura de 1930
– Águas da Revolução, um livro romanceado e ligeiro, de fácil compreensão
e, acima de tudo, primado de isenção.
Juremir Machado da Silva, nasceu em 29 de janeiro de 1962 em
Santana do Livramento, Rio Grande do Sul. Escritor,
tradutor, jornalista, radialista e professor universitário. Foi coordenador do
Programa de Pós-graduação em Comunicação da Pontifícia Universidade Católica do
Rio Grande do Sul. Além deste livro, publicou várias outras obras importantes.
DSMR, em 13 de janeiro de 2021
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