“NOSSO SÉCULO”
EDITORA ABRIL CULTURAL
A Coleção “NOSSO
SÉCULO”, da Editora Abril Cultural, foi lançada nos anos de 1980/81, em
fascículos semanais, com o intuito de rememorar a história brasileira durante a
vigésima Centúria da nossa era. É a história do Brasil contemporâneo, reunida
em quatro grandes volumes.No segundo volume da coleção “NOSSO SÉCULO”,referente ao período de 1930 a 1945,a Editora Abril,
trata também da história da Revolução de 30 e, nas páginas 08 e 09, faz breve
referência à Guerra de Princesa, seus precedentes e seus efeitos. Como não
poderia deixar de ser, o nosso município está inserido também nesse trabalho
magistral de uma das editoras mais importantes do país. Inicia sobre o tema,
realçando que, com a posse do novo presidente (governador) da Paraíba, João
Pessoa Cavalcanti de Albuquerque, suas ações modernizadoras desagradaram às
oligarquias rurais e, em curto espaço de tempo, se transformaram em caldo de
cultura para a rebelião, o levante de Princesa:
“A crise econômica do final dos anos
20 refletia-se na Paraíba em generalizado descontentamento. Estado pobre,
escoava a maior parte de sua produção através do porto do Recife, PE, o mais
importante centro do Nordeste. Ao assumir o governo da Paraíba em 20 de outubro
de 1928, João Pessoa adotou severas medidas protecionistas para incrementar o
comércio local. Com isso, desencadeou uma verdadeira guerra tributária que
impedia que as localidades sertanejas da Paraíba comercializassem diretamente
com os Estados vizinhos, principalmente, Pernambuco”.
As medidas moralizadoras e protecionistas – estas últimas
baseadas na criação de um “imposto de barreira” que protegia a Paraíba em
detrimento dos estados vizinhos -, tomadas por João Pessoa, o fizeram
popularíssimo na capital paraibana, o que repercutiu positivamente nos grandes
centros urbanos do país. Porém, no interior, a revolta se fez rigorosa e muito
grande o descontentamento por parte das oligarquias sertanejas contráriasa
essas medidas que, se beneficiavam os negócios e as exportações, via porto de
Cabedelo, prejudicavam fortemente os produtores e comerciantes do interior
sertanejo. Somado a isso, houve também as implicações políticas, quando João
Pessoa, além de punir os oligarcas, coronéis, com medidas econômicas,
desprestigiou-os também na seara política. Esse comportamento governamental
começou a estimular os grandes poderosos do interior a rebelarem-se contra o
presidente incauto. Conselhos não faltaram, admoestações de seu tio Epitácio Pessoa recomendavam cautela na
condução das reformas. Nada fez João Pessoa parar:
“Ao mesmo tempo que essa campanha
regionalista garantia apoio popular ao presidente aliancista da Paraíba, também
aumentava seus inimigos no interior – comerciantes, exportadores e fazendeiros,
que viam seus interesses prejudicados. Essa atitude acelerou a conspiração de
oligarcas conservadores aglutinados em torno de José Pereira, chefe político de
Princesa, onde em 10 de março (sic),
iniciou um levante armado contra o governo”.
O rompimento do coronel José Pereira com o presidente João
Pessoa teve o apoio de vários próceres da política paraibana. Em consequência
disso, eclodiu a Guerra de Princesa, em 28 de fevereiro de 1930, o que perdurou
por longos cinco meses. No dia 26 de julho de 1930, o advogado João Duarte
Dantas assassinou o presidente da Paraíba, em Recife, o que se constitui para
muitos historiadores como o estopim da Revolução de 1930. E esse estopim, foi
aceso pelo fogo da Guerra de Princesa. Aliás, esse assassinato já era prenunciado
por muitos. É tanto que, na página 09 da Coleção,“NOSSO SÉCULO”, está estampada uma charge, divulgada pela revista
carioca,“O Malho”,em 28 de junho de
1930 – portanto, quase um mês antes do crime da Confeitaria Glória-, intitulada:“As Carpideiras”, o que reproduzimos
abaixo:
A charge acima, leva a seguinte legenda: “Antônio Carlos [presidente do estado de Minas Gerais]: -Podes morrer tranquilo, meu caro João
Pessoa! Elas já estão prontas para fazer-te, depois de tua morte, uma linda
manifestação de solidariedade...”. As “carpideiras” estão representadas por
políticos gaúchos e mineiros. Era como se já soubessem que o presidente João
Pessoa seria sacrificado para viabilizar a revolução que se preparava. Na mesma
página, realçando o efeito causado pela morte trágica do presidente paraibano e
a exploração política feita com seu corpo quando, para ser sepultado no Rio de
Janeiro, percorreram quase toda a costa brasileira, em comícios acusando a
República Velha pelo assassinato, há uma interessante citação do jornalista
Barbosa Lima Sobrinho:
“Nenhuma caravana política, de tantas
que percorreram o Brasil das candidaturas aliancistas, pôde fazer pela causa o
que esse cortejo fúnebre vai conseguindo. (...) João Pessoa vivo foi uma voz
contra a revolução. Mas João Pessoa morto foi o verdadeiro articulador do
movimento revolucionário”
Na mesma página 09,
num detalhe, há uma referência ao que,“NOSSO
SÉCULO”, chama de “O Levante de
Princesa”:
“Tudo começou a 28 de fevereiro de
1930, quando João Pessoa enviou tropas da polícia para vários municípios
sertanejos, a pretexto de garantir as eleições de 1º de março. Ora, essa região
do alto sertão paraibano obedecia às ordens do “coronel” José Pereira, chefe
inconteste de Princesa e há muito indisposto com o líder aliancista João Pessoa.
Seus aliados no município de Teixeira, os Dantas, resolveram resistir às
medidas do governador e receberam a polícia a bala. Em poucos dias, José
Pereira reuniu 2 000 homens e armou-os para enfrentar os 870 membros da
polícia. A história se repetia: o sertão estava em guerra. Durante a campanha,
o “coronel” de Princesa recebeu armas de São Paulo (Júlio Prestes) e apoio
financeiro da família Pessoa de Queiroz, proprietária, em Pernambuco, do Jornal do Comércio. Ao mesmo tempo, o
governo federal (que se expressava pela Concentração Conservadora, vitoriosa
nas eleições de 1930), começou a criar dificuldades para João Pessoa, impedindo
que este obtivesse armas em outros Estados e deslocando, a partir de junho,
tropas do Exército para a Paraíba. Mas a intervenção federal não chegou a se
consumar. A 26 de julho, João Pessoa era assassinado por um membro da família
Dantas e pouco depois a guerra terminava”.
A econômica referência que, “NOSSO SÉCULO”,faz à Guerra de Princesa, deve
ser considerada de grande importância, uma vez que, publicação de tal magnitude,
não dispensou igual atenção a outros fatos - também relevantes da nossa
história -, quanto aos acontecidos em Princesa. Além do registro, vale a pena
orientar para que, interessados pela história, tomem conhecimento dessa
importante obra, que abrange a história nacional, desde o primeiro ano do
século XX, até os anos 1980.
DSMR, em 03 de março de 2021.
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