RAIMUNDO ONOFRE – O
AMIGO DO REI
GILVAN DE BRITO
O livro do advogado e jornalista, Gilvan de Brito,
intitulado: RAIMUNDO ONOFRE - O AMIGO DO
REI, lançado pela gráfica e editora Edições Trevo – João Pessoa/PB – 2001, contém
271 páginas e trata da biografia de um dos personagens mais emblemáticos da política
paraibana: Raimundo de Paiva, mais conhecido como Raimundo Onofre. Nas palavras
do jornalista, escritor e historiador, Hélio Nóbrega Zenaide, subscritor da
apresentação desse livro:
“Não se pode escrever a história
política da Paraíba desconhecendo-se a história dos políticos paraibanos. E
Raimundo Onofre é um político que viveu intensamente a política da Paraíba no
pós-redemocratização de 1945, cultivando singular relacionamento com gregos e
troianos, com todos os políticos importantes de todos os partidos políticos
daquela época, correligionários e adversários, amigos e inimigos, sendo uma
espécie de “repórter Esso” da política paraibana: era sempre o primeiro a dar
as últimas notícias”.
Raimundo Onofre, foi deputado estadual (1951/1955) à
Assembleia Estadual da Paraíba, mas notabilizou-se, principalmente, pela
estreita amizade cultivada com o então senador Ruy Carneiro – que a ele se
referia como “o filho que não tive”. Onofre reverenciava o senador como se fora
seu “rei” (daí o título desse livro). Justifica-se a resenha desse trabalho, na
série que este Blog vem apresentando, pelas altas referências do biografado
sobre a personalidade do coronel José Pereira Lima, por quem tinha verdadeira
admiração, somente superada pela dispensada ao seu guru, Ruy Carneiro. Já na
apresentação da obra, o autor descreve:
“Raimundo Onofre é o exemplo típico
de pessoa que pelas ações, pensamentos, ideias, propósitos, emoções e sentimentos,
ofereceu meios para que se possa compreender o ambiente político-social
paraibano no contexto histórico de um Brasil moderno, pós Artur Bernardes, de
1922 a 2001, há 79 anos, portanto, quase um século. (...) enquanto transitou
pela vida política paraibana Raimundo Onofre foi, pelo seu estilo contundente e
vulcânico, instrumento da ordem e da desordem, presenciando ativamente ou
participando diretamente de traições, conspirações, negociações e conchavos
contra ou a favor, plantando marcas em cada equívoco ou contraste. (...)
Admirador confesso do coronelismo nordestino, tinha em José Pereira, de quem
foi discípulo e amigo, o exemplo vivo de um administrador competente e a imagem
irretocável de um bravo revolucionário”.
Segundo relata o autor desse trabalho, além do senador
paraibano, Ruy Carneiro, Onofre admirava - como já vimos -, fortemente o
coronel José Pereira Lima de Princesa. Conheceu este, no Recife, em 1947, a
quem definia como “homem pacífico, civilizado, humano, amável, de formação
universitária e ex-parlamentar”. A amizade entre os dois foi imediata, e se
tornaram íntimos e confidentes. Nas páginas 42 e 43, nas palavras de Gilvan de
Brito:
“Raimundo Onofre escolhera José
Pereira como ídolo e não escondia as razões da preferência: demonstrava
atitudes fortes, firmes e decisivas e fora protagonista de um dos episódios
mais marcantes da vida paraibana, ao criar o Território Livre de Princesa, contribuindo
para o surgimento da Revolução de 30. Era, porém, sincero, plácido e cândido,
ninguém seria capaz de reconhecê-lo como um dos grandes responsáveis pela queda
da República Velha e das mudanças de rumo da política, da administração, dos
costumes e da história do País.”
Em face desse relato, mais uma vez se constata a importância
da guerra civil paraibana, conhecida como a Guerra de Princesa, como
contribuição para a eclosão da Revolução de 1930. Daí patenteado, que a
participação de Princesa foi fundamental no movimento que teve o condão de
mudar o Brasil. Ainda nesse relato, o autor informa que o coronel Zé Pereira
havia dito a Raimundo Onofre que, não fora o assassinato do presidente João
Pessoa, em 26 de julho de 1930, na Confeitaria Glória, no Recife, em poucos
dias seria, o governante paraibano, deposto pela força dos coronéis
nordestinos: “O coronel Juvenal Lamartine (governador do estado do Rio Grande
do Norte) viria com dois mil homens; de Pernambuco era esperado o coronel Caio
de Lima Cavalcante, com três mil homens, e do sertão da Paraíba surgiria José
Pereira, com três mil e quinhentos homens, armados até os dentes, enquanto a
força estadual só tinha três balas disponíveis para cada um dos 700
artilheiros. As referências de Raimundo Onofre sobre o coronel princesense, em
que pese sinceras, guardavam algum exagero:
“O coronel José Pereira foi, para
ele, o maior homem que a Paraíba já produziu em todos os tempos. Tivesse ele
[José Pereira] assumido o comando do Estado em 1930 a Paraíba certamente seria
outra. Lembrava também palavras filosóficas de José Pereira, de que ‘difícil não é mostrar coragem, difícil é
esconder o medo’. Realçava que até os homens mais fortes tinham seus pontos
fracos. Os de José Pereira, enumerou-os: ‘Injeção,
alma e avião – morria de medo’”.
Sobre Raimundo Onofre, os ex-ministro José Américo de
Almeida, dizia: “Raimundo Onofre é tão hipócrita que, para enganar o
semelhante, chora pelo olho de vidro”. Onofre, acometido de uma infecção,
perdeu o olho direito e, por questão de estética, usava um olho de vidro. Muito
católico, por orientação do coronel José Pereira, tornou-se devoto do Padre
Cícero do Juazeiro, de quem matinha um quadro com sua imagem, dependurado numa
das paredes de seu quarto de dormir. Onofre foi amigo do então deputado
federal, o princesense, Alcides Vieira Carneira a quem nomina como um dos
maiores oradores do País. Foi contemporâneo, como deputado estadual, de outro
princesense ilustre, na Assembleia legislativa, Zacarias Sitônio.
Raimundo Onofre conheceu e conviveu com vários coronéis
nordestinos, de nomes famosos, como: Chico Heráclito, Agamenon Magalhães, Fábio
Corrêia e Etelvino Lins, em Pernambuco; Góis Monteiro, em Alagoas e Juracy
Magalhães, na Bahia; Leandro Maciel, em Sergipe; Vitorino Freire, no Maranhão;
José Augusto, Dinarte Mariz e Teodorico Bezerra, no Rio Grande do Norte. Porém
o coronel José Pereira de Princesa, foi o seu guru, amigo e ídolo em quem
procurou se espelhar.
A obra que ora resenhamos, se não trata da Guerra de Princesa
em detalhes ou não traz informações importantes acerca da história, se basta
como referência pelo fato de ater-se a uma das personalidades mais importantes
da historiografia local: o coronel José Pereira Lima que, falto de uma
biografia, tudo a que a ele se refere, tem o caráter de um contributo para
melhor conhecermos a nossa história. Leitura necessária, portanto.
Gilvan de Brito nasceu em João Pessoa
em 1940, formado em Direito pelo UNIPÊ em 1983, é escritor, poeta, teatrólogo,
ensaísta, jornalista, dramaturgo, letrista e ator. Tem 135 livros escritos, 25
publicados. Escreveu 15 roteiros para cinema e 25 peças teatrais. Hoje, aos 81
anos de idade, reside na capital paraibana.
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