MARIA AURORA DINIZ nasceu na Villa de Princesa às 17 horas do dia 27 de dezembro de 1914. Era a filha mais velha daquele que seria, mais tarde, o importante líder político princesense, Nominando Muniz Diniz, mais conhecido por “Seu Mano”. Sua mãe era dona Aurora Sérgio Diniz. Viveu toda sua vida em Princesa, onde logo cedo fez os primeiros estudos na Escola do professor Adriano Feitosa Cavalcanti, completados no Grupo Escolar “Gama e Melo”. Diferente de seus irmãos (José, Antônio, Inês e Maria do Socorro) cursou somente o ensino fundamental. Na verdade, Maria Aurora, que era carinhosamente chamada de “Tita” pelos familiares e amigos íntimos – sem prejuízo à sua condição de mulher -, constituiu-se como se fora um filho varão do comerciante, industrial, proprietário de terras e político Nominando Muniz Diniz. A filha mais velha de “Seu Mano” - que morreu solteira -, teve apenas um namorado, chamado Agnélo França Diniz. Este, que era seu primo e também secretário particular de seu pai, mesmo assim não caiu nas graças do líder político que não via com simpatia aquele relacionamento. Malgrado a desaprovação do pai quanto ao namoro, Maria Aurora o manteve até que uma fatalidade a separou de seu grande amor. Agnélo contraiu um mal reumático grave que o matou precocemente, em 17 de fevereiro de 1943, aos 32 anos de idade.
Nos bastidores da política
Depois dessa desilusão amorosa, a moça, então contando apenas
29 anos, resolveu manter-se solteira para sempre. Com essa decisão, passou
Maria Aurora, a dedicar-se à administração da chamada “Casa Grande” da
importante e rica família Diniz. Com o tempo, foi-se especializando na arte dos
bastidores da política, tornando-se auxiliar importante do pai e do irmão
(Antônio Nominando Diniz) nas articulações político-eleitorais. Nunca se
candidatou a cargo eletivo algum, porém, sempre teve efetiva participação nas
negociações políticas e nas campanhas eleitorais de “Seu Mano” e de doutor
Antônio (ambos foram eleitos prefeitos de Princesa e deputados estaduais).
Envelhecido Nominando, a filha passou a dar as cartas na mesa
da política nominandista no
município. Seu irmão, Antônio, na qualidade de deputado estadual, articulava na
capital João Pessoa, enquanto Maria Aurora mandava em Princesa. Com o
falecimento do pai, em 1974, “Tita” tomou, definitivamente, as rédeas do
comando, tanto político, quanto dos bens e dos negócios da família. Cuidava de
tudo. Administrava as fazendas, os imóveis, negociava a produção de algodão, a
venda de gado, enfim, exercia o papel de curadora do patrimônio deixado pelo
velho patriarca. Tinha tanto poder de liderança no seio familiar, que nem o
inventário dos bens foi feito após a morte do velho.
DONA MARIA AURORA JOVEM
Murros na mesa
Em 1976, por ocasião da escolha dos candidatos para comporem
a chapa majoritária para a eleição de prefeito e vice-prefeito de Princesa,
Maria Aurora apresentou o nome de Sebastião Feliciano dos Santos (Batinho),
como seu candidato preferido para encabeçar a chapa. Essa indicação causou sérias
objeções por parte de outros próceres do partido que intencionavam ser também
ungidos como candidatos naquela eleição. A hegemonia nominandista reinava em Princesa e o pleito se apresentava fácil
para o grupo “Diniz”. No entanto, a filha de “Seu Mano” bateu o pé num acintoso
enfrentamento à liderança do irmão Antônio e dos demais representantes da
agremiação partidária no município e manteve sua determinação pela preferência
do nome por ela escolhido. Diante da insistência do irmão deputado para que ela
enveredasse pelo caminho da ponderação e do consenso partidário, mudando a sua decisão
e optando por um nome que agradasse a todos, “Tita” deu um murro na mesa e
disse: “O candidato a prefeito, da minha
e da nossa preferência, é Batinho e tá encerrado o assunto!”. Insatisfeitos
com essa monocrática decisão de Maria Aurora e contundente determinação em
defender sua própria vontade – isso em detrimento do interesse da maioria -,
vários membros do partido, sentindo-se desprestigiados e preteridos em suas
pretensões ameaçaram rompimento político, alegando que Batinho era um “pé-rapado”,
“moleque de recados” e que não reunia as condições necessárias para concorrer
ao mais alto cargo do município, tampouco possuía meios para bancar uma
campanha eleitoral e garantir uma vitória nas urnas. Diante desses argumentos a
matrona deu outro murro na mesa, desta vez mais forte ainda do que o primeiro e
invectivou: “Se preciso for, vendo o
derradeiro boi da fazenda de papai, mas elejo Batinho!”. Em face dessa
arrojada e definitiva determinação, somado à passividade do irmão Antônio e,
impotentes para enfrentarem a matriarca que se consolidava como a “chefa” do
clã político, a maioria dos correligionários acatou a decisão e, com o
ostensivo apoio de Maria Aurora, Batinho submeteu-se às urnas e foi eleito
prefeito de Princesa, derrotando João Pacote que teve o amparo eleitoral do
grupo “Pereira”.
Na verdade, a maioria dos partidários do grupo “Diniz”, sem
alternativa, se submeteu à vontade da “matrona”. Porém, alguns, afoitos, se
revoltaram e se bandearam para as hostes do partido adversário, comandado por
Aloysio Pereira e Gonzaga Bento. Foi o caso de João Brandão (João Pacote) e
Epaminondas Bezerra Leite (Novo Bezerra), que não somente aderiram como formaram
a chapa - adversária à encabeçada por Batinho -, como prefeito e vice-prefeito,
respectivamente, apoiada do grupo “Pereira”. Em que pese ser uma mulher
educada, de boa conversa, alegre, simpática e, aparentemente, afável, “Tita”
não tergiversava em suas decisões ou opiniões, fossem políticas, negociais ou
de cunho particular. Quando contrariada, agia com determinação e até rispidez,
sendo por isso sempre muito respeitada.
Devotada à religião
Muito religiosa, Maria Aurora, frequentava com assiduidade os
ofícios da Igreja Católica. Pertencia à associação do “Apostolado da Oração” como
Zeladora do Sagrado Coração de Jesus e contribuía financeiramente para suprir às
necessidades da Igreja Matriz. Muito caridosa, praticava aquela máxima que diz:
“Dê com a mão direita, sem que a esquerda
perceba”, e assim o fazia. Em
casa, praticava com presteza a sua generosidade nata com relação aos menos
favorecidos. A chamada “Casa Grande”, situada à Praça José Nominando, após a
morte de seus pais, passou a ser por ela comandada com mão de ferro, porém, de
portas sempre abertas e garrafas de café sobre uma grande mesa para servir a
todos de forma indiscriminada. Recebia correligionários e amigos, tratando-os
sempre com muita atenção e presteza, além de realizar também a política do
assistencialismo – ajudava até financeiramente aos muitos que lhes procuravam -,
o que, sob sua égide, certamente ajudou a proporcionar muitas vitórias
eleitorais ao grupo político comandado por sua família.
O fim
Em 1996, já aos 82 anos de idade, passou o bastão do comando
da agremiação partidária nominandista
para o marido de sua sobrinha, Flora Diniz, doutor José Sidney Oliveira que, a
partir daí tornou-se o comandante político do grupo “Diniz” em Princesa. Teve
idade provecta e, enquanto lúcida, até certo ponto administrou a política. Quanto
os bens e aos negócios da família, somente deixou de tudo resolver quando
adoeceu. Já passando dos 80 anos de idade foi acometida do mal de Alzheimer,
cessando suas atividades quando se evidenciaram exacerbados os sintomas da
doença. Completamente senil faleceu, a matriarca da política princesense, aos
87 anos de idade, em 02 de junho de 2002 e foi sepultada no cemitério de
Princesa. Hoje, existem uma Rua e uma Praça (com seu busto, ali colocado quando
da minha administração como prefeito) construídas em sua homenagem, num justo
reconhecimento àquela que muito fez por sua Terra e, principalmente, pela
influência que teve na condução dos destinos políticos de Princesa. Em face
disso, é considerada, Maria Aurora Diniz, uma das personalidades mais ilustres
de Princesa.
Parabéns Dominguinhos por essa homenagem muito merecida a pessoa de minha querida tia Maria Aurora. Realmente o norte da minha família, por um bom período em nossas vidas.
ResponderExcluirMaria Aurora, nossa saudosa Tita, sempre será um marco de ferrenha defensora da ética em todas as suas manifestações! Viveu com extrema simplicidade e dedicou sua vida a praticar benfazejas em favor dos mais humildes e prol de nossa amada Princesa Isabel. Foi uma grande prova de que humildade não se confunde com omissão nem tampouco submissão, e, quando necessário, ela sempre teve pulso firme. Esse episódio da escolha de Betinho como candidato a prefeito, foi, salvo lapso de memória, a única vez que Maria Aurora precisou subir o tom, e, no caso concreto, em favor de uma pessoa simples, do povo, contrariando, como muito bem descrito, os interesses de "poderosos" da época!!! Viveu e nos deixou um grande legado de simplicidade e luta!!! Tenho a honra de ser filho da sobrinha mais velha de Tita, Maria Adelaide Diniz , filha de José Nominando Diniz, cuja semelhança com a saudosa Tita, seja com relação à firmeza de caráter, capacidade de lutar e se reinventar em defesa dos menos favorecidos, inclusive nos levou à graduação em Direito, pois a busca por justiça, consolidade na história familiar, posteriormente marcada por perdas de entes queridos em razão de homicídios que vitimaram meu saudoso irmão Bebeto e meu saudoso Tio Manito, jamais nos fizeram deixar de lutar pela justiça por intermédio dos Tribunais, mantendo limpas nossas mãos e consciências!!! Tenho muita honra de ser descendente dessas mulheres e espero em Deus ver a Justiça prosperar, em quaisquer de suas esferas, seja nos Tribunais, seja a Justiça Divina! Rogo, ainda, pela possibilidade de ter um pouco que seja, da fibra de ambas, com as quais, muito aprendi (e aprendo) a ser mais ético e humano. Registro meu apreço ao Domingos Sávio Maximiano Roberto Dominguinhos , pela homenagem prestada e pela sua ética em nos proporcionar leituras isentas de quaisquer contornos político-eleitorais ao tratar com muito respeito e lastreado em verdades, inclusive os que não mais figuram como seus parceiros eleitorais. Meus respeitos e gratidão por tão justa homenagem!
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