Proclamação é algo que acontece para oficializar,
solenemente, o que é do conhecimento de todos e que foi feito dentro da
legalidade. O caso da proclamação da nossa República foi diferente: aconteceu à
revelia da vontade popular, aliás, não somente isso, mas, em completo
desconhecimento do povo e com a quase anuência do chefe do governo, o imperador
dom Pedro II.
Enfastiado do poder, o velho imperador, de olho nas
bibliotecas da França, agiu como quem esperava ansioso por essa oportunidade. A
crise gerada pela Abolição da Escravatura, que retirou do monarca o apoio da
maioria dos latifundiários que se viram, de repente, privados do benefício da
mão-de-obra servil, foi também caldo de cultura para o advento do movimento que
culminou com a queda do Império.
Somado a isso, a rejeição a um eventual governo chefiado pela
carola princesa Isabel, que muitos achavam seria guiada pelo marido francês,
Gaston (o conde D’Eu), republicanos como Benjamin Constant, tiveram pouco
trabalho em convencer o marechal monarquista, Deodoro da Fonseca, a tomar para
si a bandeira da ruptura institucional. Isso mesmo, a chamada “Proclamação da República”,
foi um golpe.
Golpe, porque o movimento militar que derrubou o imperador
foi restrito aos quartéis, sem a participação de quaisquer segmentos da
sociedade civil e muito menos do povo. Ocorrida entre a madrugada e a tarde do
dia 15 de novembro de 1889, a conspiração se deu em completo desconhecimento da
Nação. Amanhecido o dia 16, a Família Real já estava embarcada em um navio,
expulsa do Brasil, rumo à Europa.
Aos trancos e barrancos, a nossa República, que já foi
“Velha”, “Estado Novo”, “Nova República” e até submetida a 21 anos de ditadura
militar, vem sobrevivendo e completa hoje 132 anos de existência. Apesar dos
pesares, vimos sobrevivendo a tudo e a todos com a esperança de dias melhores,
o que, com a participação popular e à revelia da incompetência reinante,
certamente haveremos de ver proclamado um novo tempo.
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