Manito e o nego Buzinga
Buzinga era um negro que exercia a profissão de vaqueiro e
trabalhava para quase todos os ricos fazendeiros de Princesa. Era bronco, semianalfabeto,
mas era inteligente. Bebia uma cachaça danada e, aqui acolá, dava pisa nas
raparigas do Cabaré de Estrela. Amicíssimo do advogado Manito, fazia tudo que
este mandava. No entanto, em contrapartida, Manito era quem tirava Buzinga das
enrascadas em que se metia.
Certa vez, o “nego Buzinga”, como era chamado, promoveu um
rebuceteio no Cabaré de Princesa. Surrou umas quatro quengas, quebrou mesas,
garrafas, fez o diabo. Preso pelo cabo Romeu com a ajuda do soldado Anacleto,
foi levado para a cadeia e depois, foi convocado para ser ouvido pelo Delegado
de Polícia. Sabedor do acontecido, Manito logo acorreu em favor do amigo.
Antes de prestar o depoimento, o amigo advogado conversou em
particular com Buzinga para orientá-lo nas respostas que deveria dar ao
Delegado. Manito foi logo dizendo:
- Olhe, Buzinga, na delegacia você se comporte com humildade
e, tudo que o Delegado lhe perguntar você responda somente “sim” ou “não”. Não
pode ser dada outra resposta, entendeu?
Aí Buzinga perguntou:
- Oxente “seu” Manito, e se eu num suber responder? Não pode
dizer nem “marromeno”?
Manito respondeu:
- Não pode dizer outra palavra. Somente “sim” ou “não”
- Vôte! – Respondeu o “nego”.
- Vôte por que Buzinga? – Questionou Manito
- Olhe, “seu” Manito, esse negócio num vai dá certo não. Já ouvi
dizer que esse Delegado é acustumado a perguntar aos preso se eles já deixaram
de dá o cú. E se ele perguntar isso a mim? Se eu responder “sim” vão dizer que
eu já fui fresco; se eu responder “não”, pior ainda, vão dizer que eu sou viado.
Vôte, eu num vou não “seu” Manito. Me deixe preso mermo.
Manito insistiu:
- Mas, Buzinga, é só uma perguntinha e ninguém vai saber não,
homem...
- O sinhô pensa que eu sou besta? Eles escreve lá no papé e a
minha fama depois? Vou de jeito nenhum. Fico preso, mas num vou e pronto.
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