ODE

terça-feira, 23 de novembro de 2021

HOMENAGEM A “SEU MUSA”

COSMO era seu nome. Chegou a Princesa, em 1934, aos dezessete anos de idade, vindo do Recife em cima de um caminhão sobre uma carga de mercadorias que haviam sido trocadas por algodão levado daqui. Chegou, gostou e ficou. “Seu Musa”, como era conhecido por todos, era figura popular nas ruas de Princesa. O preto velho, analfabeto, humilde, respeitador e muito trabalhador, viveu entre nós por mais de sessenta anos. Solteiro, vivia sozinho, tão sozinho que o então prefeito Gonzaga Bento mandou mensagem à Câmara Municipal pedindo autorização para que a prefeitura doasse uma casinha para “Seu Musa” morar. Aprovada por unanimidade, essa proposta virou realidade. Viveu o preto na casinha que lhe foi dada para usufruto e, quando morreu, esse bem retornou à municipalidade, pois, Musa não tinha herdeiros. Era filho adotivo de Princesa e pai de ninguém. Segundo o próprio, seus pais haviam nascido ainda escravizados.

Homenagem

Essa homenagem, mesmo que tardia, vale muito uma vez termos certeza de que “Seu Musa” ainda mora na memória de muitos dos princesenses que têm mais de quarenta anos. É um patrimônio cultural de Princesa e por isso merecido desta homenagem que não é somente minha, mas, de todos os que o conheceram. Sentado a uma das portas da loja de Miguel Rodrigues estava sempre, o preto velho, a ser cumprimentado e a cumprimentar a todos, quando dizia: “Sim sinhô, coloquei”. Era assim que ele falava querendo dizer: “Sim senhor, tudo ok”. Além da força física necessária para o ofício de “cabeceiro” tinha, “Seu Musa”, força maior ainda que era a força moral, uma vez jamais haver sido registrado ato que desabonasse o comportamento daquele desvalido.

O fim

O nosso Cosmo “não sei de quê”, faleceu em Princesa em 1993 e, no seu sepultamento, além de Geraldo Rodrigues e a cachorrinha, somente mais uns quatro ou cinco pés de pessoas. Mesmo assim, para Princesa, “Seu Musa” - que hoje é nome de uma das ruas da cidade -, nunca será esquecido, pois, mesmo humilde em sua longa existência em nosso meio, jamais será lembrado como um anônimo. Viva “Seu Musa!”.



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