Esquecendo de que somos o berço da nacionalidade brasileira, alguns
de nós, nordestinos, nos submetemos ao vexame de tentarmos imitar os irmãos
sulistas quando, de forma caricata, adotamos seu ridículo sotaque e passamos a
falar “chiando”. É isso que o jornalista e dramaturgo brasileiro, Nelson
Rodrigues, chama de “complexo de vira-latas” se referindo aos brasileiros em
relação aos que vivem nas comunidades internacionais ditas desenvolvidas. No
caso em tela quanto a alguns nordestinos, esse complexo se exacerba quando nos
sentimos obrigados a imitar nossos próprios conterrâneos da parte meridional.
Triste constatar a aculturação de pessoas que nasceram e se
criaram no Nordeste e, de repente, sem que nem pra quê, desistem da nossa fala
cantante, maviosa, e passam a adotar o sotaque dos que vivem em São Paulo e no
Rio de Janeiro. São vários os exemplos: tenho um amigo, com grau de instrução
elevado, que sem mais nem menos passou a falar chiando; uma ex-colega de
trabalho, que falava normalmente entre nós, sempre que atendia ao telefone,
adotava o jeito de falar carioca; uma namorada de tempos atrás me afirmava que
falar corretamente era se expressar como fazem os paulistas e, pasmem! Um amigo
comum, somente pelo fato de haver recebido uma carta de um parente que mora no
Rio de Janeiro, até hoje fala “carioquês”.
São hábitos adotados por quem se despersonaliza em benefício
do que acha superior. É o “complexo de vira-latas” de quem quer imitar aqueles
a quem considera superiores a si próprio e à sua cultura. O Brasil começou aqui
no Nordeste. A nossa região é a mais pródiga na produção de cérebros
privilegiados em contributo à nossa cultura, literatura, etc. Como disse acima,
somos o berço da nacionalidade e disso temos de nos orgulhar. Espelhemo-nos
naqueles que tentamos imitar, pois, nenhum sulista vem pra cá e retorna pra lá
falando com o nosso sotaque. Se pelo menos imitássemos com competência... Mas
nem isso. A língua mater não deixa e
vez por outra, misturamos quando pronunciamos o nosso “oxente” chiando. A nossa
língua é bonita, difícil, doce e bem articulada; o nosso modo de falar
nordestino é peculiar, o problema é o chiado dela que tentamos imitar de forma
caricata e ridícula, o que nos remete ao que Nelson Rodrigues chama de
vira-latismo.
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