ODE

quinta-feira, 20 de janeiro de 2022

LER PARA CONHECER A NOSSA HISTÓRIA


DE PRINCESA A NEW YORK

A história da Revolta de Princesa (PB) contada a partir das notícias do jornal The New York Times

 

O livro: De Princesa a New York, do escritor pernambucano, Hesdras Sérvulo Souto de Siqueira Campos Farias, chegou ao meu conhecimento e às minhas mãos através do historiador princesense, Emmanuel Conserva de Arruda e do médico, meu amigo, Flávio Pereira. Foi uma grata surpresa para mim que cultuo a pesquisa em busca de mais conhecimento sobre a história da Guerra de Princesa. Na verdade, o trabalho em tela não encerra nenhuma novidade, porém, traz à luz um tema por muitos, desconhecido: a narrativa daquele conflito baseada no que noticiou o jornal norte-americano The New York Times. São onze reportagens, publicadas entre 09 de abril e 29 de setembro de 1930.

 

A obra, sem muito rigor grafológico, relata os fatos ocorridos em 1930 realçando inclusive a desimportância que se tem dado, ao longo do tempo a fato tão relevante que foi a também chamada “Revolta de Princesa”, quando se pôs em armas contra o governo do presidente João Pessoa Cavalcanti de Albuquerque. Já na apresentação do livro, o autor escreve:

 

“Causou-me uma certa indignação por não ter estudado isso na escola. É curioso o nosso modelo de ensino da história, onde priorizamos o aprendizado sobre a guerra dos Hicsos contra os Egípcios, sobre a Guerra do Peloponeso, as Guerras Púnicas, a fundação e a queda de Roma, as Cruzadas, as guerras do século XX e tantas outras mais. Todavia, não ensinamos e aprendemos nas escolas do Brasil sobre, por exemplo, a Guerra de Canudos, a Sedição do Juazeiro sobre (sic) a égide do Padre Cícero, o massacre no Caldeirão do Beato José Lourenço, a Guerra de Princesa (grifo meu), o Cangaceirismo e tantos outros movimentos político-sociais ocorridos nos sertões do Nordeste brasileiro”.

  

Não bastasse esse reconhecimento do descaso com a nossa história, Hesdras acrescenta, citando a professora Inês Caminha, dando real importância aos episódios da maior guerra civil ocorrida na Paraíba e reconhecendo o papel de Princesa nesse contexto:

 

“Longe de ser um episódio perdido no interior do Nordeste, o movimento sedicioso de Princesa chamou bastante atenção, inclusive internacionalmente, como vemos nos meios de comunicação da época e teve uma grande importância para acelerar a Revolução de 1930 no Brasil”.

 

Malgrado algumas informações equivocadas, o autor discorre, em linguagem simples, mas elegante sobre os fatos da Guerra de Princesa. Aproveita para dar uma pincelada rápida sobre os antecedentes do conflito, discorre sobre as lutas e situa também o leitor na geografia aonde os fatos ocorreram. Na página 32, Hesdras Sérvulo justifica a intenção dessa importante obra:

“Nosso intuito maior é mostrar a dimensão do ocorrido e o que foi abordado pela mídia internacional, no caso em tela, o The New York Times impresso na cidade de Nova Iorque, distante 6.525,56 km de Princesa”.

 

A primeira notícia veiculada no The New York Times, sobre a Guerra de Princesa foi no dia 09 de abril de 1930. Informava que o levante ainda se preparava e que nada tinha a ver com o Governo Federal, mas sim sobre querelas provinciais atidas apenas à Paraíba. Na verdade, nessa data, já haviam acontecido várias refregas envolvendo os cabras do coronel José Pereira Lima e a Polícia paraibana e já haviam tombado mortos quase 100 homens, de ambos os lados. As notícias seguintes, veiculadas pelo jornal americano, tratam, dentre outras coisas, sobre as mortes ocorridas no conflito; dão conta do movimento das tropas da Força Pública da Paraíba em busca de invadir Princesa; sobre os preparativos da polícia paraibana para bombardear a cidade rebelada; sobre a pior derrota da polícia quando da emboscada no então distrito de Água Branca; noticia o assassinato do presidente João Pessoa, anotando que o motivo foi a Guerra de Princesa; sobre a ocupação de Princesa pelo Exército Brasileiro, e mais, a conferir no escrito de Hesdras. Com relação à notícia sobre a morte do presidente João Pessoa, a folha americana noticiou:

 

“O assassinato resultou de uma guerra de guerrilhas na qual mais de 300 homens, tanto rebeldes quanto policiais do Estado, foram mortos desde o início do ano. Por mais de quatro meses, José Pereira, um deputado estadual, manteve uma rebelião aberta contra as autoridades do Estado. Sua fortaleza é na região em torno da cidade de Princeza, que ele recentemente proclamou um “estado independente”. A briga começou originalmente por uma questão de poder político no Estado”.

 

Como vemos, esse reconhecimento de que a Guerra de Princesa foi mesmo o estopim da Revolução de 1930, se dá até nas folhas de um dos jornais mais importantes do mundo.

 

O mérito do livro que ora resenhamos, em que pese não trazer nada de novo para os que pesquisam sobre o assunto, traz para os menos informados algo de suma importância que é o realce que o The New York Times deu à Guerra de Princesa. Se aquele notório episódio bélico mereceu a atenção de alguns historiadores brasileiros, a mesma atenção – conforme pontua o escritor na apresentação deste trabalho - não acontece com relação à inclusão deste e de outros fatos similares na grade curricular do ensino brasileiro. O resgate, portanto, feito por essa obra do pernambucano Hesdras Sérvulo, vem contribuir grandemente para a divulgação, conhecimento e, principalmente, quanto ao reconhecimento da importância da Guerra de Princesa no contexto da Revolução de 1930. Leitura indispensável.

 

Hesdras Sérvulo Souto de Siqueira Campos Farias é graduado em Ciências Sociais pela Universidade Federal Rural de Pernambuco/Departamento de Letras e Ciências Humanas/Cátedra Ibn Arabi. Pesquisador da área de Antropologia e História das Religiões. É Membro-Fundador do Centro de Estudos e Documentação do Pajeú. Atualmente se dedica aos estudos nordestinos, com sua cultura, seu povo e suas revoltas. Seu enfoque é nos estados de Pernambuco, Paraíba e Ceará.

 




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