DE PRINCESA A NEW YORK
A história da Revolta de Princesa
(PB) contada a partir das notícias do jornal The New York Times
O livro: De
Princesa a New York, do escritor pernambucano, Hesdras Sérvulo Souto de
Siqueira Campos Farias, chegou ao meu conhecimento e às minhas mãos através do
historiador princesense, Emmanuel Conserva de Arruda e do médico, meu amigo,
Flávio Pereira. Foi uma grata surpresa para mim que cultuo a pesquisa em busca
de mais conhecimento sobre a história da Guerra de Princesa. Na verdade, o
trabalho em tela não encerra nenhuma novidade, porém, traz à luz um tema por
muitos, desconhecido: a narrativa daquele conflito baseada no que noticiou o
jornal norte-americano The New York Times.
São onze reportagens, publicadas entre 09 de abril e 29 de setembro de 1930.
A obra, sem muito
rigor grafológico, relata os fatos ocorridos em 1930 realçando inclusive a
desimportância que se tem dado, ao longo do tempo a fato tão relevante que foi
a também chamada “Revolta de Princesa”, quando se pôs em armas contra o governo
do presidente João Pessoa Cavalcanti de Albuquerque. Já na apresentação do
livro, o autor escreve:
“Causou-me uma certa indignação por
não ter estudado isso na escola. É curioso o nosso modelo de ensino da
história, onde priorizamos o aprendizado sobre a guerra dos Hicsos contra os
Egípcios, sobre a Guerra do Peloponeso, as Guerras Púnicas, a fundação e a
queda de Roma, as Cruzadas, as guerras do século XX e tantas outras mais. Todavia,
não ensinamos e aprendemos nas escolas do Brasil sobre, por exemplo, a Guerra
de Canudos, a Sedição do Juazeiro sobre (sic)
a égide do Padre Cícero, o massacre no Caldeirão do Beato José Lourenço, a Guerra de Princesa (grifo meu), o
Cangaceirismo e tantos outros movimentos político-sociais ocorridos nos sertões
do Nordeste brasileiro”.
Não bastasse esse
reconhecimento do descaso com a nossa história, Hesdras acrescenta, citando a
professora Inês Caminha, dando real importância aos episódios da maior guerra
civil ocorrida na Paraíba e reconhecendo o papel de Princesa nesse contexto:
“Longe de ser um episódio perdido no
interior do Nordeste, o movimento sedicioso de Princesa chamou bastante
atenção, inclusive internacionalmente, como vemos nos meios de comunicação da
época e teve uma grande importância para acelerar a Revolução de 1930 no
Brasil”.
Malgrado algumas
informações equivocadas, o autor discorre, em linguagem simples, mas elegante
sobre os fatos da Guerra de Princesa. Aproveita para dar uma pincelada rápida
sobre os antecedentes do conflito, discorre sobre as lutas e situa também o
leitor na geografia aonde os fatos ocorreram. Na página 32, Hesdras Sérvulo justifica
a intenção dessa importante obra:
“Nosso intuito maior é mostrar a
dimensão do ocorrido e o que foi abordado pela mídia internacional, no caso em
tela, o The New York Times impresso
na cidade de Nova Iorque, distante 6.525,56 km de Princesa”.
A primeira notícia
veiculada no The New York Times,
sobre a Guerra de Princesa foi no dia 09 de abril de 1930. Informava que o
levante ainda se preparava e que nada tinha a ver com o Governo Federal, mas
sim sobre querelas provinciais atidas apenas à Paraíba. Na verdade, nessa data,
já haviam acontecido várias refregas envolvendo os cabras do coronel José
Pereira Lima e a Polícia paraibana e já haviam tombado mortos quase 100 homens,
de ambos os lados. As notícias seguintes, veiculadas pelo jornal americano,
tratam, dentre outras coisas, sobre as mortes ocorridas no conflito; dão conta
do movimento das tropas da Força Pública da Paraíba em busca de invadir
Princesa; sobre os preparativos da polícia paraibana para bombardear a cidade
rebelada; sobre a pior derrota da polícia quando da emboscada no então distrito
de Água Branca; noticia o assassinato do presidente João Pessoa, anotando que o
motivo foi a Guerra de Princesa; sobre a ocupação de Princesa pelo Exército
Brasileiro, e mais, a conferir no escrito de Hesdras. Com relação à notícia
sobre a morte do presidente João Pessoa, a folha americana noticiou:
“O assassinato resultou de uma guerra
de guerrilhas na qual mais de 300 homens, tanto rebeldes quanto policiais do
Estado, foram mortos desde o início do ano. Por mais de quatro meses, José
Pereira, um deputado estadual, manteve uma rebelião aberta contra as
autoridades do Estado. Sua fortaleza é na região em torno da cidade de Princeza,
que ele recentemente proclamou um “estado independente”. A briga começou
originalmente por uma questão de poder político no Estado”.
Como vemos, esse
reconhecimento de que a Guerra de Princesa foi mesmo o estopim da Revolução de
1930, se dá até nas folhas de um dos jornais mais importantes do mundo.
O mérito do livro que
ora resenhamos, em que pese não trazer nada de novo para os que pesquisam sobre
o assunto, traz para os menos informados algo de suma importância que é o
realce que o The New York Times deu à
Guerra de Princesa. Se aquele notório episódio bélico mereceu a atenção de
alguns historiadores brasileiros, a mesma atenção – conforme pontua o escritor
na apresentação deste trabalho - não acontece com relação à inclusão deste e de
outros fatos similares na grade curricular do ensino brasileiro. O resgate,
portanto, feito por essa obra do pernambucano Hesdras Sérvulo, vem contribuir
grandemente para a divulgação, conhecimento e, principalmente, quanto ao
reconhecimento da importância da Guerra de Princesa no contexto da Revolução de
1930. Leitura indispensável.
Hesdras Sérvulo Souto
de Siqueira Campos Farias é graduado em Ciências Sociais pela Universidade
Federal Rural de Pernambuco/Departamento de Letras e Ciências Humanas/Cátedra
Ibn Arabi. Pesquisador da área de Antropologia e História das Religiões. É
Membro-Fundador do Centro de Estudos e Documentação do Pajeú. Atualmente se
dedica aos estudos nordestinos, com sua cultura, seu povo e suas revoltas. Seu
enfoque é nos estados de Pernambuco, Paraíba e Ceará.
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