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sexta-feira, 28 de janeiro de 2022

LER PARA CONHECER A NOSSA HISTÓRIA

O livro, As Fronteiras de Perdição, como eu mesmo disse por ocasião da apresentação que fiz no seu recente lançamento, uma obra seminal. É como se trouxesse, em sua narrativa, a Certidão de Nascimento de Princesa. Nela, seu autor, o historiador princesense, Emmanuel Conserva de Arruda, é quem trata, pela primeira vez, de forma acurada, sobre as origens do nosso município. Até então, as informações que tínhamos se atinham a retalhos sobre a nossa história, sem a necessária obediência cronológica. Vários pesquisadores, a exemplo do historiador, Paulo Mariano, dentre outros, encontraram figuras como dona Nathália do Espírito Santo, o padre Francisco Tavares Arcoverde e importantes anotações sobre a elevação do termo princesense a Vila, a Comarca, a Cidade, etc. Nada se discorria sobre o começo, a formação inicial.  Arruda, nesse trabalho, vai ao cerne da nossa formação histórica.

Esse trabalho é fruto da dissertação de mestrado do autor, que foi “aprovada e defendida, com nota máxima em 2007”. Porém, já de posse de vários dados provenientes de sua extensa pesquisa, Emmanuel anunciou suas “descobertas”, ainda em 2002, quando proferiu uma palestra realizada na Câmara Municipal de Princesa, oportunidade em que apresentou o resultado de suas análises sobre a ação colonizadora no sertão da Paraíba, mais especificamente sobre a fundação de Princesa. Foi aí que veio a lume personagens nunca mencionados, a exemplo do desbravador Lourenço de Brito Correia, que teve concedida uma data de terras, pela Casa da Torre na Bahia, o que aconteceu (coincidentemente com a data da Emancipação Política de Princesa: 18/11/1921), em 18 de novembro de 1766 e, a partir daí, deu-se o desbravamento do que seria o município de Princesa Isabel. Na página 109, temos:

“O registro da sesmaria foi feito pelo secretário, José Pinto Coelho, da secretaria Provedoria da Fazenda, no dia 18 de novembro de 1766, passando, a partir dessa data, Lourenço de Brito Correia a ser oficialmente declarado proprietário das terras que, mais tarde, chamariam Alagoa da Perdição”.

Antes, segundo Arruda, o que consta nas páginas 88 e 90, sobre documentos vários que relatam o nascimento de Princesa, ele anota:

“As informações que esses documentos trazem, não correspondem à história oficial do município que até hoje é recontada, tendo como única fonte a história oral, a partir das quais muitas lendas surgiram”. ”(...) Apresenta Dona Nathália do Espírito Santo como a primeira proprietária das terras de Alagoa da Perdição que, junto com o padre Francisco Tavares Arcoverde, teria fundado o núcleo da futura cidade”.

Com a divulgação deste livro, tomamos conhecimento de fato da maior importância que é a comprovação de que as terras hoje ocupadas pelo município de Princesa, eram há muito habitadas por indígenas. Segundo Emmanuel, nada foi descoberto, apenas colonizado. Na visão do desbravador Lourenço de Brito:

“Lourenço [de Brito Correia] expressa a mesma visão do colonizador desde sua chegada, na qual indígena é visto como parte da paisagem tropical daquelas vastas terras e tratado igual plantas e bichos”.

Somente em 1787, aparece documento designando a propriedade de Lourenço de Brito como Alagoa da Perdição. Antes, certamente, deveria ser referida por alguma denominação indígena, uma vez serem aquelas terras ocupadas pelos índios da nação Corema do ramo Tapuia “tidos como os mais bárbaros entre os bárbaros”. Interessante observar - ao longo da dissertação - que várias das localidades que compõem a Zona Rural do município de Princesa, ostentam até hoje, as mesmas denominações do tempo da colonização: Gavião, Escorregadinha, Jutubá, Buenos Ayres, Riacho do Meio, D’Alagôa de Sam João, Gravatá, Macaco, Timbaúba, dentre outras.

Por fim, o autor anota, sobre a importância dos indígenas, emparelhados ou apartados dos colonizadores, na formação do que é hoje Princesa:

“Foram os indígenas Corema, da nação Tapuia, que habitavam as terras que se tornaram a fazenda Alagoa da Perdição de Lourenço de Brito Correia e demais sesmeiros. (...) Procuramos demonstrar que a colonização do sertão não foi obra apernas do europeu colonizador e que dela também teve participação significativa, para que o empreendimento desse certo, os povos indígenas”.

A leitura dessa obra é indispensável para quem quer conhecer a formação da nossa história. Um trabalho detalhado e amparado em vasta pesquisa que o credencia como sendo o trabalho mais completo sobre nossos primórdios.

Emmanuel Conserva de Arruda é formado em História, concluiu o mestrado no Programa de Pós-Graduação em Geografia (PPGG), ambos realizados na Universidade Federal da Paraíba. É membro do Grupo de Pesquisa Sociedade e Cultura no Nordeste Oitocentista (GPSCNO/UFPB), do Núcleo de Estudos Afro-brasileiros e Indígenas (NEABI/IFPB), campus Princesa Isabel, da Academia Princesense de Letras e Artes (APLA), da Academia Brasileira de Letras e Artes do Cangaço (ABLAC) e do Conselho Consultivo Alcino Alves Costa – Cariri Cangaço.




  

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