O livro, As Fronteiras de Perdição, como eu
mesmo disse por ocasião da apresentação que fiz no seu recente lançamento, uma
obra seminal. É como se trouxesse, em sua narrativa, a Certidão de Nascimento
de Princesa. Nela, seu autor, o historiador princesense, Emmanuel Conserva de
Arruda, é quem trata, pela primeira vez, de forma acurada, sobre as origens do
nosso município. Até então, as informações que tínhamos se atinham a retalhos
sobre a nossa história, sem a necessária obediência cronológica. Vários
pesquisadores, a exemplo do historiador, Paulo Mariano, dentre outros,
encontraram figuras como dona Nathália do Espírito Santo, o padre Francisco
Tavares Arcoverde e importantes anotações sobre a elevação do termo princesense
a Vila, a Comarca, a Cidade, etc. Nada se discorria sobre o começo, a formação
inicial. Arruda, nesse trabalho, vai ao
cerne da nossa formação histórica.
Esse trabalho é fruto da dissertação de mestrado do autor,
que foi “aprovada e defendida, com nota máxima em 2007”. Porém, já de posse de
vários dados provenientes de sua extensa pesquisa, Emmanuel anunciou suas
“descobertas”, ainda em 2002, quando proferiu uma palestra realizada na Câmara
Municipal de Princesa, oportunidade em que apresentou o resultado de suas
análises sobre a ação colonizadora no sertão da Paraíba, mais especificamente
sobre a fundação de Princesa. Foi aí que veio a lume personagens nunca
mencionados, a exemplo do desbravador Lourenço de Brito Correia, que teve
concedida uma data de terras, pela Casa da Torre na Bahia, o que aconteceu
(coincidentemente com a data da Emancipação Política de Princesa: 18/11/1921),
em 18 de novembro de 1766 e, a partir daí, deu-se o desbravamento do que seria
o município de Princesa Isabel. Na página 109, temos:
“O registro da sesmaria foi feito
pelo secretário, José Pinto Coelho, da secretaria Provedoria da Fazenda, no dia
18 de novembro de 1766, passando, a partir dessa data, Lourenço de Brito
Correia a ser oficialmente declarado proprietário das terras que, mais tarde,
chamariam Alagoa da Perdição”.
Antes, segundo Arruda, o que consta nas páginas 88 e 90,
sobre documentos vários que relatam o nascimento de Princesa, ele anota:
“As informações que esses documentos
trazem, não correspondem à história oficial do município que até hoje é
recontada, tendo como única fonte a história oral, a partir das quais muitas
lendas surgiram”. ”(...) Apresenta Dona Nathália do Espírito Santo como a
primeira proprietária das terras de Alagoa da Perdição que, junto com o padre
Francisco Tavares Arcoverde, teria fundado o núcleo da futura cidade”.
Com a divulgação deste livro, tomamos conhecimento de fato da
maior importância que é a comprovação de que as terras hoje ocupadas pelo
município de Princesa, eram há muito habitadas por indígenas. Segundo Emmanuel,
nada foi descoberto, apenas colonizado. Na visão do desbravador Lourenço de
Brito:
“Lourenço [de Brito Correia] expressa
a mesma visão do colonizador desde sua chegada, na qual indígena é visto como
parte da paisagem tropical daquelas vastas terras e tratado igual plantas e
bichos”.
Somente em 1787, aparece documento designando a propriedade
de Lourenço de Brito como Alagoa da Perdição. Antes, certamente, deveria ser
referida por alguma denominação indígena, uma vez serem aquelas terras ocupadas
pelos índios da nação Corema do ramo Tapuia “tidos como os mais bárbaros entre
os bárbaros”. Interessante observar - ao longo da dissertação - que várias das
localidades que compõem a Zona Rural do município de Princesa, ostentam até
hoje, as mesmas denominações do tempo da colonização: Gavião, Escorregadinha,
Jutubá, Buenos Ayres, Riacho do Meio, D’Alagôa de Sam João, Gravatá, Macaco,
Timbaúba, dentre outras.
Por fim, o autor anota, sobre a importância dos indígenas,
emparelhados ou apartados dos colonizadores, na formação do que é hoje
Princesa:
“Foram os indígenas Corema, da nação
Tapuia, que habitavam as terras que se tornaram a fazenda Alagoa da Perdição de
Lourenço de Brito Correia e demais sesmeiros. (...) Procuramos demonstrar que a
colonização do sertão não foi obra apernas do europeu colonizador e que dela
também teve participação significativa, para que o empreendimento desse certo,
os povos indígenas”.
A leitura dessa obra é indispensável para quem quer conhecer
a formação da nossa história. Um trabalho detalhado e amparado em vasta pesquisa
que o credencia como sendo o trabalho mais completo sobre nossos primórdios.
Emmanuel Conserva de Arruda é formado em História, concluiu o
mestrado no Programa de Pós-Graduação em Geografia (PPGG), ambos realizados na
Universidade Federal da Paraíba. É membro do Grupo de Pesquisa Sociedade e
Cultura no Nordeste Oitocentista (GPSCNO/UFPB), do Núcleo de Estudos
Afro-brasileiros e Indígenas (NEABI/IFPB), campus Princesa Isabel, da Academia
Princesense de Letras e Artes (APLA), da Academia Brasileira de Letras e Artes
do Cangaço (ABLAC) e do Conselho Consultivo Alcino Alves Costa – Cariri
Cangaço.
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