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quarta-feira, 26 de janeiro de 2022

O day after de Ricardo Coutinho

“Política é como as nuvens do céu”. Esta frase é atribuída ao grande político mineiro, Tancredo de Almeida Neves. Atividade por demais dinâmica e enganadora, a política põe e dispõe ao bel prazer de acontecimentos alheios e, muitas vezes, coloca seus agentes em situações completamente inesperadas. De repente, quem está embaixo sobe e, os de cima, descem numa rapidez estonteante. Para os que não fazem uma leitura consciente e com os pés no chão, via de regra, dão com os burros n’água. É o caso do ex-governador da Paraíba, Ricardo Vieira Coutinho. Vereador eleito pelo PT em 1992, teve carreira meteórica sempre se desincompatibilizando de um mandato para assumir outro. De vereador virou prefeito, depois deputado estadual e, na sequência, governador duas vezes, isso sem perder eleição. Como vereador, foi um dos mais atuantes da Capital paraibana; investido do mandato de deputado estadual teve a mesma performance. Não bastasse isso, foi um dos prefeitos mais bem avaliados de João Pessoa.

Ao galgar o posto máximo da administração estadual, Coutinho protagonizou um dos governos mais profícuos da história da Paraíba. Poucos ou nenhum governador erigiu tantas obras quanto ele. Governou o nosso Estado por 8 anos de forma organizada e operosa. Foi tanto, que elegeu seu sucessor (à época um “poste”) já no primeiro turno das eleições de 2018. Não se afastou para uma candidatura ao Senado Federal – no que teria êxito certo - para garantir a coordenação da campanha sucessória. Podia tudo e tudo dava certo para ele. Chegou, inclusive, a ser cogitado como candidato a vice-presidência da República na chapa que reelegeu Dilma Rousseff. Era o cara. Porém, desinvestido do poder foi detonado pelos ex-amigos numa operação chamada “calvário” que trouxe à tona a sujeira da corrupção por ele comandada desde os tempos de prefeito.

A debacle de Ricardo Coutinho não se deveu somente às falcatruas cometidas, quando usou os dinheiros públicos para comandar um esquema de corrupção nunca visto na Paraíba. O ex-governador foi vítima também de seu próprio comportamento. Era arrogante, prepotente, presunçoso e por demais orgulhoso da condição de líder. Difícil no trato, enxergava a todos bem menores do que ele. Não tinha papas na língua, tampouco media as palavras quando disparava contra seus adversários, a quem considerava desafetos, inimigos. Eu mesmo fui vítima de sua verborragia. Em programa radiofônico (na Rádio Princesa), em maio de 2016, disse que eu (então prefeito) era página virada e, num comício realizado no mesmo dia me classificou de cachaceiro e irresponsável. Coutinho não conhecia minha vida pessoal, mas foi, certamente, emprenhado pelos comentários desairosos dos meus adversários locais, os mesmos que o chamavam de “meu guru” e hoje o repelem.

 É assim a política e, situação similar não se atém apenas ao ex-governador em tela. Muitos já foram vítimas de si próprios quando, de forma desavisada, pensavam que o poder emanado das urnas era eterno. Ledo engano, igual à poesia do célebre paraibano, Augusto dos Anjos, na política: “A mão que afaga é a mesma que apedreja”. E não nos iludamos, pois, enquanto estamos no trono do poder, muitos dos que se fazem áulicos, escondem no bolso uma pedra para em nós atirar oportunamente. Aos amantes das benesses que emanam do poder não interessa quem as concede, mas sim a circunstância favorável que elas promovem. O inferno de Coutinho prova isso. Ele não pode sair na rua, tomar um avião ou comer num restaurante que é hostilizado publicamente. Aqueles a quem deu luz, viram-lhe as costas; os que antes o bajulavam e compactuavam com suas estripulias financeiro-administrativas, hoje o condenam. Mesmo assim, o ex-governador insiste em participar do jogo político, não entendeu ainda que a jogada foi xeque-mate, o rei não existe mais, e que seu tempo passou. Os que o amavam, hoje o refutam e ridicularizam. O day after de Ricardo Vieira Coutinho é como uma ressaca mal curada, resultado de um porre federal. O céu não é mais de brigadeiro e, as nuvens, são por demais sombrias. O tempo fechou e seu tempo acabou. É página virada.



 

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