“Política é como as nuvens do céu”. Esta frase é atribuída ao
grande político mineiro, Tancredo de Almeida Neves. Atividade por demais
dinâmica e enganadora, a política põe e dispõe ao bel prazer de acontecimentos
alheios e, muitas vezes, coloca seus agentes em situações completamente inesperadas.
De repente, quem está embaixo sobe e, os de cima, descem numa rapidez
estonteante. Para os que não fazem uma leitura consciente e com os pés no chão,
via de regra, dão com os burros n’água. É o caso do ex-governador da Paraíba, Ricardo
Vieira Coutinho. Vereador eleito pelo PT em 1992, teve carreira meteórica
sempre se desincompatibilizando de um mandato para assumir outro. De vereador
virou prefeito, depois deputado estadual e, na sequência, governador duas
vezes, isso sem perder eleição. Como vereador, foi um dos mais atuantes da
Capital paraibana; investido do mandato de deputado estadual teve a mesma
performance. Não bastasse isso, foi um dos prefeitos mais bem avaliados de João
Pessoa.
Ao galgar o posto máximo da administração estadual, Coutinho
protagonizou um dos governos mais profícuos da história da Paraíba. Poucos ou
nenhum governador erigiu tantas obras quanto ele. Governou o nosso Estado por 8
anos de forma organizada e operosa. Foi tanto, que elegeu seu sucessor (à época
um “poste”) já no primeiro turno das eleições de 2018. Não se afastou para uma
candidatura ao Senado Federal – no que teria êxito certo - para garantir a
coordenação da campanha sucessória. Podia tudo e tudo dava certo para ele.
Chegou, inclusive, a ser cogitado como candidato a vice-presidência da República
na chapa que reelegeu Dilma Rousseff. Era o cara. Porém, desinvestido do poder
foi detonado pelos ex-amigos numa operação chamada “calvário” que trouxe à tona
a sujeira da corrupção por ele comandada desde os tempos de prefeito.
A debacle de Ricardo Coutinho não se deveu somente às
falcatruas cometidas, quando usou os dinheiros públicos para comandar um
esquema de corrupção nunca visto na Paraíba. O ex-governador foi vítima também
de seu próprio comportamento. Era arrogante, prepotente, presunçoso e por
demais orgulhoso da condição de líder. Difícil no trato, enxergava a todos bem
menores do que ele. Não tinha papas na língua, tampouco media as palavras
quando disparava contra seus adversários, a quem considerava desafetos,
inimigos. Eu mesmo fui vítima de sua verborragia. Em programa radiofônico (na
Rádio Princesa), em maio de 2016, disse que eu (então prefeito) era página
virada e, num comício realizado no mesmo dia me classificou de cachaceiro e
irresponsável. Coutinho não conhecia minha vida pessoal, mas foi, certamente,
emprenhado pelos comentários desairosos dos meus adversários locais, os mesmos
que o chamavam de “meu guru” e hoje o repelem.
É assim a política e,
situação similar não se atém apenas ao ex-governador em tela. Muitos já foram
vítimas de si próprios quando, de forma desavisada, pensavam que o poder
emanado das urnas era eterno. Ledo engano, igual à poesia do célebre paraibano,
Augusto dos Anjos, na política: “A mão que afaga é a mesma que apedreja”. E não
nos iludamos, pois, enquanto estamos no trono do poder, muitos dos que se fazem
áulicos, escondem no bolso uma pedra para em nós atirar oportunamente. Aos
amantes das benesses que emanam do poder não interessa quem as concede, mas sim
a circunstância favorável que elas promovem. O inferno de Coutinho prova isso. Ele
não pode sair na rua, tomar um avião ou comer num restaurante que é hostilizado
publicamente. Aqueles a quem deu luz, viram-lhe as costas; os que antes o
bajulavam e compactuavam com suas estripulias financeiro-administrativas, hoje
o condenam. Mesmo assim, o ex-governador insiste em participar do jogo
político, não entendeu ainda que a jogada foi xeque-mate, o rei não existe
mais, e que seu tempo passou. Os que o amavam, hoje o refutam e ridicularizam.
O day after de Ricardo Vieira
Coutinho é como uma ressaca mal curada, resultado de um porre federal. O céu
não é mais de brigadeiro e, as nuvens, são por demais sombrias. O tempo fechou
e seu tempo acabou. É página virada.
Nenhum comentário:
Postar um comentário