A BRIOSA: história da
Polícia Militar da Paraíba
Este livro de autoria do coronel reformado da Polícia Militar
da Paraíba, João Batista de Lima, foi lançado em 2000 pela Gráfica e Editora A União – João Pessoa/PB, e agora em
2013, relançado em edição revista e ampliada. Contido de 295 páginas, trata da
participação da Corporação Militar Paraibana em vários eventos e conflitos,
dando ênfase à Revolta de Princesa. Embora aborde, com intenção detalhista,
alguns dos vários fatos referentes à Guerra de Princesa, a obra peca por seu
facciosismo e exacerbada parcialidade. O capítulo 3 – A Campanha de Princesa, é
dedicado aos acontecimentos ocorridos entre os meses de fevereiro e agosto de
1930. Já no início, na página 104, o autor faz uma ode ao presidente João
Pessoa quando se refere ao rompimento político entre este e o coronel José
Pereira Lima, o que culminou com o movimento armado colocando Princesa em luta
contra a polícia paraibana. João Batista define o presidente João Pessoa, recém
empossado, em outubro de 1928:
“Egresso da magistratura, onde
exerceu as funções e Ministro do Superior Tribunal Militar, João Pessoa exerceu
o Governo com imparcialidade e voltado para os problemas sociais, de tal forma
que, de imediato, angariou a simpatia do povo, tornando-se um grande líder
popular”.
Para um pesquisador atento em busca da verdade, este livro
presta um desserviço à história. Em relação à citação acima: primeiro, João
Pessoa não cuidou de reformas sociais, mas sim da reforma tributária e
política. Segundo, nunca angariou a simpatia popular do povo da Paraíba. Sua
aceitação era restrita à população do litoral. No Sertão, dominado pelos
coronéis a quem ele perseguia, sua popularidade inexistia. Na página seguinte
(105), Batista, eivado de vontade de endeusar João Pessoa, escreve esse absurdo:
“Uma das mudanças que João Pessoa
defendia era a reforma eleitoral, com a instituição da Justiça Eleitoral e do
voto secreto, o que por certo, não agradava aos políticos tradicionais que se
elegiam através do chamado voto de cabresto ou dos currais eleitorais. Essas
ideias, por certo, inquietavam a José Pereira e tantos outros Coronéis da
Política. Esse fato e uma possível ligação com o Governo Federal podem ter
contribuído para que José Pereira, já no final da campanha (eleitoral)
resolvesse romper publicamente com João Pessoa, o que foi formalizado através
de um Radiograma datado de 23 de fevereiro, portanto, seis dias antes da
eleição. A justificativa apresentada por José Pereira foi confusa, ora se
reportando a sua exclusão da lista de candidatos a Deputado Federal, feita por
João Pessoa, ora alegando comentários desairosos feitos pelo Presidente contra
sua pessoa, em reunião da cúpula do Partido Governista. O fato é que a partir
de então – José Pereira rompia politicamente com João Pessoa”.
O recorte que reproduzimos acima está completo de inverdades.
Logo que assumiu o governo da Paraíba, João Pessoa dedicou-se a promover o
desarmamento dos coronéis e o desprestigiamento dos vários chefes políticos do
interior. Não bastasse isso, desmontou todo o esquema tributário vigente,
impondo novas taxas de impostos – no mais das vezes exorbitantes – o que tornou
proibitivo o comércio do interior com a praça do Recife. Nada de reforma
eleitoral nem voto secreto. Aliás, essas são pautas a serem tratadas pelo
Governo Federal e não por um mero presidente de Estado. Quando se refere aos
motivos do rompimento também se engana: José Pereira nunca postulou a
candidatura de deputado federal. O coronel defendia a manutenção do nome do
ex-presidente João Suassuna na chapa e não o seu próprio.
Na mesma página (105), o autor se refere aos homens
convocados pelo coronel José Pereira como “cangaceiros”, afirmando de forma
inversa que esses “cangaceiros” foram recrutados para que fosse impedida a
realização das eleições de 1º de março de 1930 em Santana dos Garrotes e
Piancó. Se engana, o autor, pois ocorreu exatamente o contrário: a polícia
paraibana, sob o comando do tenente Ascendino Feitosa, invadiu Teixeira,
justamente para impedir que as eleições ali acontecessem, uma vez saber, o
presidente João Pessoa, que a chapa apoiada pelo coronel Zé Pereira teria a
unanimidade dos votos. Essas afirmações põem em dúvida e tiram a credibilidade
do resto da narrativa. O empenho do autor em louvar o presidente João Pessoa, em
negativa de verdades históricas, desmerece toda a obra.
Na página 119, João Batista de Lima informa que no dia 27 de
julho daquele ano de 1930, a Coluna Oeste, sediada no distrito de Tavares,
tomou conhecimento do assassinato de João Pessoa, através de um mensageiro
vindo de Alagoa Nova (atual Manaíra) e que:
“A vontade da Tropa era invadir
Princesa, independente de ordem e vingar a morte de João Pessoa, que era
atribuída às ações desenvolvidas por José Pereira. Nesse clima, a Coluna ficou
no aguardo de munições e ordens para o ataque. (...) Um grupo de fazendeiros da
região, leais ao Presidente João Pessoa, tinha se comprometido a fazer esse
abastecimento, porém não tinha como cumprir essa tarefa. Manter uma tropa de
400 homens durante tanto tempo, exigia grande quantidade de alimentos, que era
denominada de “munição de boca”.
Invadir Princesa, naquele momento, era quase impossível. Após
o assassinato de João Pessoa, o coronel Zé Pereira concentrou 80% dos seus
homens, mobilizados na cidade de Princesa e nos seus arredores, o que somava
mais de 1000 lutadores, enquanto o contingente restante da Polícia Militar não
somava 200 homens. Inverdade também a afirmação de que fazendeiros “leais” ao
presidente morto se dispunham a ajudar os efetivos da polícia. No Sertão de
Princesa, o coronel José Pereira gozava da adesão unânime à sua causa.
Esta obra, que se propõe a contar a história da briosa
polícia paraibana traz em seu bojo pecados inadmissíveis em se tratando de
resgate ou rememoração histórica, uma vez cuidar de fazer proselitismo da
figura de João Pessoa em detrimento da verdade, um verdadeiro desserviço à
história. Pelo menos no que trata da Guerra de Princesa, é uma leitura completamente
dispensável por nociva à verdadeira compreensão dos fatos. A obedecer o critério
estabelecido pelo autor deste obra, o brilho da Briosa Polícia paraibana pode
ficar por demais comprometido.
João Batista de Lima ingressou na Polícia Militar da Paraíba
em março de 1973. Galgou vários postos até alcançar a patente de Coronel. Em 2003
passou para a reserva remunerada e a partir de então exerce funções
advocatícias com escritório em João Pessoa, onde reside atualmente.
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