É no mês de junho que se comemora, no mundo todo, no dia 02
de junho, o Dia Internacional das Prostitutas. Criada na França, essa efeméride
é recente, data de 1975, quando no dia 02 de junho daquele ano, mais de 100
prostitutas francesas, tomaram coragem e se reuniram na igreja de Saint-Nizier,
em Lyon, ocasião em que reivindicaram seus direitos. Classe milenarmente
discriminada, as prostitutas, servidoras da vida, estão, há 47 anos, tendo seu
dia de reconhecimento. Porque não, se até Jesus Cristo as defendeu? Quem não
conhece aquela passagem dos Evangelhos em que o Nazareno, em suas andanças,
deparou-se com uma turba de judeus se preparando para apedrejar uma adúltera e,
Jesus, admoestou-os dizendo: ”Quem não tiver
pecado, atire a primeira pedra!”. Todos soltaram as pedras.
Mesmo esse merecimento divino e essa homenagem tardia, não
retiram das mulheres de vida livre o intrínseco preconceito. Mesmo sendo hoje
banalizada, essa milenar profissão, quando os cabarés comuns se restringem a
pouquíssimos estabelecimentos e, os de luxo, se traduzem em suntuosos motéis e,
tudo isso funcionando às claras, o preconceito persiste alimentado pela
hipocrisia, porém, atenuado pela conquista do novo papel da mulher em nossa
sociedade.
Como em toda cidade do interior, Princesa já teve também seu
Cabaré. O prostíbulo princesense que, em tempos idos, funcionava onde é hoje a
Rua Conrado Rosas (Rua da Cadeia), nos anos 40 do século passado, foi
transferido para a Rua da Lapa, no Bairro do Cruzeiro. As raparigas, que faziam
ponto no Cabaré de Princesa eram, em sua maioria, vindas de outras cidades e,
muitas delas, amasiaram-se com homens ricos da cidade que, apaixonados, com
elas se casaram e as tornaram mães de família e mulheres da sociedade. Quase
todas, ao chegar no Cabaré recebiam outra identidade. Fosse pela aparência
física ou, por outra, pelo fato de alguma brincadeira, recebiam apelidos os
mais diversos e interessantes: Rita Quarto-de-Bode; Toinha Baú; Pipoca; Aninha
Papo-verde; Pixuíta; Garrafão; Ferro-velho; Socorro Preta; etc. Logo que
chegavam, as mulheres da vida, eram disputadas pelos ricões da cidade:
Sebastião Medeiros, Japonês, Antônio Medeiros, Aderbal, Aparício Duarte,
Antônio Mandaú, dentre outros.
Discriminadas que eram, as prostitutas, viviam adstritas ao
gueto da imoralidade e só podiam circular pela cidade se acompanhadas da chefe,
Estrela de Pedro Caboclo, que era respeitada por todos. No auge de seu
funcionamento, até meados dos anos 70, o Cabaré de Princesa, além de oferecer
ambiente propício aos que procuravam os prazeres da carne, era também
frequentado por cidadãos da alta roda da sociedade, quando compareciam àquele
prostíbulo, aos domingos, para jogar baralho, beber cachaça e comer a buchada
feita por Estrela, a matriarca do Baixo Meretrício. Até comícios, em campanhas
eleitorais, eram ali realizados, como o meeting
comandado por doutor Antônio Nominando Diniz, em 1968, onde e quando
proferiu antológico discurso, em homenagem às meretrizes, o que reproduzimos
aqui:
“Chamam-nas de mulheres de vida
fácil. Porém, quão difícil é entender onde está a facilidade de uma vida,
quando se é obrigado a corromper o santuário do corpo para adquirir o sustento
para a sobrevivência. São, portanto, mulheres de vida difícil, dificílima, que
sofrem o preconceito das elites para, de forma imoral, proporcionar a
moralidade. São mulheres que dormem tarde, como guardas noturnos, velando pela
segurança das famílias de bem”.
Embora eivada de preconceito, a profissão mais antiga do
mundo - que o ex-presidente americano, Ronald Reagan, comparava com a política
-, merece sim uma data comemorativa, não somente para homenagear as raparigas,
mas para realçar os benefícios que elas sempre trouxeram aos desamparados do
verdadeiro amor. Embora somente em 1975 tenham-se lembrado de homenagear
quantas, há milênios, vêm servindo à tantos, nunca é tarde para homenageá-las.
Viva as quengas do mundo todo! Elas merecem seu dia de glória!
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