Dom Pedro I: o Pai da
Pátria
Pedro de Alcântara Francisco Antônio João Carlos Xavier de
Paula Miguel Rafael Joaquim José Gonzaga Pascoal Cipriano Serafim de Bragança e
Bourbon nasceu no Palácio de Queluz, em Portugal, em 12 de outubro de 1798. Era
filho de Dom João VI, rei de Portugal, e de dona Carlota Joaquina, princesa
espanhola que se tornou rainha de Portugal. Esse extenso nome era uma tradição
nas monarquias europeias com o fito de trazer para os descendentes, os nomes de
seus antepassados.
Pedro era o quarto filho do casal real e, por ser o primeiro
filho varão a sobreviver, tornou-se o herdeiro do trono português. Casou-se, em
primeiras núpcias, com dona Maria Leopoldina, arquiduquesa da Áustria, com quem
teve os filhos: Maria da Glória, Miguel, João Carlos, Januária, Francisca e
Pedro de Alcântara, o futuro imperador dom Pedro II. Viúvo com a morte de dona
Leopoldina em 11 de dezembro de 1826, contraiu matrimônio com dona Amélia de
Beauharnais, com quem teve uma filha, chamada Maria Amélia.
Motivos alheios à rotina da Casa de Bragança, mudaram o
destino do herdeiro português. Em 1808, em face da iminente invasão do Reino de
Portugal pelos exércitos de Napoleão Bonaparte, a Família Real portuguesa fugiu
para o Brasil. Aos 9 anos de idade, dom Pedro de Alcântara chegou ao Brasil.
Aqui viveu o final de sua infância e o início da adolescência o que o fez de
forma intensa. Mesmo epiléptico que era, adorava esportes radicais, cavalgar e
disputas duras. Amante da liberdade, dos animais e da natureza, Pedro, que
também tinha especial queda pelo sexo oposto, logo cedo, de impetuoso menino
virou rapaz e deu-se aos prazeres da carne, tornando-se exímio conquistador e,
já aos 18 anos de idade, foi pai de uma criança com uma atriz francesa, chamada
Noémi Thierry.
Em 1820, estourou, em Portugal, a chamada Revolução Liberal
do Porto, o que forçou a volta de dom João VI para Portugal, em abril de 1821.
Dom Pedro, ungido pelo pai, tornou-se regente da parte brasileira do Reino
Unido de Portugal, Brasil e Algarves, com a recomendação do pai: “Se um dia o Brasil se separar de Portugal,
antes seja para ti que me has de respeitar, do que para algum desses
aventureiros”. Pedro, que era, em tese, um liberal, governou o Brasil de
forma absolutista. Mesmo assim, em sua Regência, fez aquela parte do Reino
Português, gozar de grande autonomia político-administrativa, o que causou
descontentamento à metrópole, que tentou revogar essa liberdade fazendo com que
o Brasil voltasse à condição de colônia.
O que também incomodava à Corte Portuguesa era sua simpatia
pelo abolicionismo: “Eu sei que o meu
sangue é da mesma cor que o dos negros”, escreveu Pedro.
As insatisfações com a autonomia do Regente fizeram com que
as Cortes (parlamento português) o convocassem para que retornasse a Portugal. Popularíssimo
à época, Pedro recusou-se em fazê-lo e desobedeceu, decidindo ficar do lado dos
brasileiros: “Se é para o bem de todos e
felicidade geral da Nação, estou pronto, diga ao povo que fico”. Isso
ocorreu no dia 09 de janeiro de 1822.
A partir daí, começaram as articulações que culminaram com a
separação do Brasil, de Portugal. Sob a orientação de José Bonifácio de Andrada
e Silva e da imperatriz dona Leopoldina, no dia 7 de setembro de 1822, dom
Pedro proclamou a Independência do Brasil. Com essa decisão, Pedro decretou a
separação de Portugal e foi aclamado imperador do Brasil. De todos os países
das Américas, o Brasil foi o único que se tornou independente sem luta cruenta
e, algo inusitado: o próprio detentor do poder foi quem determinou a
independência e, sem ruptura alguma, continuou governando.
De acordo com relato do padre mineiro, Belchior Pinheiro de
Oliveira, às margens do Riacho Ipiranga, em São Paulo, dom Pedro de Alcântara,
ao receber mensagem de Portugal que, além de desmerecê-lo, chamando-o de
“rapazinho” e determinando que retornasse, imediatamente, para Portugal,
irritado, gritou: Laços fora soldados!
Viva a Independência, a liberdade e a separação do Brasil!”. Estava declarada
a Independência do Brasil.
Coroado imperador em 12 de outubro de 1822, dia em que
completava 24 anos de idade, dom Pedro cuidou em debelar as resistências
promovidas pelas forças fiéis a Portugal que resistiam à separação do Brasil em
relação ao antigo Reino. Até março de 1824 derrotou todas as forças fiéis a
Portugal e debelou a grande rebelião ocorrida no Nordeste, a Confederação do
Equador, uma revolta separatista que eclodiu na província de Pernambuco.
Em 1828, incentivado pela mãe Carlota Joaquina, o irmão mais
novo de dom Pedro, Miguel, foi proclamado, pelas Cortes, rei de Portugal. No
Brasil, Pedro autoproclamou-se também rei de Portugal, abdicou em seguida do
direito ao trono em favor de sua filha mais velha, Maria da Glória e,
enfrentando sérios problemas políticos no Brasil, resolveu partir para Portugal
e enfrentar o irmão que lhe usurpara o trono. Em 7 de abril de 1831 dom Pedro
abdicou do trono brasileiro em favor de seu filho varão, dom Pedro que, em que
pese contar apenas 5 anos de idade, transformou-se no imperador dom Pedro II.
De volta a Portugal, dom Pedro I, invadiu aquele país em
julho de 1832 comandando um exército composto de vários mercenários reunidos em
países da Europa e, em nome do liberalismo, depois de ferrenha guerra civil,
saiu vitorioso, depôs o irmão, dom Miguel, e fez coroar sua filha mais velha
como Maria II. Poucos meses depois da vitória, em 24 de setembro de 1834,
morria de tuberculose, Pedro de Alcântara, aos 35 anos de idade, no Palácio de
Queluz onde nascera.
A História não tem sido condescendente com o primeiro
imperador do Brasil. Ao longo desses mais de duzentos anos, o realce principal
tem sido dado à sua vida pessoal, principalmente quanto à sua performance
sexual. É sabido que dom Pedro I era afeitíssimo ao rabos-de-saia e dono de
libido apuradíssima. Teve muitas amantes, foi pai de 18 filhos e protagonizou o
escandaloso caso amoroso com a Marquesa de Santos. Não bastasse as rememorações
escritas, até no Museu Nacional, no Rio de Janeiro, uma das principais
referências ao primeiro imperador do Brasil é uma caixinha contida de seus
pelos pubianos. Ou seja, dá-se mais relevância às estripulias sexuais do que
aos dotes intelectuais e políticos do proclamador da nossa Independência.
Dom Pedro I, além de abrasivo amante, turrão e, muitas vezes
violento, se não era um homem ilustrado, era inteligente e atento em ouvir aos
que sabiam. Versado nos idiomas francês, italiano e inglês, o imperador era
poeta, músico e compositor. Tocava ao piano, executava flauta, acordeom e
violino, além de alguns instrumentos de corda. No mesmo dia em que proclamou a
Independência do Brasil, compôs, ao piano, em São Paulo, a música do Hino da
Independência: “Já podeis da Pátria
filhos...”. São de sua lavra, várias outras composições musicais e muitas
poesias.
Nós brasileiros, no entanto, primamos em trazer à baila
situações em que se colocam os membros da nossa família real, em situação
ridícula. No filme “Carlota Joaquina, Princesa do Brasil”, da diretora Carla
Camurati (1995), personalidades como dom João VI e dona Carlota Joaquina são
satirizadas: Dom João se lambuzando com frangos assados e cagando no mato;
Carlota, cheia de piolhos e traindo o marido com qualquer um. Não cuidamos
assim, em valorizar a nossa história, pelo contrário, nos comprazemos (parece)
em ridicularizá-la.
Com relação a dom Pedro I também não é diferente quando
alguns afirmam que ele proclamou a Independência, de cócoras, excretando fezes
provenientes de uma disenteria. É certo que, conforme relato do padre Belchior
Pinheiro de Oliveira, naquele dia 7 de Setembro, Pedro se encontrava: “(...) afetado por uma disenteria que o
obrigava a todo momento a apear-se para prover”. Pelas palavras do
reverendo, nada disso desmereceu o feito que transformou o Brasil nessa grande
Nação.
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