ODE

segunda-feira, 28 de novembro de 2022

O AMOR DE XANDUZINHA

Xanduzinha dormia e acordava com seu coração em dúvida. Não sabia se escolhia o preferido do seu pai ou o da sua mãe. O pai gostava de Severiano, acadêmico de Medicina, rapaz de futuro. A mãe simpatizava com Marcolino, estudante de Direito, dado a valentias, sem muito futuro. Os dois eram bonitos, Severiano, mais comportado, um moço de bom tamanho e de feições nobres; Marcolino levava o jeito debochado do sertanejo, largado, abusado, com dois olhos azuis a desafiar o mundo.


Em Patos de Irerê era a mais bonita e cobiçada do lugar.


O pai, o mais rico da região, servia de barreira para os gulosos olhos dos menos afortunados.


Só dois tinham chances nessa briga. Dois universitários, dois primos, dois jovens de inquestionáveis qualidades e de questionáveis vocações.


E Xanduzinha no meio dessa guerra, sem saber o que fazer, sem poder decidir.


Até que os primos, que dividiam os espaços de morar e viver, concluem que cada um tem que viver a sua vida.


Ambos morando  no distante reino de Salvador, para receber no futuro os diplomas universitários, tinham que se submeter ainda a muitos percalços para alcançar o sonho.


Marcolino avisa a Severiano:


– Vou embora, isso aqui não é pra mim.


Entre curioso e alarmado, Severiano termina concordando. Mas faz um último pedido:


– Você me entregaria essa carta a Xanduzinha?


Era uma carta de amor, de promessas, de esperanças, de pedido de casamento.


Marcolino, sem a menor cerimônia, abriu a correspondência, leu e a rasgou.


E em Irerê, ao se encontrar com Xandu, contou:


-Recebi uma carta de Severiano para você, abri, li e rasguei porque quero ser seu marido. Você aceita?


Xanduzinha aceitou.


Os dois se casaram e viveram felizes para sempre.


Até letra de música ganharam:


“O Caboclo Marcolino tinha oito boi zebu


Uma casa de varanda, dando pro norte e pro sul


O paiol tava cheinho, de feijão e de andu


Sem contar com mais uns cobres


Lá no fundo do baú


Marcolino dava tudo


Por um cheiro de Xandu.”


Da lavra de Tião Lucena

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