É o luto mais curto do mundo. Na cristandade, a tristeza dura
somente um pouco mais de 24 horas, das 3 horas da tarde da Sexta-feira Santa
até a meia-noite do Sábado de Aleluia. Jesus Cristo morre na sexta e ressuscita
no domingo. Nesse interregno, os sinos não tocam nem a Eucaristia é celebrada.
Sozinha, a matraca brada. Antigamente, além da tristeza, havia a expectativa.
Tristeza pelo sacrifício do Cristo na cruz e, expectativa, pela continuidade da
vida na Terra.
Alleluja! Habemus Vita!
(Aleluia! Já Temos
Vida!). É esse o grito de regozijo ecoado por todas as Igrejas do mundo para
anunciar que Jesus Cristo ressuscitou dos mortos e subiu ao céu. É a Páscoa que
começa, é a alegria que chega. A “boa nova!”. Até tempos recentes, acorriam
todos às igrejas para a comemoração da Aleluia. Todos com o coração na mão
porque era nessa oportunidade que estava em jogo o futuro da humanidade.
Nos tempos em que tudo girava em torno da orientação
religiosa, diziam os mais velhos, que se o padre – durante a celebração da
missa de Aleluia - não encontrasse um “pingo de sangue” na Bíblia, o mundo se
acabava. Guiados pela ignorância e pela superstição, ficavam todos apreensivos
nessa expectativa de renovação da vida. De sorte que tudo sempre deu certo. Tão
certo, que caiu no descrédito e ninguém acredita mais nisso, sequer dá-se mais
atenção a esse ridículo ritual.
Tudo hoje é meramente simbólico. Ninguém vem mais da Zona
Rural para assistir à Aleluia; não tem mais o “bolo-doce” de Toinho Fernandes
nem as barracas do padre. Tampouco a malhação do judas. Ninguém nem liga mais
para isso. É tanto, que a missa que era celebrada à meia-noite, agora é
oficiada no horário normal das celebrações noturnas. O ritual é simples: o
padre benze o fogo, a água e os óleos e pronto. Vida que segue. Cada um vai
para suas casas, todos com a certeza de que, ano que vem, o Cristo morre de
novo, ressuscita, e tudo continua como d’antes. A vida continua.
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