À medida que as pessoas vão lendo meu último livro: “Amor,
Pecado e Sangue – 5 Crimes que Abalaram Princesa”, repercute mais ainda a
figura demoníaca do padre Manoel Raymundo de Nonato Pitta. Esse sacerdote é um
dos protagonistas da primeira história daquele livro que disserta sobre o assassinato
do doutor Ildefonso Augusto de Lacerda Leite. Esse médico veio do Ceará para
clinicar em Princesa contra a epidemia de Febre Amarela. A história se passa no
início do século passado e tem como principal urdidor daquele crime o padre
Nonato Pitta.
Vigário da paróquia de Princesa entre 1900 e 1902, esse
demoníaco padre, logo que chegou à freguesia, mancomunou-se com os poderosos do
lugar e, como era sua praxe de vida, começou logo a prestar-lhes vassalagem em
busca de vantagens e prestígio. Aboletou-se no poder eclesial mas não se
imiscuiu de estar sempre à disposição do coronel, do juiz, do promotor, do
delegado e das demais autoridades. Esta resenha foi estimulada pelo fato de eu
haver encontrado uma fotografia desse demônio travestido de religioso.
O padre Nonato Pitta já conhecia o médico Ildefonso desde o
tempo em que foram contemporâneos no Seminário Episcopal de Fortaleza, ocasião
em que divergiram sobre matérias de fé e passaram a nutrir ojeriza um pelo
outro. Com a chegada do doutor em Princesa e o estabelecimento de seu namoro
com a bela Dulce - filha do comerciante e capitão reformado Erasmo Campos -
estabeleceu-se nova querela entre ambos, o que culminou com o assassinato de
Ildefonso.
O delegado Manoel Florentino de Andrade, mais conhecido por
Neco Florentino, era apaixonado por Dulce, que o rejeitou como namorado.
Insatisfeito com a preterição, Neco, mesmo assim, continuou assediando a moça.
Esta, com a chegada do jovem médico a Princesa, em fins de 1900, por ele
apaixonou-se – amor à primeira vista – e com ele se casou em março de 1901.
Insatisfeito por ver sua preferida nos braços de outro, Neco jurou vingança e,
para tanto, encontrou no padre Pitta, um aliado perfeito porque sempre ávido em
fazer o mal.
O maligno sacerdote viu também aí a oportunidade de vingar-se
de Ildefonso pelas divergências antigas, e passou a urdir, junto com o
delegado, sob os olhares complacentes das demais autoridades, o assassinato do
médico cearense, o que veio a acontecer em 06 de janeiro de 1902. Morto
Ildefonso, foi enterrado em cova rasa e, sem nenhuma punição para os executores
do crime (Neco Florentino e José Policarpo), tampouco para o padre que urdiu
tudo, o caso ficou por isso mesmo.
Logo após o assassinato do doutor Ildefonso, os autores do
crime morreram acometidos da Febre Amarela. Nonato Pitta foragiu-se para a
capital do Estado e foi se esconder debaixo da batina do bispo Diocesano da
Parahyba, dom Adauto Aurélio de Miranda Henriques. Sem punição alguma o
sacerdote foi designado para destacar numa paróquia erma no interior da Bahia
e, depois para a cidade cearense de Brejo Santo onde participou da urdidura do
assassinato do coronel Chico Chicote, em 1927, na chamada “Tragédia das
Guaribas”.
Pela fotografia acima dá para ver - pela fisionomia debochada
- que esse padre, ao invés de ser um Cura d’Almas, agia como se fora um
cangaceiro, agente do mal que se comprazia em promover tragédias. Dissimulado,
bajulador e interesseiro, o padre Manoel Raymundo de Nonato Pitta adorava uma
confusão. Era como se sentisse com isso um prazer mórbido. Morreu em
Barbalha/CE de causas naturais e, pelo comportamento que adotou durante toda
sua vida, com certeza deve estar ardendo nas profundezas do inferno.
*Para saber mais sobre o padre Pitta e o crime que
ceifou a vida do doutor Ildefonso Augusto de Lacerda Leite, são leituras
indispensáveis os livros: “A Tragédia de Princesa” da historiadora, Cristina
Couto e “Amor, Pecado e Sangue – 5 Crimes que Abalaram Princesa” de autoria
deste que escreve, Domingos Sávio Maximiano Roberto.
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