Há exatos 93 anos acontecia a última refrega da Guerra de
Princesa entre os cabras do coronel Zé Pereira e a Polícia paraibana. Foi no
amanhecer do dia 24 de julho de 1930, faltando dois dias para o assassinato do presidente
João Pessoa, fato que determinou o fim daquele conflito, conhecido também como
a Revolta de Princesa, reputado uma das maiores guerras civis já acontecidas no
interior do Brasil, o que, para muitos historiadores e alguns analistas
políticos, foi o estopim da Revolução de 1930.
Exauridos, ambos os lados (Zé Pereira e João Pessoa), depois
de quase cinco meses de guerra, estavam faltos de víveres; armas e munições;
ânimo e recursos financeiros. O lado da Polícia do “vizinho Estado da Paraíba”
(era assim que o Jornal do Território Livre de Princesa se referia) estava em
situação ainda pior porque sem perspectiva de vitória, acabara de sofrer a
maior derrota daquele conflito quando um comboio saído da capital do Estado foi
emboscado na altura do Distrito de Água Branca sendo completamente desbaratado
com grande prejuízo de homens e material bélico.
Na manhã do dia 23 de julho daquele fatídico ano de 1930, o
comandante das forças paraibanas, o Secretário de Segurança Pública, José
Américo de Almeida, determinou a partida de um grupo de 20 policiais,
disfarçados de almocreves, tangendo uma manada de burros e mulas carregados de
armas, algumas munições e, principalmente, víveres (farinha de mandioca, carne
seca, açúcar, café, sabão, etc.) com destino ao Distrito de Tavares, onde se
achava sitiado pelos homens de Zé Pereira, um contingente da Polícia comandado
pelo capitão João Costa. Essa expedição saiu da sede do Estado Maior da Polícia
Militar estacionado nas imediações da cidade de Piancó. Partiram, em busca de
seu destino, via serra do Mocambo com entrada prevista pelo lado norte do
Distrito de Tavares.
Zé Américo, logo após a saída do comboio salvador, partiu
também em busca da capital do Estado com o intuito de se encontrar com o
presidente João Pessoa para confabular com o chefe do governo paraibano sobre
uma solução para pôr fim naquele que considerava, inglório conflito. Levava na
bagagem a terrível sugestão de uma sucumbência em face da inviabilidade da
continuidade daquela guerra. De acordo com o Secretário, nada se podia mais
fazer. A tropa desestimulada, deserções aos montes, escassez de armas e
munições e, perspectiva alguma de uma vitória. No entanto, ao chegar na cidade
de Campina Grande, recebeu a notícia do assassinato do presidente paraibano.
Enquanto isso, em que pese as dificuldades por que também
passavam, os homens do coronel Zé Pereira, mesmo sem vislumbrarem uma vitória
definitiva sobre a polícia de João Pessoa, não passavam pelas dificuldades que
se abatiam sobre seus adversários. Para os contendores de Princesa não faltava
comida; armas e munições eram suficientes porque novas e de primeira qualidade
e, o que mais preocupava a Zé Américo: o moral dos chamados “Libertadores de
Princesa” estava nas alturas, pois, das batalhas empreendidas, em quase todas
os homens de Zé Pereira lograram êxito.
Com seu serviço de espionagem em pleno funcionamento, o
coronel de Princesa recebeu uma carta de Piancó (em papel timbrado da Mesa de Rendas,
onde trabalhava o princesense, Joaquim Sérgio, cunhado de Nominando Muniz Diniz),
dando conta de que uma tropa de animais, comandadas por policiais disfarçados
de almocreves, estaria se deslocando de Piancó para socorrer, com gêneros
alimentícios, armas e munições, aos homens estacionados e sitiados em Tavares.
Imediatamente, o coronel determinou a formação de um grupo de 30 homens que,
transportados em um velho caminhão, liderados por Luiz do Triângulo, Manoel
Lopes “Ronco Grosso” e Horácio Virgulino, partiram para procederem uma
emboscada com o intuito de impedir a chegada desse socorro aos homens de João
Pessoa. Não sabendo a data exata da expedição policial, os cabras de Zé Pereira
aguardaram, em uma fazenda próxima de Tavares, por mais de cinco dias, pela
chegada daquela remessa, à entrada daquele Distrito, o que o fizeram sob a
proteção e o acolhimento de alguns amigos do coronel.
Na madrugada do dia 24 de julho, antes de o sol aparecer, os homens do coronel escutaram o tropel dos animais que se aproximavam da entrada do Distrito de Tavares. Usando a mesma estratégia adotada na emboscada de Água Branca, deixaram que os animais de aproximassem e, quando a metade já havia passado, deflagraram intenso tiroteio que pôs mortos 17 dos 20 policiais que tangiam a manada de burros e mulas. Dos cabras do coronel, caíram mortos quatro dos trinta que participaram da operação: João de Santa, Manoel de Amância, Cícero Lopes e Virgulino José Ferreira Além dos homens, foram vitimados também alguns dos animais. Depois do tiroteio, os emboscadores recolheram o que restou e transportaram tudo para Princesa no caminhão que os conduziu para essa operação.
Chegados de volta a Princesa – na noite daquele 24 de julho -
os chefes da emboscada prestaram contas ao coronel Zé Pereira e foram descansar.
Qual não foi a surpresa quando, à tardinha do dia 26 daquele mês de julho –
dois dias depois da vitoriosa operação -, chegou a notícia do assassinato de
João Pessoa, o que ocorreu na Confeitaria Glória no Recife, quando o presidente
foi vitimado por três disparos de revólver, à queima roupa, deflagrados pelo
advogado João Duarte Dantas. Com a morte de João Pessoa, o coronel determinou o
cessar fogo em toda a extensão de seus domínios, restringindo a prontidão em
armas apenas na sede do município de Princesa em defesa de si, de seus familiares
e amigos. Esse registro histórico, da lavra do historiador princesense, Paulo
Mariano, contido informações do também conterrâneo, Zacharias Sitônio, dá conta
do que foi a última batalha da Guerra de Princesa.
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