No afã em promover um aggiornamento nos costumes da Igreja Católica, o papa Francisco deu um pitu na ortodoxia doutrinária e, das palavras, passou à ação quando emitiu um documento, ontem (18), numa decisão histórica, em que autorizou aos padres abençoarem casais do mesmo sexo. Como que para atenuar o impacto dessa decisão que, certamente, incomodará sobremaneira à Cúria Romana e aos católicos conservadores, o Pontífice deixou a cargo de cada sacerdote a opção em abençoar os casais gays ou não. No entanto, foi taxativo ao dizer: “Ninguém pode proibir homossexuais ou transgêneros de frequentarem as Igrejas”.
De pouco a vagar, nesse final de reinado, Francisco vem afrouxando regras e punindo os que o criticam por isso. Recentemente o papa expulsou o cardeal americano Raymond Leo Burke de sua residência no Vaticano. O prelado vinha criticando as ações do Papa e discordando de suas determinações. Demitiu também o bispo do Texas, Joseph Strickland por discordar de suas posições progressistas e, aos que ensaiam insurgimentos dissonantes, o Papa disse, em tom misericordioso: “Não podemos ser juízes que apenas proíbem. Deus acolhe a todos”. Que se incomodem os conservadores, Francisco segue impávido.
Essa autorização papal é contida, ao mesmo tempo, de dois elementos cruciais para a Igreja: misericórdia e hipocrisia. Misericórdia quando promove uma aproximação da Igreja com o grupo LGBTQIa+ e, hipócrita, quando autoriza a bênção, mas não reconhece as uniões homoafetivas. Aos 87 anos de idade – completados no último domingo (17) -, Francisco chuta o pau da barraca quanto a um tema que sempre foi tabu dentro dos muros do Vaticano - talvez o lugar no mundo que concentre o maior número de homossexuais. Louvável sua coragem de enfrentar preconceitos e, já no apagar das luzes de seu pontificado, trazer à luz as mazelas de sua Igreja, santa, mas também pecadora.
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