ODE

domingo, 10 de março de 2024

Domingo eu conto

 

Pro Domingos Sávio Maximiano Roberto

O homem, o menino e o galo

Ela ficou órfã de pai e mãe aos 5 anos de idade e foi criada pelas irmãs carmelitas no orfanato “São José”, em Princesa. Maria Alice, a quem chamavam de “Licinha” desde pequena, somente saiu dos cuidados das freiras aos 17 anos para casar-se com um viúvo da cidade de Flores/PE, chamado Cazuza, a quem apelidavam de “Zuza”. O homem era um senhor de meia idade e dono de muitas posses. O casamento de Licinha durou somente 10 anos. Com a morte do marido, sem filhos, tocou para ela, como herança, somente a casa onde morava com o marido e uma gorda pensão. O resto dos bens foram divididos com os filhos do primeiro casamento de Zuza. A morte do esposo de Licinha deu o que falar. Comentavam pelas esquinas de Flores que, depois de tomar um chá, Zuza foi acometido de uma sudorese intensa, começou a arroxear e esticou a canela, ali mesmo, recostado a uma espreguiçadeira, na varanda de sua casa. O velho, frugal no comer, não fumava e era abstêmio de bebidas alcoólicas, no entanto, diziam as más línguas que Zuza tomava umas injeções compradas no Japão para lhes dar mais sustança na cama.

Viúva aos 27 anos, Licinha não quis mais casar, mas também, não saiu da farra. Era uma mulher bonita, tanto de rosto quanto de corpo. Alta, branca, esbelta, seios fartos, quadris largos, coxas grossas, e elegante no andar. Em que pese ser uma mulher a quem chamavam de “reboculosa”, mantinha-se com ares de respeitada. Além de assídua frequentadora da Igreja Católica, era uma generosa contribuinte para as coisas da paróquia e muito amiga do vigário Renato Guerra, a quem chamavam de padre Guerra. Depois da morte do marido, Licinha fez-se vaidosa e passou a desfilar, de sua casa para a igreja, entonada em trajes provocantes que realçavam as curvas de seu belo corpo. Há quem diga que a jovem mulher sofria de compulsão orgástica, o que, a grande custo conseguiu controlar quando ainda casada. Livre do casamento, resolveu dar vazão à sua fremente vontade sexual.

Depois de pouco mais de um ano do falecimento de Zuza, Licinha começou a namorar um vaqueiro chamado Lucas que trabalhava nas terras do falecido. Lucas era um homem de forte compleição física, rude, semianalfabeto e com fama de valente. Devia satisfazê-la muito bem na cama, porém, tolhia seus passos com um ciúme doentio. Mesmo gostando do cabra, Licinha já se sentia incomodada com a possessividade dele e com sua consequente falta de liberdade. O único lugar que podia frequentar sem problemas era a igreja e, o pior, é que Lucas aparecia em sua casa de supetão. Quando ela menos esperava, o homem chegava, usando sempre o efeito surpresa em monitoramento de sua vida. A mulher, embora apaixonada, já se arrependia de haver deixado esse relacionamento se tornar tão intenso. Licinha não era mulher de um homem só.

Certa vez, Lucas chegou à casa da amante e a encontrou conversando com um rapaz que vendia galinhas. Mesmo não vendo ali nada que denotasse interesses outros, o homem fez uma cena de ciúmes e expulsou o moço da casa de Licinha. Sem ter o que fazer, a mulher pôs-se a chorar, mas, enquanto o homem descuidou-se um pouco, ela piscou um olho para o rapaz indicando que voltasse depois. Dito e feito. O jovem saiu da casa da mulher, mas ficou à espreita numa esquina próxima e, quando Lucas saiu, montado em seu cavalo, o rapaz retornou à casa da viúva. Adentrou, e ela, foi logo perguntando: “Como é seu nome?” “Meu nome é João, mas todo mundo me chama de ‘Joãozinho’”, respondeu o rapaz. “O que você faz da vida, além de vender galinhas e, quantos anos você tem?” “Eita quantas perguntas!” Reclamou Joãozinho. “Eu trabalho na roça ajudando meu pai e tenho 18 anos”, disse o jovem, e continuou: “A senhora quer comprar galinhas?” “Sente, meu filho, você quer um café?” Disse a mulher, desinteressada das aves, indicando uma das cadeiras da sala.

Sentado, o rapaz dispensou o café e correu o olhar pelo ambiente como que avaliando onde estava. “A senhora mora com aquele homem?” Perguntou Joãozinho. “Não, eu moro sozinha, mas ele vem aqui de vez em quando”. “É seu namorado?” “Mais ou menos”, respondeu Licinha. “E as galinhas, vai querer?” Insistiu o rapaz. “Quero você, Joãozinho” e com isso foi desabotoando a blusa e mostrando os belos seios ao rapaz que, a essa altura, já estava embasbacado com a situação. Desmontando peça por peça de seu vestuário, de repente, a bela mulher estava completamente nua e, ao se aproximar do rapaz, tomou uma de suas mãos e a pôs entre seus seios e, guiando o membro do moço, desceu até que o fizesse apalpar suas coxas e sua genitália. Após esse contato inicial, pegou na mão de Joãozinho e o levou para o quarto, jogou-se na cama e mandou que o rapaz se despisse. Joãozinho, atordoado e excitado ao extremo, começou a tirar a roupa e quando já completamente nu, antes de se deitar com Licinha, ejaculou sem se tocar. Estavam juntas aí, a fome com a vontade de comer. Mesmo já havendo tido o orgasmo, o rapaz satisfez o desejo de Licinha que montou nele gemendo de prazer.

Consumado o ato, a mulher mandou que o menino fosse tomar um banho. Já vestido e pronto para ir embora, o rapaz, com as galinhas às mãos, ouviu a campainha da casa tocar. Licinha foi ver quem era, mas antes de abrir a porta, entocou o moço dentro de seu guarda-roupas. Sem entender nada, ainda atarantado, Joãozinho acedeu com o escondimento. Passados alguns minutos, mais um homem foi também trancado no guarda-roupas: “Fiquem aí os dois e não deem um pio, o Lucas voltou!” Disse a mulher, trancando a porta do móvel. Lá dentro do guarda-roupas, o rapaz foi logo perguntando: “Quem é o senhor?” “Não interessa, rapaz, fique calado!” Respondeu o homem. Cochichando, Joãozinho disse: “Me compre este galo” e levantou um galo preto apresado pelo pescoço. O homem disse: “Eu vou lá comprar galo, menino...” “Se o senhor não me comprar este galo eu solto o pescoço dele, ele grita, e o homem mata nós dois”. “Quanto é o galo?” Perguntou o homem. “50 reais” respondeu Joãozinho. “Tá comprado, tome o dinheiro, mas segure o bicho aí”.

Galo vendido, o rapaz botou o dinheiro no bolso e disse: “Me venda o galo”. “Oxente, menino, eu comprei o galo nesse instante e tu já quer me comprar o bicho?” “Ou o senhor me vende o galo ou eu solto o gogó do bicho.” “Tá bom, eu vendo pelos mesmos 50 reais”. “Não!” Disse o rapaz: “Eu dou 10 no galo”. “Oxente, e eu vou perder 40?” Espantou-se o homem. “Vai! Ou então, eu solto o...” Antes de o rapaz completar a frase já manjada, o senhor disse: “Tá feito o negócio, me dê os dez”, ao que o menino, disse: “Não tenho trocado, fico lhe devendo”. Nesse instante, Licinha abriu a porta do guarda-roupas e disse: “Podem sair, o homem já foi embora, veio aqui somente pegar umas esporas”. Saindo do móvel, Joãozinho foi logo dizendo: “Até mais, dona Licinha, depois eu volto”. “E as galinhas, não quer vender?” Perguntou a mulher. “Não, não, eu já vendi” e foi embora apressado. Atônito, o colega de guarda-roupas de Joãozinho virou-se para Licinha e disse: “Esse menino é doido! Ele me vendeu o galo a dinheiro por cinquenta reais e, depois, me chantageou e me fez vender o galo a ele, por 10 reais e fiado. Me roubou 50 reais e o galo!” Aturdida com essa estória, Licinha comentou: “Não estou entendendo nada”.

Sem querer esticar essa conversa, o homem foi logo se aproximando da mulher e começou a acariciá-la. Esquiva, Licinha o afastou dizendo: “Não! Hoje não. Estou com dor de cabeça e com medo de Lucas voltar de novo, acho que ele tá desconfiado. É melhor você voltar amanhã”. “Mas, você me disse que hoje daria certo justamente porque ele iria pro sítio...” Disse o homem, e continuou: “Estou achando você muito esquisita...” Sem dar atenção ao comentário, a mulher, que estava sentada, levantou-se e disse: “Vou passar um café para nós”. Não, não é preciso, eu já estou voltando para minhas obrigações”. Já se dirigindo à porta de saída, o homem virou-se para Licinha e perguntou: “Por que você escondeu o rapaz das galinhas no guarda-roupas? O que há de errado em vender galinhas?” A viúva respondeu: “Nada não, só precaução, você sabe como Lucas é ciumento; de tudo ele desconfia”. Dizendo isto, Licinha despachou o homem com um rápido beijo em sua face.

No dia seguinte, logo cedo da manhã, Joãozinho estava na mesma esquina do dia anterior olhando para a casa de Licinha. Por volta das sete horas, o rapaz viu Lucas sair da casa da viúva. Esperou o homem desaparecer no fim da rua e apressou-se em chegar à casa da mulher. Tocou a campainha e logo viu a porta abrir-se. À sua frente, Licinha, vestida numa camisola branca e transparente, deixando à mostra toda a graça plástica de seu corpo. “Bom dia, Joãozinho, cadê as galinhas?” O rapaz sorriu, saudou a mulher, adiantou-se para se encostar nela e disparou: “Hoje, a minha galinha é você!” E foi logo procurando a boca da viúva para beijá-la. Sôfrego, Joãozinho a beijou intensamente e desceu, a lamber, lentamente, os bicos de seus seios túrgidos enquanto enfiava a mão entre suas coxas. Loucos de desejo, partiram, os dois, para o quarto e lá, o rapaz e a viúva se amaram, num frêmito voraz, satisfazendo um desejo incontido: “Nunca tive um homem como você!” Disse a mulher. “E eu, que não conhecia o corpo de uma mulher, me completo dentro de você. A senhora é a coisa mais gostosa que já aconteceu na minha vida!” E assim, passaram quase toda a manhã no gozo de gostosa conjunção carnal.

Dois dias depois, num domingo, Joãozinho, com a consciência pesada por haver enganado o companheiro de guarda-roupas, resolveu ir à igreja, assistir à missa e se confessar. Depois da celebração, apesar da fila, aguardou a sua vez para ajoelhar-se ao confessionário e contar o seu pecado. Chegada a sua vez, o rapaz ajoelhou-se, persignou-se e disse: “Padre, eu quero confessar um pecado”. “Diga meu filho, conte suas culpas”, respondeu o padre de dentro do confessionário. “Padre eu roubei um homem” disse o moço. “Como assim, meu filho?” Inquiriu o reverendo. “Vendi um galo por 50 reais e obriguei o homem a me vender de volta, o mesmo galo, por um preço inferior e não paguei a ele, nem entreguei o galo”, confessou o rapaz. “Como é a história? Foi você, seu ladrão, que me enganou dentro daquele maldito guarda-roupas?!” Disse o padre quase a gritar, e completou: “Como ousas vir me dizer isso aqui na igreja, que falta de respeito!” Tentado acalmar o vigário, Joãozinho disse: “Calma, padre, pelo visto, o seu pecado é maior do que o meu! O que o senhor estava fazendo na casa de Licinha? É amante dela também, né?” Possesso, o padre saiu do confessionário e, aos gritos, expulsou o rapaz da igreja.



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