O ex-governador Ricardo Coutinho, após seis anos fora do
poder quando foi também denunciado pelo Ministério Público à Justiça paraibana
pela contratação de empresa para produzir dossiês contra conselheiros do TCE/PB
– Tribunal de Contas do Estado da Paraíba, sua situação, que já era difícil, se
agravou ainda mais a cada desdobramento das investigações da “Operação
Calvário” que apura atos de corrupção praticados em suas duas gestões como
governador do Estado. Denúncias quanto ao uso indevido do dinheiro público
quando desviou recursos da saúde e da educação para pagar compras e serviços
que lhe valeram altas propinas pagas pelas empresas favorecidas.
Ricardo Coutinho, que se arvorava de paladino da moralidade
quando dizia que tudo estava podre na Paraíba e quando defendia o direito dos “filhos
dos pobres” à educação e, aos desamparados, uma saúde de qualidade, destacou-se
nessa voluntariosa e enganosa propaganda, conseguindo ludibriar a todos e
alcançar o poder quando desbancou as oligarquias às quais tanto atacou. Certo
dia, quando mudava os canais da televisão buscando noticiários ouvi o nome “Paraíba”
e parei. Era na Globo News, noticiando sobre nova denúncia contra o
ex-governador. Num átimo, me lembrei de um romance que li, ainda muito jovem,
intitulado “Triste fim de Policarpo
Quaresma”, de autoria do escritor carioca Lima Barreto, publicado em 1915.
Essa obra trata do nacionalismo e patriotismo de seu
personagem principal, Policarpo Quaresma, ativista exaltado que defendia um
Brasil mais igualitário e atacava a chamada sociedade burguesa que só se
preocupava com seus interesses. Quaresma, que morava com sua irmã Olga, que o
chamava intimamente de “Poli”, tinha um, sonho: um país esplêndido. As
coincidências falam por si quanto aos primórdios das comparações e a
similaridade de apelidos. Ricardo Coutinho, nascido na capital paraibana, desde
cedo exerceu militância política. Inicialmente na escola e depois nos
sindicatos. No falso afã de promover mudanças em prol de um país melhor e de
uma Paraíba mais justa, mobilizou estudantes e trabalhadores através de suas
propostas inovadoras e conseguiu ser eleito vereador por três mandatos
consecutivos e duas vezes deputado estadual.
Começou no PT e terminou no PSB. Por este Partido foi eleito
e reeleito prefeito da capital, João Pessoa, e governador do Estado também por
duas vezes. Alcançou essa ascensão tão rapidamente embasando seu discurso na
igualdade, moralidade, honestidade e outros “dades”. Criticava as oligarquias
políticas tradicionais que, encasteladas no poder há muito tempo, enriqueciam
ilicitamente através do surrupiamento do dinheiro do povo. Ninguém pode negar
que fez administrações organizadas (em termos de organização é um craque) e
pródigas em obras importantes que lhe renderam dividendos, mas que terminaram
lhe prejudicando fortemente quando, após perder o poder, abandonado pelos
amigos e correligionários viu-se com a Justiça em sua cupira.
As ações de Coutinho em prol da saúde e da educação -
malgrado os altos gastos dispendidos com essas duas importantes atividades – não
trouxeram resultado para o povo quanto foram salutar para si, para seu irmão
Coriolano - a quem chama carinhosamente de “Cori”- e para alguns amigos e
auxiliares mais próximos. Foi nesses dois setores da administração [saúde e
educação] onde grassou o grosso da corrupção. Segundo os investigadores da
“Operação Calvário”, foram mais de 134 milhões de reais desviados em pagamentos
de propinas. Hoje, o nosso “Poli” se encontra novamente denunciado; já foi
preso e solto e, agora, monitorado por uma tornozeleira.
O sonho do “Poli” da Paraíba vem se tornando um pesadelo quando, ao invés de continuar defendendo os filhos dos pobres (termo sempre de seu agrado), tanto ele quanto “Cori”, deixaram de ser filhos de pobres para se transformarem em ricos pobres-diabos da política paraibana. “Poli” e “Cori” são dois dos principais personagens da derrocada dessa ambiciosa obra intitulada: “Projeto de poder da esquerda socialista da Paraíba”. Hoje, o ex-governador se encontra no limbo da política paraibana. Já tentou se eleger prefeito da capital de novo e só conseguiu ficar em um mísero 6º lugar. Buscou, nas urnas, um mandato de senador, nas últimas eleições, amargou um ridículo 4º lugar. Sozinho, o nosso “Poli” é uma página virada. É o triste fim de Policarpo Quaresma.
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