CHICO ANTAS E O JUMENTO
O ano era 1973. Prefeito de Manaíra/PB, Francisco Antas fazia
uma boa administração. Embora com pouquíssimos recursos, Chico Antas, como era
chamado por todos, calçava ruas, pagava ao funcionalismo em dia, construía
grupos escolares na Zona Rural, dentre outras atividades administrativas. Além
disso, era respeitado pela população. Homem de comércio, havia sido eleito
graças ao seu bom relacionamento com todos, uma vez ser pessoa pacata, de
temperamento cordato e muito direito em seus negócios.
A fiscalização
Certo dia, o prefeito recebeu, logo cedo, a visita de
auditores do Tribunal de Contas do Estado da Paraíba para verificarem as contas
da Prefeitura. Chico Antas os recebeu com educação e presteza, colocando um
servidor público à disposição dos mesmos. Os auditores solicitaram todos os
livros de registros da Prefeitura. O funcionário, disciplinado, trouxe tudo o
que existia de documentação e colocou em cima da mesa daqueles agentes estaduais.
Analisando a papelada, um dos auditores reclamou a ausência do livro com os
registos das movimentações financeiras e contábeis. O servidor informou que
esse livro não existia. Com isso, os fiscais pediram a presença do senhor
prefeito para dar-lhes explicações.
Justificativa do prefeito
Atendendo à convocação, Chico Antas compareceu para justificar
a razão do sumiço do referido livro. Um dos auditores começou a inquirição:
- “Seu” Francisco, o senhor pode me explicar sobre a ausência
do livro de registro das movimentações financeiras e contábeis da Prefeitura?
Chico Antas pigarreou e começou a contar a história:
- Meu senhor, a história é meio comprida. Ano passado, deu
uma chuva muito grande aqui em Manaíra e, o “agerol” da tesouraria estava
estragado - por irresponsabilidade de meu antecessor - e água caída da chuva
molhou todos os papeis daquela sala. No outro dia, eu mandei botar tudo na
calçada, para secar ao sol. O funcionário botou os livros lá e se esqueceu
deles. Acontece que apareceu um jumento faminto e comeu o livro da
contabilidade. Os outros estão todos aí.
Com ar de surpresa, o auditor perguntou:
- Mas, “seu” Francisco, o jegue só comeu o livro da
contabilidade?
O prefeito respondeu:
- Pois é doutor, o jumento não sabia ler, né?
Os auditores se entreolharam como que desconfiando da
veracidade da história contada pelo Prefeito e, um deles, disse:
- Pois é, senhor Prefeito, providencie ajeitar esse tal de
“agerol”, mande prender esse jumento e compre outro livro para a contabilidade
do município.
Dada à fama de honesto de Chico Antas, a única punição foi
essa admoestação e os auditores partiram de volta para a capital do Estado.
(Escrito por Domingos Sávio Maximiano
Roberto, em 06 de dezembro de 2019).
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