ODE

quarta-feira, 11 de março de 2020

“COMPLEXO DE VIRA-LATA”





“Complexo de Vira-lata” é uma expressão criada pelo dramaturgo e escritor pernambucano do Recife, Nelson Rodrigues, cunhada em 1950 quando da derrota da Seleção brasileira de futebol para o Uruguai na final da Copa do Mundo daquele ano. Justificando a expressão criada, Rodrigues afirmou: “Por ‘complexo de vira-lata’ entendo eu a inferioridade em que o brasileiro se coloca, voluntariamente, em face do resto do mundo. O brasileiro é um narciso às avessas, que cospe na própria imagem. Eis a verdade: não encontramos pretextos pessoais ou históricos para a autoestima.”.

O “mito” do “viralatismo”

O que vimos no Brasil de hoje, desde a posse do Messias é uma subserviência, travestida de “alinhamento automático”, do nosso país com os Estados Unidos da América. No início dessa “nova era”, mesmo antes de esse governo começar, o “mito”, empreendeu viagem de beija-mão ao chefe do conservadorismo mundial, Donald Trump, ocasião em que já chegou lá se ridicularizando quando prestou continência à american flag. Depois, já como presidente do Brasil, em sua primeira viagem oficial aquele país, desmanchou-se em mesuras “viralatistas” ao comandante do “Tio Sam” e, numa rompante bajulatória anunciou que a partir dali, nenhum americano careceria de visto para entrar no Brasil. Nesse caso, Bolsonaro se olhou no espelho por detrás corroborando o narcisismo às avessas pontuado por Nelson Rodrigues, pois, Trump na contramão da atitude benevolente do “mito” (numa expressão usada por nós nordestinos), “nem deixou o defunto estourar o fel” e começou a deportar brasileiros que se encontravam em situação ilegal nos EUA. Hoje são mais de 500 os repatriados à força e despejados aqui de volta por ordem do guru do nosso presidente.

Alinhamento condicional e produtivo

Como se não bastasse, Bolsonaro continua em sua prática “vira-lata” quando determina ao nosso embaixador na Organização das Nações Unidas orientação inquestionável quanto ao alinhamento automático do Brasil também com as posições assumidas pelos EUA nas votações na ONU. Ali, até a chegada do “mito” ao poder, apenas Israel era tido como aliado incondicional dos americanos, votando sempre como vota o “Tio Sam”. Hoje, Trump tem mais um aliado dependente de sua vontade nas votações daquele Organismo Mundial: O Brasil. A diferença é que Israel, em contrapartida, recebe bilhões e bilhões de dólares anuais dos EUA para manter, com soberania política, os interesses dos ianques naquela região conturbada do Oriente Médio. O primeiro ministro Benjamin Netanyahu pode apertar a mão ou dialogar com qualquer líder mundial, enquanto o “mito” fez-se desafeto de todos os líderes hermanos da América do Sul que não rezam na cartilha beligerante e do liberalismo americano. Quem não se lembra de Lula quando se fez amigo de Hugo Chávez e, ao mesmo tempo, de George W. Bush? Quem não se recorda de quando Lula, em passagem por Washington - tendo naquela viagem, como sua próxima parada, Cuba de Fidel Castro -, ouviu de Barack Obama a seguinte frase: “Você é o Cara!”? Alinhamento é até admissível, porém, automático, não! O perfilar-se de forma incondicional promove a desconstrução de toda uma história de política internacional construída pelo Itamaraty. Ajoelhar-se é temerário porque irresponsável, quando abdica de preservar posições que poderiam fortalecer os interesses do Brasil. O “viés ideológico” tão criticado pelo então candidato Bolsonaro, tem sido agora por ele usado como o instrumento preferido para vingar-se do PT e de Lula, em detrimento dos interesses da Nação.


(ESCRITO POR DOMINGOS SÁVIO MAXIMIANO ROBERTO, EM 11 DE MARÇO DE 2020).


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