“Complexo de Vira-lata” é uma expressão criada pelo
dramaturgo e escritor pernambucano do Recife, Nelson Rodrigues, cunhada em 1950
quando da derrota da Seleção brasileira de futebol para o Uruguai na final da
Copa do Mundo daquele ano. Justificando a expressão criada, Rodrigues afirmou: “Por ‘complexo de vira-lata’ entendo eu a
inferioridade em que o brasileiro se coloca, voluntariamente, em face do resto
do mundo. O brasileiro é um narciso às avessas, que cospe na própria imagem.
Eis a verdade: não encontramos pretextos pessoais ou históricos para a
autoestima.”.
O “mito” do “viralatismo”
O que vimos no Brasil de hoje, desde a posse do Messias é uma
subserviência, travestida de “alinhamento automático”, do nosso país com os
Estados Unidos da América. No início dessa “nova era”, mesmo antes de esse
governo começar, o “mito”, empreendeu viagem de beija-mão ao chefe do
conservadorismo mundial, Donald Trump, ocasião em que já chegou lá se ridicularizando
quando prestou continência à american
flag. Depois, já como presidente do Brasil, em sua primeira viagem oficial
aquele país, desmanchou-se em mesuras “viralatistas” ao comandante do “Tio Sam”
e, numa rompante bajulatória anunciou que a partir dali, nenhum americano
careceria de visto para entrar no Brasil.
Nesse caso, Bolsonaro se olhou no espelho por detrás corroborando o
narcisismo às avessas pontuado por Nelson Rodrigues, pois, Trump na contramão
da atitude benevolente do “mito” (numa expressão usada por nós nordestinos),
“nem deixou o defunto estourar o fel” e começou a deportar brasileiros que se
encontravam em situação ilegal nos EUA. Hoje são mais de 500 os repatriados à
força e despejados aqui de volta por ordem do guru do nosso presidente.
Alinhamento condicional e produtivo
Como se não bastasse, Bolsonaro continua em sua prática “vira-lata”
quando determina ao nosso embaixador na Organização das Nações Unidas
orientação inquestionável quanto ao alinhamento automático do Brasil também com
as posições assumidas pelos EUA nas votações na ONU. Ali, até a chegada do
“mito” ao poder, apenas Israel era tido como aliado incondicional dos
americanos, votando sempre como vota o “Tio Sam”. Hoje, Trump tem mais um
aliado dependente de sua vontade nas votações daquele Organismo Mundial: O
Brasil. A diferença é que Israel, em contrapartida, recebe bilhões e bilhões de
dólares anuais dos EUA para manter, com soberania política, os interesses dos
ianques naquela região conturbada do Oriente Médio. O primeiro ministro
Benjamin Netanyahu pode apertar a mão ou dialogar com qualquer líder mundial,
enquanto o “mito” fez-se desafeto de todos os líderes hermanos da América do Sul que não rezam na cartilha beligerante e
do liberalismo americano. Quem não se lembra de Lula quando se fez amigo de
Hugo Chávez e, ao mesmo tempo, de George W. Bush? Quem não se recorda de quando
Lula, em passagem por Washington - tendo naquela viagem, como sua próxima
parada, Cuba de Fidel Castro -, ouviu de Barack Obama a seguinte frase: “Você é o Cara!”? Alinhamento é até
admissível, porém, automático, não! O perfilar-se de forma incondicional
promove a desconstrução de toda uma história de política internacional construída
pelo Itamaraty. Ajoelhar-se é temerário porque irresponsável, quando abdica de
preservar posições que poderiam fortalecer os interesses do Brasil. O “viés
ideológico” tão criticado pelo então candidato Bolsonaro, tem sido agora por
ele usado como o instrumento preferido para vingar-se do PT e de Lula, em
detrimento dos interesses da Nação.
(ESCRITO POR DOMINGOS
SÁVIO MAXIMIANO ROBERTO, EM 11 DE MARÇO DE 2020).
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