Este é o momento em que estaremos todos nós testando a nossa resistência. A nossa rotina foi abruptamente interrompida. Nossos hábitos já não são os mesmos e nossas vidas entraram em um compasso de espera, segundo a segundo, passo a passo, numa espera onde apenas se tem a expectativa do pior e a certeza de que não há absolutamente nada a ser feito. Estamos sozinhos. E agora? Nós que reclamávamos da escassez de tempo estamos agora sem saber o que fazer com o seu excesso. Vivíamos em comunidade e hoje vivemos com nós mesmos. Não há uma única pessoa que nos impeça abrir a porta e caminhar com os nossos carros. Mas não há mais ruas, pelo menos por enquanto. As ruas sem pessoas assombram muito mais do que alegram. Elas agora nada mais são do que um amontoado de prédios perfilados, que mais parecem um exército de zumbis do que aquelas mesmas ruas que habitualmente nos serviam de caminho. Na verdade as ruas se transformaram em verdadeiras ficções, porque nelas não caminham as pessoas. As ruas desertas parecem tramar um certo pacto macabro contra os pretensos caminhantes. Resta a solidão. A leitura. A contemplação e o pensamento mais elaborado e profundo. E você, meu caro amigo que nunca cultivou o hábito da leitura, que nunca parou diante de uma obra de arte, mesmo para uma breve contemplação, que sempre debochou o conhecimento e o mundo interior das pessoas que você mesmo nunca conseguiu compreender, neste exato momento e diante do inimigo microscópico que lhe espreita na saída de sua casa, você realmente pode se orgulhar e dizer em voz alta, sabendo que ninguém vai lhe ouvir: eu estou sozinho e a minha solidão é destrutiva. Tenho pena das pessoas que achavam que a vida séria uma eterna confraria. Que não aprenderam a se bastar sozinhas. Que só sabiam rir imitando o riso alheio. Que guardaram a sua paz interior na "casa do amigo de bar". E o amigo não chega, ele não virá para lhe acudir porque padece do mesmo drama seu. E a caminhada ainda será longa, silenciosa e solitária. Principalmente para você que, ao longo da vida, conseguiu a proeza de ser um especialista em nada. Razão pela qual necessitava dos outros para conseguir viver, e não para compartilhar a vida.
Wellington Marques Lima
Valeu amigo Wellington. Extraordinária analise. Merece o prêmio "morcego de ouro", que indicarei o plenário do Tribunal de Ética para cerimonia de entrega.
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