Passados 90 anos dos acontecimentos que fizeram de Princesa – segundo avaliação do juiz aposentado, Valdério Siqueira de Vasconcelos -, “O chão mais histórico da Paraíba”, o que se constata hoje é o quase ostracismo de seus principais protagonistas, se não lá fora, pelos menos no âmbito de Princesa. É certo que, por iniciativa de José Pereira Lima Neto (Zé de Aloysio), está sendo organizado um “Memorial” em homenagem ao coronel Zé Pereira e a seu filho o ex-deputado estadual Aloysio Pereira Lima. Já não era sem tempo, porém, é pouco. A figura do coronel José Pereira Lima está para Princesa como a de José Bonifácio de Andrada e Silva está para o Brasil. O coronel é o pai da municipalidade. Há um merchandising de biscoitos que diz o seguinte: “Tostines vende mais porque é fresquinho ou é fresquinho porque vende mais?”.Parametrizando: “Zé Pereira é importante na história porque nasceu em Princesa, ou Princesa ganhou destaque histórico por conta de Zé Pereira?”. A segunda assertiva é mais condizente. É claro que a nossa terra fez-se importante no âmbito nacional graças às ações do coronelou, pelo que a ele chegou. Em 1930, Zé Pereira era o coronel mais destacado do Nordeste brasileiro. Sua influência política abrangia e reverberava por quase toda a metade oeste do estado da Paraíba. Além de coronel compatente da Guarda Nacional, o homem era quase bacharel em direito; deputado estadual por quatro legislaturas; cidadão abastado; muito influente na política paraibana e líder inconteste de toda a região polarizada por Princesa.
A vingança de João Pessoa
Essa importância do coronel de Princesa deu azo ao afã reformista do então presidente (governador) João Pessoa Cavalcanti de Albuquerque. Reformismo guiado por um sentimento de rancor e desejo de vingança, motivado por querelas passadas, que se pode ler como instrumento para o cerceamento da influência de Zé Pereira numa banda da Unidade da Federação chamada Paraíba. João Pessoa, quando investido da candidatura a presidente do Estado, já afirmou, ainda no Rio de Janeiro, quanto às suas intenções quando empossado: “Só irei com carta branca, Está tudo podre; só uma vassourada em regra poderia purificar a vida pública”. A alguns mais íntimos o futuro presidente da Paraíba confidenciou que, os primeiros a serem punidos, seriam: os “Santa Cruz” de Monteiro; os “Dantas” do Teixeira e o coronel José Pereira de Princesa.Como vemos, o propósito de João Pessoa era mesmo defenestrar Zé Pereira de sua posição de mando e acabar com sua influência política. Este resistiu o quanto pode às perseguições do novo presidente. Porém, em face da exclusão do nome do ex-presidente João Suassuna da chapa que concorreria nas eleições daquele ano (1930), o pote encheu e entornou. Daí veio o rompimento político e a consequente “Guerra de Princesa”. Esse movimento heroico que, além de não permitir a ocupação da cidade [Princesa] rebelada, deu a Zé Pereira a estatura histórica de quem foi protagonista de um movimento que contribuiu fortemente para a eclosão de outro movimento de maior monta: A Revolução de 1930. Nas palavras do político e historiador paraibano, Oswaldo Trigueiro de Albuquerque Mello, em seu seminal trabalho sobre a nossa história: “A Paraíba na Primeira República” pp. 108: “(...) Como seria de esperar, João Pessoa não se embaraçou com o desacordo da Comissão Executiva. Passando por cima desta, e ignorando a convenção do partido, apresentou sua chapa em manifesto que assinou sozinho, e em que demonstrava como concebia e praticava os poderes de chefe de governo e de partido. Era explicável que esse fato desse motivo à dissidência encabeçada pelos chefes sertanejos. Mas não era previsível que dela resultasse, em coisa de dias ou horas, o episódio de Princesa, que lançou a Paraíba na luta civil e tanto concorreu para a inevitabilidade da Revolução”.
Diante disso, fica patente a importância de Princesa em face da ação do coronel no contexto desses importantes acontecimentos, fazendo jus, sim, a homenagens maiores. Foi aqui que começou a Revolução de 30. Porque não um monumento em seu louvor na Praça central da cidade. Uma estátua em bronze (tal qual a de Epitácio Pessoa) e de corpo inteiro? A grande maioria dos nossos jovens sequer sabe quem foi o coronel José Pereira Lima. Do outro lado, o esquecimento é maior ainda. Trata-se de Nominando Muniz Diniz (“seu” Mano), o homem que assumiu o poder político em Princesa quando da queda de Zé Pereira com a chegada do novo poder emanado da Revolução de 30.este não tem sequer um busto exposto em uma das praças da cidade. A casa aonde sempre viveu se encontra fechada, abandonada. As posses deixadas por Nominando foram de grande valia para a formação de toda uma prole em 1ª e 2ª gerações, existindo ainda hoje alguns bens remanescentes por ele deixados e seus herdeiros, sequer fazem lembrar-se da sua existência e da sua importância na história política de Princesa. Com certeza, estão os dois maiores protagonistas da história da nossa terra, na outra dimensão, dizendo; “Esqueceram-se de Nós”.
(ESCRITO POR DOMINGOS SÁVIO MAXIMIANO ROBERTO, EM 31 DE MARÇO DE 2020).
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