Em toda a história da República brasileira, apenas dois presidentes sofreram impeachment: Fernando Affonso Collor de Mello e Dilma Vana Rousseff. Ambos por pura incompetência política e administrativa. O primeiro, que foi eleito como o primeiro mandatário da Nação após o obscuro período da ditadura militar, 31 anos após a última eleição direta para presidente, foi ungido pelas urnas aproveitando o vazio político imposto pelo regime de exceção que defenestrou, cassou e exilou toda uma geração de políticos brasileiros. Com um discurso inflamado, moralizador e contundente, Fernando Collor conquistou a simpatia popular, mesmo porque, de boa aparência física e vindo de uma inexpressiva Unidade da Federação [Alagoas] onde foi governador e ninguém tinha conhecimento de suas estripulias por lá, o povo, anestesiado com a boa performance do candidato e assustado com a possibilidade de Lula (O “Sapo Barbudo”) conseguir êxito nas urnas, votou no “Caçador de Marajás”. Apresentava-se como “candidato da sociedade civil” e apelava aos que assistiam seus comícios, dizendo de forma emocionada: “Não me deixem só”. Foi eleito com mais de 35 milhões de votos.Empossado, Collor começou logo com bravatas: “Vou derrubar ‘o tigre da inflação’ com um só golpe, um ‘ipon’”. ; “Meus preferidos são os descamisados”. Instituiu o “Plano Collor” que substituiu a moeda Cruzado pelo Cruzeiro Novo; confiscou poupanças; suprimiu vários ministérios, autarquias e fundações; vendeu empresas públicas; demitiu e pôs e disponibilidade milhares de funcionários públicos; reduziu restrições às importações, dentre outras medidas de peso. 18 meses depois, a inflação voltou e, na esteira desse gravíssimo problema, veio adenúncia-bomba do irmão, Pedro Collor, veiculada pela revista Veja, sobre a ocorrência de vários atos de corrupção no governo Collor. A Câmara Federal abriu uma CPI – Comissão Parlamentar de Inquérito para apurar os fatos. Inábil no campo das negociações políticas e detentor de comportamento arrogante quando imaginava ser inatingível, inatacável, sem apoio político, o presidente viu-se num mato sem cachorro. Foi afastado do Governo pelos deputados e, quando ia ser julgado pelo Senado Federal, em 29 de dezembro de 1992, renunciou ao mandato. 22 anos depois, foi considerado inocente - por falta de provas -, pelo STF – Supremo Tribunal Federal. Comprova-se com isso que Collor foi derrubado do podernão por comportamento corrupto (o que é prática comum no exercício de cargos públicos no Brasil), mas, por incompetência política e falta de capacidade de articulação, uma vez que, para o exercício do cargo de primeiro mandatário da Nação, num sistema presidencialista de coalisão e de compartilhamento como é o brasileiro, ninguém se sustenta sozinho. Tem de dividir o bolo. A avidez dos que dão sustentação política é tal qual a de quem tem o poder de distribuir. No tocante à pratica de governar no Brasil, Fernando Collor nada fez diferente dos demais que passaram pela presidência da República, apenas não soube fazer. A arrogância e a incompetência lhes tiraram do trono.
A mãe do “PAC”
24 anos depois da queda do “Caçador de Marajás”, aconteceu outro impeachment no Brasil. Esse, mais escandaloso ainda, pois, em não havendo motivos com amparo constitucional, acharam um, que tornou viável a retirada do poder, da primeira mulher que foi alçada à presidência da República do Brasil. Dilma Vana Rousseff nunca tinha ocupado um cargo eletivo. Amparada pelo bem avaliado presidente Lula, foi ungida como candidata a sucedê-lo no palácio do Planalto. No afã de torna-la conhecida e popular, o presidente deu-lhe a coordenação do PAC – Programa de Aceleração do Crescimento, cognominando-a de “A Mãe do PAC” e, com o vaidoso intuito de demonstrar liderança inconteste com a exacerbada arrogância do “posso, quero e mando”, sem considerar os atributos intelectuais, técnicos, políticos e de personalidade, necessários para que uma pessoa assuma cargo de tamanha relevância, ignorando tudo isso, Lula bancou a candidatura de sua “porta”, levou Dilma às urnas e a elegeu. Assumindo o cargo maior da Nação, a primeira mulher a ser ungida a esse desiderato, revelou-se comextrema incompetência para o exercício da função que lhe foi outorgada. Incapaz de conduzir as tratativas políticas, arredia ao convívio com os parlamentares, desatenciosa aos conselhos do ex-presidente e padrinho, arvorou-se de sabedora de tudo, começou a imaginar que ali chegara por méritos próprios e deu com os burros n’água. O único feito louvável da por muitos chamada de “anta”, foi desmantelar (não intencionalmente), o esquema de corrupção montado por Lula. Desmantelou também a economia e, sem habilidade para interagir com o Congresso Nacional, inviabilizou sua administração, perdeu apoios fundamentais e, enfraquecida politicamente, foi vítima de um impeachment por motivo fútil: “pedalagens” financeiras, igualmente cometidas por antecessores e que não deram em nada. Instalada uma CPI, foi considerada ré e afastada do governo por 90 dias. Julgada pelo Senado Federal foi condenada e perdeu o mandato em maio de 2016. Ficou para a história como o segundo mandatário da Nação a perder o cargo pelosfúteis motivos, chamados arrogância e incompetência.
O “mito”
Como sabemos todos, o atual presidente da República, Jair Messias Bolsonaro, foi também eleito numa situação especial, na esteira de várias denúncias de corrupção contra políticos tradicionais de várias nuances partidárias, num momento em que a imprensa nacional liderou uma campanha de desconstrução da classe política brasileira, colocando-os todos no mesmo patamar, no mesmo saco de gatos, o que possibilitou a emersão de aventureiros com discursos radicais, gestos ameaçadores e promessas mirabolantes. Bolsonaro, eleito sem fazer campanha convencional e, beneficiado por um atentado (ainda por muitos, considerado misterioso) que lhe deixou no leito de um hospital por quase toda a campanha, não fez comícios, não participou de debates televisivos, enfim, não disse a que veio. Baseou sua campanha eleitoral somente nas demonstrações agressivas de gestos com as mãos que sinalizavam com a permissão da posse de armas extensiva para todos. Seu veículo de comunicação preferido, sempre foi o que chamamos de “redes sociais”, através da internet. Não podemos por a culpa total no atabalhoado e beligerante candidato. Tivemos avisos, tanto dele quanto dos filhos, pois, em plena campanha, um deles falou: “Para fechar o Congresso Nacional, basta um cabo e um jipe.”. O povo estava anestesiado e deu no que deu.Agora, o que vemos é a realidade de uma situação pré-anunciada. Quase todos os dias, o nosso presidente, em constante demonstração de arrogância, incompetência e numa autodeterminação constante em desdourar o cargo que ocupa, chuta o pau da barraca, quando ataca governadores de Estados, critica os demais poderes constituídos, e, agora, nesse período especial que atravessamos, de Pandemia do Coronavírus, age como se não fosse o condutor do governo para o qual foi eleito, quando, publicamente, discorda das orientações de seus ministros e assessores, constrangendo a todos e provocando declarações de repúdio da grande maioria das autoridades do país. Toda vez que abre a cavidade oral, uma tragédia se configura, só fala asneiras. Ultimamente,Bolsonaro vem se superando na capacidade de mostrar-se incapaz para o cargo que ocupa. Ignaro como sabemos que é certamente não tem lido sobre a história recente da República e, com isso, está encaminhando seu próprio desastre, pois, a história que ele desconhece, tem mostrado que o remédio para presidentes incompetentes, é o impeachment. No caso do “mito”, tem uma agravante. No pensamento de cercar-se da garantia dos militares, encheu o palácio de milicos e, achando que deu uma cartada de mestre, chamou o general Hamilton Mourão para compor a chapa como vice-presidente. Pensava Bolsonaro, que Mourão seria mais um e que não poderia oferecer-lhe ameaça alguma. Tudo indica que Bolsonaro deu um tiro no pé. O que vemos hoje é um vice-presidente que vem se mostrando muito equilibrado em suas posições e comedido em seus comentários e que, nas entrelinhas de suas falas ou gestos, tem demonstrado que não concorda com o titular. Por ocasião da discussão de Bolsonaro com o governador de São Paulo, João Dória, na última reunião (em videoconferência) do presidente da República com os governadores da região Sudeste, o vice, que estava na cadeira ao lado, escutava os impropérios de Bolsonaro contra Dória e balançava a cabeça acenandonegativamente. Cuida-te, ou melhor, cala-te Bolsonaro, pois, as insatisfações já se fazem demonstrar que teu castelo é de areia e passável de desmoronamento. Repito: Nesse Brasil republicano, o remédio para os incompetentes, inaptos, incapazes e inábeis, é o impeachment. Parece que a hora do “mito” tá chegando.
(ESCRITO POR DOMINGOS SÁVIO MAXIMIANO ROBERTO, EM 27 DE MARÇO DE 2020).
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