ODE

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2021

Carta aberta do doutor Wellington Lima ao deputado Pedro Cunha Lima

 


Caro deputado Pedro Cunha Lima. Ontem, 19 de fevereiro de 2021, o Poder Legislativo deste país celebrou o dia da vergonha cívica, com o agachamento, ignóbil e vil, de suas prerrogativas constitucionais e o sacrifício de um de seus componentes para satisfação dos membros que fazem o STF. A história da ignomínia política brasileira tem seu macabro início com o golpe que fora arquitetado, em 1898, contra o mais ilustre e culto de todos os políticos desta terra. Refiro-me a Dom Pedro II. Golpeado pela canalha que pretendia manter os privilégios da escravatura e do domínio feudal sobre as terras brasileiras, Dom Pedro II foi posteriormente desterrado, e com ele foram as esperanças de um país que crescia em termos recordes, enquanto que aqui ficavam plantadas as sementes  de uma república que, à época, dizia-se ser o Éden da nova convivência social, que brotaria no então jovem pais das Américas, abençoado por Deus. Daquele fatídico dia do golpe dos positivistas, até o presente momento, este país viveu e vive sob o signo da incerteza, da desesperança e do fatiamento do Estado em favor dos donos do poder constituído. Multidões de trabalhadores saem todos os dias de suas casas, quando as possuem, para trabalhar, pagar os impostos mais caros e mais nocivos da Terra, e sequer terão a certeza de que voltarão vivos para o convívio com os seus familiares. Enquanto isso o Poder, que deveria representar o povo, não tem sequer a mínima dignidade de dizer que a Constituição Federal proíbe que um de seus membros possa ser entregue em sacrifício, quando o ordenamento jurídico interno clama aos homens e aos céus de maneira contrária. Vossa Excelência e o seu colega Wilson Santiago são exceções no espetáculo dantesco que infelizmente tive o desprazer de assistir no dia de ontem, e que fora "patrocinado" pelo Poder que deveria defender o povo e as suas liberdades intangíveis. A atitude de ambos honrou a Paraíba, o direito, as instituições jurídicas e o povo que ainda tem dignidade. Os que se comportaram, de maneira oposta, merecem o devido julgamento que somente a história poderá fazer com aqueles que desrespeitam todos os valores que deveriam ser o próprio fundamento da existência de cada um deles. Não há homens eternos. Nada é eterno na cosmovisão do universo, porque pelo princípio da entropia aquilo que teve início, um dia terá fim. A única coisa que beira a eternidade é a lembrança da virtude e de seu oposto. E no dia de ontem pude  divisar, com maior nitidez de detalhes, o abismo incomensurável que separa os homens de princípio com aqueles que absolutamente nada têm a acrescentar à humanidade. Receba as minhas fraternas congratulações, meus votos de êxito na vida pública e meus respeitos pela dignidade do gesto. Votos extensíveis ao deputado Wilson Santiago. 

Wellington Marques Lima

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