Aqueles da minha faixa etária (63 anos), ou superior, hão de
lembrar da plêiade de loucos que povoavam as ruas de Princesa. Tinha doido de
toda “versidade”. Estranhamente, num piscar de olhos do tempo, sem motivo que o
explique, esses malucos desapareceram completamente e de repente. Eram muitos,
e com comportamentos diversos: pacíficos, violentos, preguiçosos, perigosos,
chorões, divertidos, enfim, tinha doido para todos os gostos. “Maria
Bate-birro”, andava pelas ruas catando tudo que fosse imprestável e cozinhava
sua própria comida num fogo alimentado por pneus velhos; “Ana Pé-de-Banha”, uma
moça-velha que detestava esse apelido e esculhambava a quem assim a chamasse,
com palavrões cabeludos; “Zé Marcelino”, a quem chamávamos “Cágado Jabuti” e
recebíamos como resposta pedradas e carreiras; “Chico Raposa”, surdo-mudo,
vivia a varrer as ruas e a dançar, sem música, tapando as narinas com os dedos;
“Rasga-Mortalha”, uma velha magérrima que esculhambava a quem assim a chamasse;
“Mané Pitita”, filósofo: “Quem tem mãe
tem tudo, quem não tem mãe, não tem nada”, dormia, no cemitério,
acondicionado nos caixões de defunto destinados aos indigentes; “Cocó”, podre
de preguiça, vivia a pedir esmolas alegando que sofria de “preguiça recolhida”;”
Zé Miranda”, violento, que chegou a desacatar até o Juiz de Direito; “Zé
Grosso”, epiléptico, que, nas convulsões, corria atrás dos meninos pelas ruas
da cidade; “João Cuscuz”, vivia em desabalada correria pelas Rua Grande e Rua
Nova; “Maria Catabi”, com seus grandes peitos, caía com frequência e chorava
com facilidade; “Burra-cega”, de mãos dadas com outra doida – sua namorada -,
que tinha sempre uma boneca velha nos braços, atirava pedras em quem assim o
chamasse. Eram muitos, tantos, que farei dessa rememoração, uma série que
publicarei ao longo do tempo. Rogo aqui, aos que vivenciaram esses tempos, que
contribuam com mais informações sobre esse segmento folclórico e cultural da
nossa amada Princesa. Na verdade, esses loucos, que desapareceram misteriosamente,
não faziam mal a ninguém. Pelo contrário, divertiam e nos ensinavam a entendera efemeridade e a essência da vida.
DSMR, em 25 de fevereiro de 2021.
Você e como um flash visualizei cada um com a sua mania.Zé grosso na igreja pulou vários bancos até cair se batendo no chão.Chico Raposa..moreno, baixo e franzino, dançou muitoooo.Rasga Mortalha fazia parte de nossas histórias (Soraya Rosana eu e Bonca) quando sentadas no batente da praça da rua Nova as vezes até quando faltava energia a noite, tínhamos a nítida impressão de que ela acabara de sair do cemitério kkkkk ôôô saudade!!!!
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